quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
sábado, 26 de dezembro de 2009
A Festa: ecologia, paixão e morte
Chamar «tortura» ao toureio é «um insulto a todos os torturados da terra», escreve no diário «La Razón», de Valência, o filósofo francês Francis Wolff. (Imagem: Locky)
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
Por que é a festa de touros património imaterial da humanidade?
François Zumbiehl, director de Comunicação e Cultura da União Latina, uma associação internacional sedeada em França, aficionado e investigador de temas taurinos responde.
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
Uma reflexão
O Inverno traz consigo uma pausa que incita à reflexão. É tempo de estatísticas, de balanços e análises variadas. Há quem se fique pelas reflexões pela rama; outros vão ao cerne das questões e as conclusões a que chegam são sempre dolorosas.
Uma vez mais, dou por mim a pensar sobre o toureio em Portugal. Não cuido de saber se o toureio a cavalo à portuguesa perde terreno perante o rejoneo, nem qual o futuro do toureio a pé no nosso país, nem as últimas manobras dos anti-taurinos. Tento ir mais fundo, avançar para questões mais subterrâneas, às quais a grande maioria dos aficionados parece ser estranha.
Penso, por exemplo, nos toiros que se lidam em Portugal, e não posso deixar de me perguntar: que outro país do mundo em que a corrida está implantada, nega aos seus espectadores o direito de ver sair à praça toiros íntegros? Isto é, toiros como vêm do campo, sem estarem embolados ou com as pontas dos cornos serradas. Se o toiro é o centro do espectáculo – por isso se fala em touradas -, como admitir, sem uma profunda vergonha, a fraude que constitui a diminuição das suas defesas?
Como sustentar que o doping no desporto é uma vigarice e tolerar o serrote ou as embolas nos toiros?
Dizem-me que esta e outras particularidades são o resultado da existência de uma corrida de toiros «à portuguesa», com cavaleiros e forcados, diferente da outra corrida, dita «à espanhola». Contentar-me-ia com a explicação, se a lide «à espanhola» praticada nas nossas praças tivesse a verdade que o toureio implica. Mas o certo é que não tem, pela falta da corrida integral, com reses sem hastes manipuladas, com a sorte de varas e a morte do toiro na arena.
Em resumo: temos um «arranjo» do toureio e das suas normas à medida de cavaleiros e forcados, de que resultou a corrida «à portuguesa», e um toureio a pé dito «à espanhola», mas que foi, na prática, inventado pelos políticos e burocratas que proibiram a corrida integral entre nós. Com a complacência, claro está, dos pseudo-aficionados, pseudo-toureiros e de muitos outros ‘pseudos’ que por cá abundam.
Tudo espremido, o que resulta é a angustiante sensação de se estar à beira de um lago de mentiras, de que tantos, de tão embrenhados nele, não se apercebem ou não se querem aperceber. (Imagem: Cássio Mello)
Uma vez mais, dou por mim a pensar sobre o toureio em Portugal. Não cuido de saber se o toureio a cavalo à portuguesa perde terreno perante o rejoneo, nem qual o futuro do toureio a pé no nosso país, nem as últimas manobras dos anti-taurinos. Tento ir mais fundo, avançar para questões mais subterrâneas, às quais a grande maioria dos aficionados parece ser estranha.
Penso, por exemplo, nos toiros que se lidam em Portugal, e não posso deixar de me perguntar: que outro país do mundo em que a corrida está implantada, nega aos seus espectadores o direito de ver sair à praça toiros íntegros? Isto é, toiros como vêm do campo, sem estarem embolados ou com as pontas dos cornos serradas. Se o toiro é o centro do espectáculo – por isso se fala em touradas -, como admitir, sem uma profunda vergonha, a fraude que constitui a diminuição das suas defesas?
Como sustentar que o doping no desporto é uma vigarice e tolerar o serrote ou as embolas nos toiros?
Dizem-me que esta e outras particularidades são o resultado da existência de uma corrida de toiros «à portuguesa», com cavaleiros e forcados, diferente da outra corrida, dita «à espanhola». Contentar-me-ia com a explicação, se a lide «à espanhola» praticada nas nossas praças tivesse a verdade que o toureio implica. Mas o certo é que não tem, pela falta da corrida integral, com reses sem hastes manipuladas, com a sorte de varas e a morte do toiro na arena.
Em resumo: temos um «arranjo» do toureio e das suas normas à medida de cavaleiros e forcados, de que resultou a corrida «à portuguesa», e um toureio a pé dito «à espanhola», mas que foi, na prática, inventado pelos políticos e burocratas que proibiram a corrida integral entre nós. Com a complacência, claro está, dos pseudo-aficionados, pseudo-toureiros e de muitos outros ‘pseudos’ que por cá abundam.
Tudo espremido, o que resulta é a angustiante sensação de se estar à beira de um lago de mentiras, de que tantos, de tão embrenhados nele, não se apercebem ou não se querem aperceber. (Imagem: Cássio Mello)
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
José Casimiro Júnior
Un brindis a caballo, la más bella
flor de la portuguesa cortesía.
Cundo el toro arrancó, ya conocía
su obligación de conjugar su estrella
con el signo violento del jinete.
No supo de esto el rey Alfonso el Sabio?
A rematar la elíptica en un brete
no bastarán armellas y astrolabio?
Cometa vertical, el hierro agudo
en lo alto del morrillo hincó su agravio.
Torció el blanco caballo grupa y cola
y, al galopar arábigo y sonoro,
estalló al aire alegre banderola.
Gerardo Diego («La Suerte o la Muerte»)
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
Recordando Nicanor Villalta
O diestro Nicanor Villalta foi um expoentes da chamada Idade de Prata do toureio, que se estendeu desde a morte de Joselito, em 1920, até à Guerra Civil espanhola. Nascido em Cretas (Teruel) em 1897, Villalta não podia ser um dos toureiros estilistas (hoje chamar-lhes-íamos artistas) que abundaram naquela época. A sua elevada estatura impedia-o de emular com um António Márquez, um Gitanillo de Triana ou um Victoriano de la Sena. Contudo, o seu toureio de muleta tinha«bizarria e valor», no dizer de Cossío, e as suas estocadas eram impressionantes pela segurança e valentia.
Villalta, que se retirou do toureio em 1935, foi um dos protagonistas do documentário «Juguetes Rotos», realizado por Manolo Summers, em 1966. A preto e branco, o documentário vai ao encontro de antigas glórias do toureio, do futebol e do boxe, captando-lhes o que lhes resta da grandeza passada. São agora brinquedos quebrados (juguetes rotos), a viver em asilos ou em moradias tão velhas como eles.
Frente às câmaras, Nicanor Villalta vestiu-se de luces pela última vez, e lidou, aos 68 anos, um novilho, numa Monumental de Madrid deserta. Com que majestade o velho matador atravessa a arena de Las Ventas, palco de tantos dos seus triunfos... E com que toreria enfrenta o novilho, que no fim da inédita faena o colhe aparatosamente... Nicanor Villalta, exemplo de bravura e honradez profissional, morreu em Madrid, em 1980.
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
Coisas que inquietam
A imprensa taurina do país vizinho anunciou recentemente o fim de três antigas e famosas ganadarias de Salamanca: Atanásio Fernández, Clairac e Sanchéz Fabrés. A notícia seria sempre de lamentar, mas as considerações que sobre o assunto são feitas em alguns blogues, não podem deixar de inquietar os aficionados. Cito, traduzindo, o que se lê no blog Hasta el rabo todo es toro: "Em cada caso há motivos diferentes: problemas sanitários, económicos ou simplesmente será a lei da vida, esta em que os filhos herdam dos pais parte do genoma, dinheiros e fazendas, mas não a afición desmedida ao touro." No entanto, mais do que os problemas enunciados, a razão última da morte de certas ganadarias será o veto das actuais figuras, que preferem toiros mais fáceis - da linha Juan Pedro Domecq- e que oferecem maiores garantias de êxito. Prossegue o blog: "Como nos tempos do alemão baixinho e com franja, tudo o que não seja da 'raça superior' deve ser exterminado". Cada vez que uma dessas figuras mata um Juan Pedro, "está condenando à morte, por exemplo, a um atanásio num pestilento matadouro de Salamanca". (Foto: Manolete e Atanásio Fernández)
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
Da Rússia, com afición
Chama-se Loky, é pintora e vive em Moscovo. Declara-se encantada com a cultura, a história e as tradições de Espanha, entre elas a corrida de touros, como arte e como espectáculo. Para mostrar como os seus olhos de artista perspectivam o fenómeno taurino, criou o blog Loca un Poco, no qual se podem apreciar algumas magníficas aguarelas. Para ver e desfrutar.
terça-feira, 17 de novembro de 2009
Artista até de bicicleta
Foi uma das grandes esperanças dos aficionados
sevilhanos do início dos anos 80. E o caso não era para menos: Pepe Luis Vázquez Silva era filho do imenso Sócrates de San Bernardo, um dos mais perfeitos intérpretes do toureio natural, perfumado pelas florituras do duende, que dá fama à capital andaluza. Depois de uma alternativa de sonho - concedida por seu tio Manolo Vázquez, com o apadrinhamento de Curro Romero, em 1981 -, o jovem Pepe Luis não cumpriu as expectativas. Era (é) um toureiro de detalhes, de mão feita para os lentos voos da muleta, e não para a agressividade da estocada. Depois de faenas de arte pura, muitas orelhas se lhe foram por falhar com a espada. Embora não se tenha retirado oficialmente, os contratos foram decaindo. Pepe Luis Vázquez deixou de aparecer nos cartéis, dedicou-se ao ensino, na escola taurina de Sevilha, e a tourear em festivais. A revista «Taurodelta», da empresa que rege a praça de Las Ventas, entrevistou-o no seu último número, revelando um homem de vincada personalidade. Um toureiro de inspiração, sem a capacidade «fuera de lo normal» dos diestros de hoje, que «pegan pases a todos los toros». Toureiro na praça e en la calle, a quem alguém, vendo-o pedalar pelas ruas de Sevilha, disse: «hasta montado en bicicleta tienes arte». (Foto: ambitotoros.blogspot.com)
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
Lévi-Strauss e a tauromaquia
O filósofo francês Claude Lévi-Strauss, recentemente falecido, interessou-se pelo fenómeno taurino e reflectiu sobre ele. Xavier Klein, no blog camposyruedos, recorda algumas opiniões do mestre do estruturalismo sobre a matéria. Lévi-Strauss considerava a tauromaquia «um caso de sobrevivência único e atípico», numa sociedade dominada por valores que são tantas vezes a antítese do confronto homem/toiro. Por isso, o filósofo partilhava da opinião daqueles que sublinhavam o apagamento do carácter ritual do toureio e o triunfo da dimensão comercial. Pessimista, temia que, um dia, tudo acabasse numa mascarada, «como os índios que fazem a dança da chuva para agradar aos turistas». As culturas que resistem, salientava, são as que resistem e não transigem quanto aos seus modos de expressão. Essa será a única forma de preservar os valores autênticos do toureio.
terça-feira, 28 de julho de 2009
Da miséria da «crítica» taurina
Não vou falar do jornal nem do blogue oficioso de um cavaleiro tauromáquico e respectiva prole. Apetece-me, isso sim, comentar os comentários dos comentadores da recente Corrida TV do Norte, que a RTP transmitiu domingo à tarde. Em primeiro lugar, para lhes louvar a bondade. Tem com certeza um lugar assegurado no céu quem deixa passar em claro tantos e tão escandalosos atropelos à arte de tourear a cavalo à portuguesa. Toques nas montadas, que foram às dezenas? Simples expressão do atrevimento dos nossos jovens cavaleiros, que gostam de arriscar... Voltas e voltaretas à la Ventura? Reflexo do espírito inovador dos nossos rapazes (e raparigas)... Cites apalhaçados e «graxa» ao público? Poder de comunicação com as bancadas... Onde está a dimensão pedagógica da crítica? Quem pode aprender com tais mestres?
quarta-feira, 24 de junho de 2009
Sobre o temple e a pega
No vocabulário taurino, a palavra temple é uma das mais usadas. Enquanto conceito, é também muito discutido. Diz-se muitas vezes que o temple consiste em ajustar o movimento do engano – capote ou muleta – à velocidade da investida do touro. Será isso, mas não apenas isso.
Um dicionário de língua espanhola diz-nos que templar significa «temperar», «moderar», «suavizar», «amenizar». Quem templa, ameniza ou modera qualquer coisa. No caso do toureio, a investida do cornúpeto. O toureiro que templa suaviza, molda o ímpeto do touro, tornando a lide possível. Como se diz muitas vezes, ensina-o a investir. E como se consegue isso? Em primeiro lugar, e aqui entra o que acima se referiu, ajustando a deslocação da muleta ao movimento do touro, evitando os indesejáveis enganchones. Mas é óbvio que isso é insuficiente para lhe templar, moderar ou suavizar a investida. Para tal, o toureiro deve ministrar os passes que o adversário requer. Deve dar-lhe mais ou menos passes ‘de castigo’, ter atenção à altura a que coloca o engano, à circularidade do passe, etc.. E tudo isto deve ser feito de acordo com as regras: o diestro deve citar, embarcar o adversário no engano, correr a mão, rematar e deixar o touro pronto para outro passe.
Intimamente ligado com o temple, temos o mando. Sem templar não se manda e sem mandar não se templa. E uma e outra coisa não se conseguem sem parar o touro. Parar, templar e mandar são os três vértices inseparáveis do triângulo do toureio.
Vêm esta considerações a propósito de ultimamente se ouvir dizer, em especial a alguns comentadores televisivos, que os forcados templam. E porquê? Porque, segundo as luminárias do pequeno écran, quando o touro investe e o forcado da cara recua, este adapta a sua velocidade à acometida do animal. E pronto, isso é suficiente para existir temple.
Se o corpo do forcado se equiparar ao capote ou à muleta e o temple se resumir à singela noção apresentada em primeiro lugar, até poderia existir. Mas acontece que as coisas são muito mais complexas do que pensam os amáveis comentadores.
O forcado não templa, isto é, não tempera, não suaviza, não modera a investida do touro, porque, pura e simplesmente, não tem condições para tal. Quando chega à pega, o touro já se encontra no estado de aplomado, já não há mais nada para ‘temperar’. E mesmo que houvesse, não está nas mãos do forcado controlar a acometida do touro. O forcado obedece, moldando a forma como recua ao ímpeto do touro. O que já é fazer muito, e merece o nosso aplauso.
Por tudo isto, não venham os senhores comentadores de hoje com argumentos que nem os mais ilustrados críticos taurinos do passado – um Leopoldo Nunes, um Cabral Valente, um Saraiva Lima, um Nizza da Silva – nem os mais acérrimos defensores da corrida à portuguesa se atreveram a esgrimir. Porque sabiam do que falavam, ao contrário dos de hoje.
Um dicionário de língua espanhola diz-nos que templar significa «temperar», «moderar», «suavizar», «amenizar». Quem templa, ameniza ou modera qualquer coisa. No caso do toureio, a investida do cornúpeto. O toureiro que templa suaviza, molda o ímpeto do touro, tornando a lide possível. Como se diz muitas vezes, ensina-o a investir. E como se consegue isso? Em primeiro lugar, e aqui entra o que acima se referiu, ajustando a deslocação da muleta ao movimento do touro, evitando os indesejáveis enganchones. Mas é óbvio que isso é insuficiente para lhe templar, moderar ou suavizar a investida. Para tal, o toureiro deve ministrar os passes que o adversário requer. Deve dar-lhe mais ou menos passes ‘de castigo’, ter atenção à altura a que coloca o engano, à circularidade do passe, etc.. E tudo isto deve ser feito de acordo com as regras: o diestro deve citar, embarcar o adversário no engano, correr a mão, rematar e deixar o touro pronto para outro passe.
Intimamente ligado com o temple, temos o mando. Sem templar não se manda e sem mandar não se templa. E uma e outra coisa não se conseguem sem parar o touro. Parar, templar e mandar são os três vértices inseparáveis do triângulo do toureio.
Vêm esta considerações a propósito de ultimamente se ouvir dizer, em especial a alguns comentadores televisivos, que os forcados templam. E porquê? Porque, segundo as luminárias do pequeno écran, quando o touro investe e o forcado da cara recua, este adapta a sua velocidade à acometida do animal. E pronto, isso é suficiente para existir temple.
Se o corpo do forcado se equiparar ao capote ou à muleta e o temple se resumir à singela noção apresentada em primeiro lugar, até poderia existir. Mas acontece que as coisas são muito mais complexas do que pensam os amáveis comentadores.
O forcado não templa, isto é, não tempera, não suaviza, não modera a investida do touro, porque, pura e simplesmente, não tem condições para tal. Quando chega à pega, o touro já se encontra no estado de aplomado, já não há mais nada para ‘temperar’. E mesmo que houvesse, não está nas mãos do forcado controlar a acometida do touro. O forcado obedece, moldando a forma como recua ao ímpeto do touro. O que já é fazer muito, e merece o nosso aplauso.
Por tudo isto, não venham os senhores comentadores de hoje com argumentos que nem os mais ilustrados críticos taurinos do passado – um Leopoldo Nunes, um Cabral Valente, um Saraiva Lima, um Nizza da Silva – nem os mais acérrimos defensores da corrida à portuguesa se atreveram a esgrimir. Porque sabiam do que falavam, ao contrário dos de hoje.
quinta-feira, 18 de junho de 2009
A última oportunidade?
Pedrito de Portugal actuará no próximo domingo em Badajoz, substituindo El Fundi, colhido recentemente. Como companheiros de cartel, as duas maiores figuras do momento: José Tomás e Miguel Ángel Perera. À primeira vista, Pedrito não tem uma tarefa fácil. Pouco placeado, como se viu na recente actuação no Campo Pequeno, o matador português pode ver-se em palpos de aranha com os touros de Jandilla. No entanto, pode beneficiar do seu estatuto de outsider. Ninguém duvida que no domingo todas as atenções estarão concentradas no duelo José Tomás/Perera. Pedrito é o terceiro homem, o que entrou no cartel à última hora, aquele a quem o público espanhol pedirá menos. Por isso, uma boa actuação do português pode surpreender, levando-o a um relançamento de carreira em que, verdade seja dita, já poucos acreditam. Sorte para domingo é o que se deseja.
segunda-feira, 15 de junho de 2009
A farsa continua
João Telles Júnior será o próximo cavaleiro português a tomar a «alternativa» em Espanha, concretamente em San Sebastián, no próximo dia 9 de Agosto. Uma vez mais, será «padrinho» Pablo Hermoso de Mendoza e «testemunha» Diego Ventura. Segundo o site oficial do Campo Pequeno, e os milhares de pessoas que assistiram à cerimónia, ao vivo e pela televisão, poderão confirmar, o referido cavaleiro tomou a alternativa em Lisboa, a 4 de Setembro de 2008. Mas tal deve ter sido mais uma alucinação colectiva, pois de contrário não haveria necessidade de Telles Júnior se «doutorar» no país vizinho.
Falando a sério, o toureio equestre português não desiste de dar passos em frente... em direcção ao abismo. Estamos perante mais um estranho caso em que os «alunos» doutoram os «mestres». Todos sabemos o que os rejoneadores espanhóis devem ao toureio a cavalo português, Pablo Hermoso incluído. Como aprenderam com os nossos cavaleiros e como refinaram, com eles, modo, o basto estilo do rejoneo campero. E tanto aprenderam, que agora são eles a conceder «alternativas» a quem os ensinou.... Claro que a boa fé de Pablo Hermoso não é aqui posta em causa, pois tudo não passará de um ajuste, com objectivos comerciais, entre os apoderados do espanhol e do português.
Ficamos também a saber que Telles Júnior, ou quem o dirige, se considera, à luz do artigo 7º do Regulamento Taurino espanhol um rejoneador de novilhos, que precisa da «alternativa» dum colega mais velho para poder lidar touros... Tal é o desnorte, a falta de senso e de regras que paira no nosso «mundinho» taurino. Eis como se borra uma casaca que deveria merecer mais respeito a quem a enverga. E vêm depois falar-nos em «cavaleiros de dinastia»...
domingo, 31 de maio de 2009
O direito à indignação
O cartel da feira taurina de Badajoz não engana: a 20 de Junho, o cavaleiro português Manuel Lupi «tomará a alternativa» na praça da capital estremenha, presumivelmente das mãos de Pablo Hermoso de Mendoza, com o testemunho de Diego Ventura. Mas o jovem Lupi não é já cavaleiro de alternativa, desde o dia 8 de Maio de 2005? Ou o que se passou no Campo Pequeno, nessa noite em que o pai, José Samuel Lupi, o doutorou, foi uma alucinação colectiva?
Que embuste é este, agora, em Badajoz? Que forma tem esta «alternativa» espanhola no quadro das normas (se ainda há normas) que regem o toureio no nosso País? Quantas alternativas se podem receber? Uma, duas, três, meia dúzia? E como se presta Manuel Lupi, filho de alguém que foi grande no toureio equestre português, a participar nesta farsa? Acaso o pai, quando competia em Espanha com os Peralta e outros, necessitou de mais credenciais que não fossem o seu bom toureio? O marketing justifica tudo?
E o Sindicato dos Toureiros ou quem quer que seja que manda «nisto», não intervém? E os aficionados não se indignam? E os críticos não reagem? Ninguém se atreve a dizer ao moço que, pior que ele, é o toureiro português que fica mal na fotografia?
Que embuste é este, agora, em Badajoz? Que forma tem esta «alternativa» espanhola no quadro das normas (se ainda há normas) que regem o toureio no nosso País? Quantas alternativas se podem receber? Uma, duas, três, meia dúzia? E como se presta Manuel Lupi, filho de alguém que foi grande no toureio equestre português, a participar nesta farsa? Acaso o pai, quando competia em Espanha com os Peralta e outros, necessitou de mais credenciais que não fossem o seu bom toureio? O marketing justifica tudo?
E o Sindicato dos Toureiros ou quem quer que seja que manda «nisto», não intervém? E os aficionados não se indignam? E os críticos não reagem? Ninguém se atreve a dizer ao moço que, pior que ele, é o toureiro português que fica mal na fotografia?
sexta-feira, 29 de maio de 2009
O insulto e as respostas
Rafael Corbelle, apoderado do matador Israel Lancho, acusou o ganadeiro João Folque de Mendonça (Palha) de ser moruchero, ou seja, criador de touros broncos. E ainda por cima português, como não se esqueceu de lembrar aos mais distraídos, num arroubo de chauvinismo, o excelso apoderado. O próprio ganadeiro e alguns blogues responderam-lhe à letra. (Foto http://manonfotoblog.blogspot.com/)
quinta-feira, 28 de maio de 2009
Para quando touros destes em Portugal?
Os touros de Palha, os tais que provocavam, e pelos vistos ainda provocam, horror, terror e furor, triunfaram um ano mais em Las Ventas. Ponto negativo do festejo, a grave colhida do matador Israel Lancho. Mas como afirmou o ganadeiro João Folque, «eu crio toiros para a afición e o touro não pode estar ao serviço do toureiro.» Os Palha são um genuíno produto português, mas não podem ser vistos na sua integridade nas nossas praças. Uma legislação abstrusa e uma afición (?) passiva e medíocre, que não é de certeza aquela para quem João Folque cria touros, não permitem que se aprecie tão belos animais por inteiro. Porque as «armas» dos touros, isto é, os cornos, são cobertas pelas vergonhosas embolas ou mutilados pelo ignominioso serrote. Por isso os nossos lidadores não sofrem cornadas, mas sim quedas, encontrões contra a trincheira, uns ossos partidos, umas nódoas negras... As fatalidades que têm ocorrido devem-se mais ao azar do que ao ataque dos touros. Até quando teremos em Portugal uma Festa de 2ª, que não nos permite, sequer, contemplar touros íntegros? (Foto: http://www.burladero.com/sanisidro2009/006467/sorteo/palha/20/san/isidro)
terça-feira, 26 de maio de 2009
sexta-feira, 22 de maio de 2009
89 anos depois de Talavera
Assinalou-se no passado dia 16 de Maio o 89º aniversário da morte daquele a quem chamaram o Rei dos Toureiros: José Gómez Ortega, Joselito. Uma vez mais, a efeméride foi pretexto para a evocação de factos relacionados com a vida do imenso Gallito, e particularmente com a sua trágica morte em Talavera de la Reina. O blogue Cordoba Taurina dedica ao assunto um interessante post, no qual se recordam as circunstâncias que levaram Joselito, naquele dia de Maio, a tourear na arena talaverana.
Na temporada de 1919, recorda o blogue, o influente Gregorio Corrochano, crítico taurino do ABC, parece tomar o partido de Juan Belmonte, o que deixa Gallito profundamente irritado. Chega a temporada seguinte, e José faz tudo para cair novamente nas boas graças do crítico. Almoçam juntos em Madrid, e Corrochano informa-o de que uns primos seus estavam a organizar uma corrida por ocasião da feira de Talavera de la Reina, terra natal de D. Gregório. Os touros a lidar eram duma ganadaria que se anunciava com o nome de Viúva de Ortega, mas que pertencia aos parentes de Corrochano.
Para agradar ao crítico, Joselito oferece-se para lidar a corrida, sendo contratado pelo preço de 5000 pesetas. A 16 de Maio de 1920, vestido de grana y oro, ao lado do seu cunhado Sánchez Mejías, faz o paseíllo em Talavera.
O touro que o matou, Bailador, acusava problemas de visão. Tal podia dever-se a um problema congénito ou ao facto de os ácidos provenientes dos aparelhos digestivos dos quatro cavalos que o touro matou no tércio de varas, lhe terem afectado as faculdades visuais. Certo é que, num momento em que Gallito se afasta para armar a muleta, Bailador arranca e colhe mortalmente o famoso diestro. «O destino marcado havia-se cumprido», termina o post do Córdoba Taurina.
quinta-feira, 21 de maio de 2009
Filósofo Francis Wolff premiado
O filósofo Francis Wolff, professor catedrático na Escola Superior da Universidade de Paris, vai receber o II Prémio Taurino Manuel Ramírez, por um artigo publicado em 28 de Agosto de 2008, no jornal espanhol «ABC». Intitulado «El arte de jugarse la vida», o texto defende vigorosamente a festa de touros e os seus valores. Pode ser lido aqui.
terça-feira, 12 de maio de 2009
Passo a citar (VII)
«Se a sorte de varas é o teste para avaliar a bravura de uma rês (...) como se pode avaliar a bravura num Concurso de Ganadarias lidado a cavalo?
Não se pode avaliar a bravura na sua plenitude numa lide a cavalo. Apenas se fica com uma ideia do estilo de investida, pouco mais.»
(Joaquim Grave, ganadeiro, entrevistado sobre o Concurso de Ganadarias de Évora, Diário do Sul, 12-05-09)
segunda-feira, 11 de maio de 2009
Como se forja um triunfo, ou como se aldraba na Net
O rejoneador Diego Ventura foi a estrela do cartaz da corrida celebrada em Moura, no passado sábado, dia 9. Mas Ventura não correspondeu às expectativas e aquele que era anunciado como o furacão transformou-se num furaquinho sem consequências de maior. O site espanhol Mundotoro, no entanto, transformou a pálida exibição de Ventura e do seu cavalo-que-morde-os-touros num brilharete. E remata com esta tirada admirável:«Depois de matar, negou-se a dar a segunda volta ao ruedo, apesar da forte petição.» Matar touros na arena, em Portugal? Aqui só se mata o bicho, de manhã cedo.
(Foto www.burladero.com)
(Foto www.burladero.com)
sexta-feira, 8 de maio de 2009
Toureiro patrocinado por...
Em 1987, o matador Luís Reina surpreendeu tudo e todos ao apresentar-se na praça de Plasencia, com um traje de luces que publicitava uma marca de artigos electrónicos. Felizmente, a moda não pegou. Natural de Almendralejo, localidade próxima da raia, Luís Reina tomou a alternativa em Badajoz, em 1980. Após a retirada, exerceu funções directivas na Escola Taurina da capital extremenha, tendo sido professor de Miguel Ángel Perera, actualmente uma das maiores figuras do toureio. (Foto El Periódico Extremadura)
quarta-feira, 6 de maio de 2009
Touradas e outros divertimentos
Está na moda dizer que o público "se diverte"
quando uma corrida é boa. Que me lembre, o termo
"divertimento" começou a ser aplicado ao espectáculo taurino em Espanha, por alguns matadores mais gaiteiros, estilo Jesulín de Ubrique ou El Cordobés, filho. Ao presenciarem o salto de la rana e outras finezas, os espectadores não podiam deixar de se rir, e, consequentemente, de se divertir... A moda atravessou a fronteira, e desde aí é vulgar ouvir os nossos artistas concluirem, no fim de um espectáculo animado, que estiveram bem, porque o público se divertiu. Também o site de um empresário elogiado por brilhantes cabeças da(s) nossa(s) praça(s) como modelo do moderno empresariado taurino, nos convida: "Disfrute e divirta-se".
Antigamente, quem se queria divertir ia ao circo ou ao teatro, rir com uma boa comédia. Agora vai-se aos touros. Ao som do pasodoble, batem-se palminhas. Pouco importa que o cavaleiro crave os ferros a cilhas passadas ou que a montada sofra toques: tudo se aplaude, tudo é motivo de "diversão". Não dá mesmo vontade de rir?
terça-feira, 5 de maio de 2009
Em defesa da Festa (V)
Se os ataques à Festa de touros com base na protecção dos animais são já, por assim dizer, clássicos, a utilização de argumentos relacionados com a «saúde», como fez o presidente da Câmara de Viana do Castelo, é original. Segundo Defensor Moura, a realização de corridas no seu município prejudica a imagem de Viana como «cidade saudável».
Alegações deste tipo inscrevem-se na vaga higienista iniciada com as medidas anti-tabaco, que em alguns países descambaram em perseguição aos fumadores. Estendeu-se depois a determinados alimentos, com a ajuda de normas vindas de Bruxelas. No fundo, trata-se de impor coercivamente comportamentos considerados «saudáveis», desprezando muitas vezes os direitos e liberdades individuais. O sonho desta ofensiva moralista é a criação, artificial, de cidadãos «saudáveis» e livres de vícios, resplandecentes de virtude e aptos a viver muitos anos sem sobrecarregar a segurança social pública. Conseguirão assim, julgam eles, criar o «Homem Novo», missão que também se propuseram, sem grandes resultados, os regimes comunistas e fascistas
É uma cidade povoada por homens deste tipo, asséptica como uma localidade termal suíça, que Defensor Moura certamente idealiza. Cabe, no entanto, perguntar ao digno presidente em que medida a proibição de uma corrida de touros (a única que se realizava anualmente na cidade) contribui para tornar Viana mais «saudável»? Acaso a assistência a espectáculos taurinos provoca danos à saúde? Não nos parece... Passando para o plano animal, pergunta-se se os animais de Viana do Castelo passarão a ter melhores condições de vida se não houver ali corridas. Serão construídos mais canis ou prestada maior atenção aos animais abandonados? Só a autarquia poderá responder a estas questões e explicitar o seu conceito de «cidade saudável». À falta disso, as alegações de Defensor Moura são iguais às de tantos demagogos que povoam os centros do poder.
É uma cidade povoada por homens deste tipo, asséptica como uma localidade termal suíça, que Defensor Moura certamente idealiza. Cabe, no entanto, perguntar ao digno presidente em que medida a proibição de uma corrida de touros (a única que se realizava anualmente na cidade) contribui para tornar Viana mais «saudável»? Acaso a assistência a espectáculos taurinos provoca danos à saúde? Não nos parece... Passando para o plano animal, pergunta-se se os animais de Viana do Castelo passarão a ter melhores condições de vida se não houver ali corridas. Serão construídos mais canis ou prestada maior atenção aos animais abandonados? Só a autarquia poderá responder a estas questões e explicitar o seu conceito de «cidade saudável». À falta disso, as alegações de Defensor Moura são iguais às de tantos demagogos que povoam os centros do poder.
Passo a citar (VI)
segunda-feira, 4 de maio de 2009
Em defesa da Festa (III)
Como observa o filósofo francês Francis Wolff, no seu livro «Filosofía de las corridas de toros» (Edicions Bellaterra, 2008), a força do animalismo tem uma dupla origem. «Por um lado, a modernidade ocasionou um aumento dos maus tratos a numerosas espécies ao reduzi-las ao estado de mercadorias; a sensibilidade contemporânea comove-se legitimamente ante as
abjectas condições de vida concedidas aos frangos criados em aviários ou aos porcos privados de luz e espaço.» Por outro lado, por influência das teorias morais e jurídicas anglo-saxónicas, «uma boa parte da problemática moral está agora dominada pelo conceito ético-jurídico de ‘direitos’ (‘tem-se direito a’) e ‘o animal’ passa a ser um novo sujeito desses direitos.» É preciso sublinhar, em primeiro lugar, que não se pode falar em Animal, mas em espécies animais, cada uma com as suas características próprias, que justificam tratamento diferente por parte do homem. No caso concreto do touro, existem profundas diferenças entre ele e os outros animais, não apenas ao nível etológico (comportamental) como também das condições de vida. Na sequência do que afirma Francis Wolff, os frangos de aviário ou os porcos são tratados pela sociedade industrial como uma mercadoria. Alimentados à força, criados num espaço mínimo, abatidos mecanicamente, são reduzidos à condição de «coisas», sem dignidade nem individualidade. Exactamente o contrário do que sucede com o touro. Um touro possui uma «personalidade» enformada por uma qualidade a que se chama bravura, e que o distingue dos restantes animais. Depois, não é criado numa linha de produção, como os animais de aviário, mas sim em campo aberto, com o espaço de que a sua dignidade de animal especial necessita. Ao longo da sua existência, um touro goza do respeito de que a maioria dos animais não usufruem. Para este estatuto especial contribuirão também as reminiscências dos tempos em que o touro era considerado um deus, por algumas civilizações. (Continua)
abjectas condições de vida concedidas aos frangos criados em aviários ou aos porcos privados de luz e espaço.» Por outro lado, por influência das teorias morais e jurídicas anglo-saxónicas, «uma boa parte da problemática moral está agora dominada pelo conceito ético-jurídico de ‘direitos’ (‘tem-se direito a’) e ‘o animal’ passa a ser um novo sujeito desses direitos.» É preciso sublinhar, em primeiro lugar, que não se pode falar em Animal, mas em espécies animais, cada uma com as suas características próprias, que justificam tratamento diferente por parte do homem. No caso concreto do touro, existem profundas diferenças entre ele e os outros animais, não apenas ao nível etológico (comportamental) como também das condições de vida. Na sequência do que afirma Francis Wolff, os frangos de aviário ou os porcos são tratados pela sociedade industrial como uma mercadoria. Alimentados à força, criados num espaço mínimo, abatidos mecanicamente, são reduzidos à condição de «coisas», sem dignidade nem individualidade. Exactamente o contrário do que sucede com o touro. Um touro possui uma «personalidade» enformada por uma qualidade a que se chama bravura, e que o distingue dos restantes animais. Depois, não é criado numa linha de produção, como os animais de aviário, mas sim em campo aberto, com o espaço de que a sua dignidade de animal especial necessita. Ao longo da sua existência, um touro goza do respeito de que a maioria dos animais não usufruem. Para este estatuto especial contribuirão também as reminiscências dos tempos em que o touro era considerado um deus, por algumas civilizações. (Continua)
Nuno Casquinha: temos toureiro
Na sua recente presença na arena de Las Ventas, a 30 de Abril, Nuno Casquinha colheu apenas aplausos, na lide do seu primeiro adversário. No entanto, quem viu as imagens das actuações de Casquinha frente aos pouco manejáveis novilhos de Moreno Silva, não pode deixar de acalentar esperanças no futuro do novilheiro português. Foram poderosas as séries pela direita, desenhadas com toreria e bem rematadas. Pena que os falhanços com a espada tenha desluzido um labor que a imprensa taurina qualificou como interessante. Poderá ser Casquinha o sucessor de Vítor Mendes?
quinta-feira, 30 de abril de 2009
Em defesa da Festa (II)
A questão do relacionamento entre o homem e os animais e a atribuição de direitos a estes últimos é um tema recorrente do pensamento contemporâneo. Pela atribuição de direitos batem-se os chamados movimentos animalistas, para os quais as corridas de touros são condenáveis por inflingirem sofrimento aos animais. Apesar dos ataques à Festa Brava não serem novos – houve muitos ao longo da história, ditados por motivos políticos, religiosos e outros– as alegações baseadas nos direitos dos animais são relativamente recentes.
Em Portugal, as hostes animalistas foram reforçadas nos últimos anos com o aparecimento de novos movimentos, mais aguerridos do que a Sociedade Protectora dos Animais, durante muito tempo a única protagonista da luta contra as corridas. Os membros dos novos movimentos são fundamentalmente jovens de origem urbana, com formação universitária.
Até hoje, a mais mediática acção dos animalistas portugueses foi a contestação aos touros de morte em Barrancos. A questão arrastou-se durante anos, até que, por fim, foi solucionada com a legalização dos festejos taurinos característicos daquela vila raiana. Os anti-taurinos são derrotados, mas o relevo que a imprensa dá à questão confere-lhes grande visibilidade. Nos últimos tempos, a sua acção têm-se traduzido fundamentalmente em manifestações à porta de praças de touros e em actos de pressão sobre empresas que apoiam corridas e autarquias a quem cabe licenciar espectáculos taurinos. A sua maior vitória terá sido a recente compra da praça de Viana do Castelo pela autarquia e a declaração da cidade minhota como «anti-touradas». Segundo o presidente da Câmara, Defensor Moura, a realização de corridas contrariava o conceito de «cidade saudável» que Viana aspira a ser. (Continua)
Em Portugal, as hostes animalistas foram reforçadas nos últimos anos com o aparecimento de novos movimentos, mais aguerridos do que a Sociedade Protectora dos Animais, durante muito tempo a única protagonista da luta contra as corridas. Os membros dos novos movimentos são fundamentalmente jovens de origem urbana, com formação universitária.
Até hoje, a mais mediática acção dos animalistas portugueses foi a contestação aos touros de morte em Barrancos. A questão arrastou-se durante anos, até que, por fim, foi solucionada com a legalização dos festejos taurinos característicos daquela vila raiana. Os anti-taurinos são derrotados, mas o relevo que a imprensa dá à questão confere-lhes grande visibilidade. Nos últimos tempos, a sua acção têm-se traduzido fundamentalmente em manifestações à porta de praças de touros e em actos de pressão sobre empresas que apoiam corridas e autarquias a quem cabe licenciar espectáculos taurinos. A sua maior vitória terá sido a recente compra da praça de Viana do Castelo pela autarquia e a declaração da cidade minhota como «anti-touradas». Segundo o presidente da Câmara, Defensor Moura, a realização de corridas contrariava o conceito de «cidade saudável» que Viana aspira a ser. (Continua)
«Alternativa» em Badajoz?
Anuncia-se uma alternativa do cavaleiro Manuel Lupi em Badajoz, concedida pelo rejoneador Pablo Hermoso de Mendoza. Estranho... Mas estão Lupi não foi alternativado no Campo Pequeno, pelo seu pai, no dia 8 de Maio de 2005? É uma «alternativa» entre aspas, diz-me alguém, uma coisa simbólica, estás a ver? Até é simpático... Pois é. Mas até eu, a quem os nacionalismos arrefecem mais do que aquecem, vejo na notícia, a confirmar-se, mais uma concessão dos nossos marialvas aos colegas rejoneadores. Então se Portugal é a pátria do toureio a cavalo, se dantes eram os espanhóis que procuravam legitimar-se entre nós, quando o rejoneio no país vizinho não passava do número del caballito, agora somos nós que lá vamos alternativar-nos? Mesmo entre aspas, mesmo num gesto simbólico? Que S. João Núncio nos valha!
quarta-feira, 29 de abril de 2009
Em defesa da Festa (I)
Nos últimos 20/30 anos, o Mundo alterou-se profundamente. As ideologias políticas, que dominaram grande parte do século XX, esbatem-se. Os partidos perdem conteúdo ideológico e as diferenças entre esquerda e direita atenuam-se. As formações partidárias «clássicas» convergem para o centro do espectro político, evitam temas arriscados («fracturantes») e cultivam o discurso politicamente correcto. Apesar destas operações de restyling, os cidadãos mostram-se desiludidos com a praxis partidária e aproximam-se de outro tipo de organizações, com origem, muitas vezes, em movimentos da sociedade civil. Estes novos agrupamentos, mais próximos dos problemas e das necessidades do cidadão comum, introduzem novos temas na agenda política. Falamos de questões tão diversas como a ecologia, a defesa do meio ambiente, a protecção dos animais e a luta contra a extinção das espécies, os direitos de cidadania, a igualdade de direitos, o combate contra as várias formas de discriminação, etc..
No quotidiano, estas teorias traduzem-se em novos estilos de vida. Promovem-se os comportamentos «saudáveis», denunciam-se os malefícios do tabaco e de certos alimentos, difundem-se as virtudes das dietas, do exercício físico e da prática desportiva. O conceito de juventude é hipervalorizado: antes de tudo, interessa ser, ou parecer, jovem. A difusão deste caldo de cultura é facilitada pelo aparecimento das novas tecnologias da comunicação, nomeadamente da Internet. O gigantesco incremento das capacidades comunicacionais transforma em realidade o sonho de McLuhan: o universo é agora a Aldeia Global. (Continua)
No quotidiano, estas teorias traduzem-se em novos estilos de vida. Promovem-se os comportamentos «saudáveis», denunciam-se os malefícios do tabaco e de certos alimentos, difundem-se as virtudes das dietas, do exercício físico e da prática desportiva. O conceito de juventude é hipervalorizado: antes de tudo, interessa ser, ou parecer, jovem. A difusão deste caldo de cultura é facilitada pelo aparecimento das novas tecnologias da comunicação, nomeadamente da Internet. O gigantesco incremento das capacidades comunicacionais transforma em realidade o sonho de McLuhan: o universo é agora a Aldeia Global. (Continua)
terça-feira, 28 de abril de 2009
Chega de carolice, mas...
Diogo Palha, no blogue Tauromania, manifesta-se contra a carolice que continua a dominar a defesa do toureio em Portugal. Apenas uma nota: segundo Palha, os anti-taurinos são «extremistas urbano-depressivos mascarados de pseudo-intelectuais modernos e evoluídos»; e a comunicação social «está pejada de pseudo-intelectuais que também pensam pouco embora se arvorem em modernos e evoluídos.» Gostava de recordar que tem sido o investimento dos anti-taurinos junto dos intelectuais ou pseudo-intelectuais que lhes tem dado a notoriedade que possuem. Em contrapartida, os taurinos portugueses (porque são muito marialvas?) não querem nada com «intelectualices» e continuam a achar que a cabeça serve para pôr o tricórnio ou o barrete e pouco mais. O resultado está à vista.
sábado, 25 de abril de 2009
Passo a citar (V)
«Pessoalmente, assistir a uma corrida de touros é em si, uma actividade tão cultural como ir ao teatro e à ópera. Os touros são uma escola de tolerância, de respeito, mas também de exigência. Suscitam inquietação, entusiasmo, emoção. Ensinam a aceitar a desilusão, a contemplar o fracasso e o triunfo como duas faces da própria vida.»
Araceli Guillaume (Revista Taurodelta, nº 11)
Araceli Guillaume (Revista Taurodelta, nº 11)
sexta-feira, 24 de abril de 2009
Que diferença!
Não vi mais do que vinte minutos do programa «Aqui e Agora» de ontem, sobre direitos dos animais. Mas o que observei deu para adivinhar o resultado do debate, que alguns blogues, hoje, confirmaram. A argumentação fria, racional, do «animalista» e «vegan» Miguel Moutinho, a maior clareza na exposição das ideias e um treino superior neste género de debates, parecem ter levado a melhor, uma vez mais, sobre o discurso terra-a-terra dos pró-taurinos: um cavaleiro, João Telles, e um empresário ex-forcado, Carlos Pegado, nitidamente com pouca «estaleca» para aquilo.
Quem poderá defender eficazmente os pontos de vista dos aficionados? Não sei. Mas duma coisa tenho a certeza: debates deste género têm que ser travados com argumentos mais elevados (éticos, filosóficos), que nitidamente escapam à grande maioria dos profissionais do toureio e dos paupérrimos críticos da nossa praça.
Uma vez mais, a questão resume-se à ausência de pensamento sobre o fenómeno taurino no nosso país. A afición lusitana não se distingue por usar a cabeça, e quando se junta é mais para beber uns copos ou distribuir prémios (?) a um lote de «artistas» que agora até inclui emboladores... Com este panorama, só em sonhos se poderá pedir a Telles e a Pegado a fluência discursiva e a solidez argumentativa exibida, por exemplo, por Andrés Amorós, no programa televisivo «Câmara Clara», há uns meses atrás.
Falta massa crítica à tauromaquia em Portugal. O chamado mundillo resume-se a pessoas directamente interessadas no fenómeno, desde ganadeiros a «críticos», alguns dos quais, numa delirante promiscuidade, são igualmente apoderados ou representantes de toureiros. É preciso que o meio se abra ao exterior. Que tente atraír personalidades de outros campos do conhecimento, para o estudo, a reflexão e o debate sobre a Festa, em vez de uma postura «orgulhosamente só», insustentável nos tempos que correm. Ganhará assim o respeito e a credibilidade que tantas vezes lhe faltam.
Quem poderá defender eficazmente os pontos de vista dos aficionados? Não sei. Mas duma coisa tenho a certeza: debates deste género têm que ser travados com argumentos mais elevados (éticos, filosóficos), que nitidamente escapam à grande maioria dos profissionais do toureio e dos paupérrimos críticos da nossa praça.
Uma vez mais, a questão resume-se à ausência de pensamento sobre o fenómeno taurino no nosso país. A afición lusitana não se distingue por usar a cabeça, e quando se junta é mais para beber uns copos ou distribuir prémios (?) a um lote de «artistas» que agora até inclui emboladores... Com este panorama, só em sonhos se poderá pedir a Telles e a Pegado a fluência discursiva e a solidez argumentativa exibida, por exemplo, por Andrés Amorós, no programa televisivo «Câmara Clara», há uns meses atrás.
Falta massa crítica à tauromaquia em Portugal. O chamado mundillo resume-se a pessoas directamente interessadas no fenómeno, desde ganadeiros a «críticos», alguns dos quais, numa delirante promiscuidade, são igualmente apoderados ou representantes de toureiros. É preciso que o meio se abra ao exterior. Que tente atraír personalidades de outros campos do conhecimento, para o estudo, a reflexão e o debate sobre a Festa, em vez de uma postura «orgulhosamente só», insustentável nos tempos que correm. Ganhará assim o respeito e a credibilidade que tantas vezes lhe faltam.
quinta-feira, 23 de abril de 2009
quarta-feira, 22 de abril de 2009
Filme tauromáquico dos Lumiére na Biblioteca Digital da UNESCO
A Biblioteca Digital Mundial da UNESCO, ontem inaugurada, disponibiliza gratuitamente um conjunto de fontes documentais provenientes de países e culturas de todo o mundo. No acervo da Biblioteca encontra-se uma película dos irmãos Lumiére, com cerca de sete minutos, que retrata as procissões da Semana Santa em Sevilha e uma corrida de touros. O filme terá sido produzido em 1898/1899. Um dos matadores actuantes parece ser o famoso Rafael Guerra Guerrita. Aceda clicando aqui.
sexta-feira, 17 de abril de 2009
Passo a citar (IV)
Na «tauromaquia, aquilo que se acusa de 'barbárie' não é mais do que a representação directa e material de categorias simbólicas, como a violência e a morte, que todas as culturas tratam de uma ou outra maneira. (...) Que não é, apenas, uma excrescência do passado, embora tenha tantos anos como a pintura e a música e mais do que o teatro, prova-o o facto de continuar em plena transformação.»
Luís Capucha (Sociologia-Problemas e Práticas, nº 8, 1990)
quinta-feira, 16 de abril de 2009
Sobre a Maestranza
Até ao próximo dia 3 de Maio, a feira de Sevilha vai animar a arena de uma das mais belas praças de touros do mundo: a Real Maestranza. A propósito deste coso, recorde-se que o seu nome deriva da instituição a que pertence: a Real Maestranza de Caballeria de Sevilha. Fundada em 1670, a Real Maestranza é uma corporação que se destinou inicialmente à preparação militar dos nobres sevilhanos. Pretendia-se deste modo formar oficiais para o exército, que soubessem cavalgar e manejar as armas com destreza. Em 1730, a instituição recebeu do rei Filipe V o privilégio de organizar corridas de touros, o que a levou a construir a praça que hoje se conhece como Real Maestranza. O resultado foi um belíssimo edifício, de arquitectura tardo-barroca. Pormenor importante: o conjunto escultórico que encima o chamado Palco Real, a tribuna de onde os reis assistem às corridas, é da autoria do escultor português Caetano da Costa, nascido em 1711 e emigrado na capital andaluza.
segunda-feira, 13 de abril de 2009
Simão da Veiga no México
O cavaleiro Simão da Veiga Júnior obteve significativos triunfos além-fronteiras. Em 1939 deslocou-se ao México, onde toureou com as maiores figuras daquele país. O cartel que se reproduz (obtido em laaldeadetauro.blogspot.com) data de 23 de Abril de 1939 e anuncia Simão na praça de San Marcos, em Aguascalientes. Com ele fizeram o paseíllo os matadores Armillita, Silvério Perez e Eduardo Solorzano. Os touros pertenciam à ganadaria de Peñuelas.
Memória portuguesa do «señor Curro Guillén»
Francisco Herrera Rodríguez, mais conhecido por Curro Guillén, foi um dos mais destacados
matadores de touros dos alvores do século XIX. Nascido em Utrera, em 1783, Guillén cedo começou a colher êxitos em Madrid e Sevilha, alternando com os diestros mais importantes do seu tempo, entre os quais José Romero e Jerónimo José Cândido. Curiosamente, a carreira de Curro Guillén encontra-se ligada a Portugal, país para onde foi «empurrado» pela invasão de Espanha pelas tropas napoleónicas.
O toureiro terá chegado a Lisboa em 1812, na companhia de outros bons lidadores, como Juan Jiménez El Morenillo, e rapidamente se popularizou, não apenas pelos triunfos nas arenas como pela sua personalidade. «Retratos seus, recordações e peças da sua indumentária vendiam-se em Lisboa a altos preços», conta José María de Cossío («Los Toros», III vol.).
A graça e o garbo do sevilhano, «unidos a uma figura gentil e galharda e a um carácter simpático e alegre», conquistaram-lhe «a simpatia de todas as classes sociais lisboetas, e as aventuras e conquistas amorosas que efectuou foram soadas e comentadas por largo tempo.» Ao fim de dois anos, Curro Guillén pensou voltar a Espanha, mas os portugueses tentaram retê-lo de todos os modos. Segundo Cossío, até as autoridades portuguesas «fizeram dispendiosos esforços e ofereceram-lhe grandes somas para que ficasse mais tempo.» Chegaram a mentir-lhe, dizendo que o rei espanhol Fernando VII pensava em acabar com as corridas de toiros. Apesar destas instâncias, Guillén regressou ao seu país, onde prosseguiu a sua triunfante carreira. Esta veio a terminar a 21 de Maio de 1820, na praça de Ronda, quando um toiro de Cabrera lhe inferiu uma cornada mortal. Para a posteridade ficou um verso, deliciosamente hiperbólico, que traduz a grandeza toureira do sevilhano: «Bien puede decir que ha visto/ lo que en el mundo hay que ver/ el que ha visto matar toros/ al señor Curro Guillén».
sexta-feira, 3 de abril de 2009
O exemplo vem dos Açores
Por iniciativa da Tertúlia Tauromáquica Terceirense, vai realizar-se a 4 de Abril, no auditório da Universidade dos Açores, uma conferência intitulada «Importância da Sorte de Varas». Intervirão José Carlos Arévalo, director da revista «6Toros6», João Folque de Mendonça, ganadeiro, Rafael Trancas, picador, António Castañares, crítico da «6Toros6», e Gomez Escorial, matador de toiros. Antes da conferência, efectuar-se-á uma tenta na arena da Monumental Ilha Terceira. Depois da organização do magnífico Fórum Mundial da Cultura Taurina, a Tertúlia Tauromáquica Terceirense dá novas mostras de vitalidade e de sintonia com os valores universais da Festa de toiros, numa altura em que se debate o retorno da sorte de varas aos Açores. Quando teremos por cá, pelo «continente» da prosápia e do analfabetismo taurino, dos brandos costumes e das tricas fúteis, coragem para discutir semelhante tema?
quinta-feira, 26 de março de 2009
Ataque à Marinha
A realização de uma corrida de touros na Marinha Grande desencadeou nova ofensiva dos alegados defensores dos animais. Na Câmara, começaram a chover os e-mails do costume, alertando os imprevidentes autarcas para os «perigos» do espectáculo.
A estratégia do fascismo animalista é clara. A pressão sobre as autoridades começou por terras onde a Festa não se encontra firmemente implantada, pois os seus responsáveis, em princípio, são mais fáceis de manipular. Depois da proibição das corridas programadas, quererão que essas localidades se declarem «anti-touradas» Obtido um ramalhete de terras «anti-taurinas» considerado satisfatório, terão mais força para avançar para outras zonas e influenciar, inclusivamente, o poder central.
Que ninguém se iluda. A ofensiva não vai parar e só se combate eficazmente com a oposição determinada dos agentes taurinos. Inexplicavelmente, porém, estes limitam-se ao protesto de circunstância. Mais do que nunca, é preciso recordar aos diversos poderes (aos mais distraídos, lembramos que existe uma Associação Nacional de Municípios, que até tem uma secção de municípios com actividade taurina) que o espectáculo taurino é legal e que os aficionados não são criminosos. É o momento de empresários, Sindicato dos Toureiros, associações de forcados, ganadeiros, etc., provarem que o seu propalado amor à Festa ultrapassa os meros interesses pessoais. Ou será que só se vão mexer quando o problema lhes chegar aos bolsos?
quarta-feira, 25 de março de 2009
A única foto da praça do Campo de Santana?
Se não for a única, deve ser das escassas imagens fotográficas da praça de touros do Campo de Santana, que existiu em Lisboa entre 1831 e 1891. A raridade encontra-se no Arquivo Fotográfico da CML e foi «emprestada» pelo blog Bic Laranja. Cite-se o blogger: «Trata-se duma panorâmica tomada do Largo da Nossa Senhora do Monte sobre o Desterro; arrisco dá-la ao 3º quartel do séc. XIX. A praça do Campo de Santana é aquele corpo negro no quadrante superior esquerdo; para a sua direita estende-se o casario ocidental do Campo de Santana (ou Campo dos Mártires da Pátria); ao fundo avisto nitidamente o Monsanto. Em baixo, à direita, o Hospital do Desterro.»
segunda-feira, 23 de março de 2009
«História do Olho» ou a tragédia de Granero em livro
Manuel Granero foi uma das grandes esperanças do toureio dos anos 20. Pelas suas qualidades, o diestro valenciano era visto como o mais sério candidato ao trono deixado vago por Joselito, após a sua trágica morte em Talavera de la Reina. Com Chicuelo, Marcial Lalanda e outros, Granero traçava a nova linha do toureio, iniciada por Belmonte e confirmada por Joselito. Mas a fatalidade não lhe permitiu voar alto. A 7 de Maio de 1922, em Madrid, Granero é ferido mortalmente pelo touro Pocapena, do duque de Veragua. A colhida foi impressionante: o corno de Pocapena penetrou no olho direito do toureiro, matando-o em poucos minutos.
Entre os espectadores que assistiram à morte de Granero encontrava-se o escritor francês Georges Bataille (1897-1962). O dramático sucesso está presente no seu livro «História do Olho», uma obra de um erotismo violento, onde amor e morte, céu e inferno se cruzam e contaminam, colocando o autor ao lado dos grandes escritores libertinos, como Sade ou Masoch. «Campos de análise» de Bataille são, entre outros, «a cosmogonia do desespero, a alucinação acesa e amarga da solidão absoluta», escreve José Carlos González, que em 1988 traduziu a obra para a editora Livros do Brasil. «A 7 de Maio de 1922, La Rosa, Lalanda e Granero deviam tourear na praça de Madrid. Com Belmonte no México, Lalanda e Granero eram os grandes matadores espanhóis»...
sexta-feira, 20 de março de 2009
Dois maestros
Manuel Rodríguez Manolete e Simão da Veiga, no pátio de quadrilhas de uma praça de touros presumivelmente em Espanha. Simão da Veiga (1903-1959) toureou bastante no país vizinho, competindo, por exemplo, com o rejoneador Antonio Cañero. Nas principais praças espanholas – Madrid, Sevilha, Barcelona, Pamplona – Simão lidou e estoqueou touros em pontas. Actuou em Manzanares, em 11 de Agosto de 1934, na corrida em que o célebre matador Ignacio Sánchez Mejías foi mortalmente colhido pelo touro Granadino. Do currículo de Simãozinho, como era conhecido, consta a glória de ter sido o primeiro português a cortar uma orelha em Madrid. Na mesma imagem, dois toureiros de génio: o Monstruo de Córdova e o cavaleiro do Lavre.
quinta-feira, 19 de março de 2009
Viu estas peças? (III)
Viu estas peças? (II)
Viu estas peças? (I)
Pertencem ao Museu João Baptista Duarte, inaugurado em 1937, numa dependência da praça de touros do Campo Pequeno. Há alguns anos, as centenas de peças que compunham o acervo do museu desapareceram misteriosamente (?), levando consigo uma importantíssima parte da memória daquela praça e da própria tauromaquia portuguesa. O caso deve ser único no mundo. Não desapareceu um, nem dois objectos: foi todo o recheio do museu que levou sumiço. É certo que o touro cuja cabeça aqui se reproduz se chamava Vadiante, mas não terá sido por isso que o animal deixou o museu e anda por aí a vadiar...
As imagens são da autoria do fotógrafo Mário Novais e foram publicadas no nº 25/26 da revista «Panorama», em 1945.
quarta-feira, 18 de março de 2009
25 anos de alternativa de António Telles em livro
Os 25 anos de alternativa de António Ribeiro Telles, que se assinalaram a 21 de Julho do ano passado, são o motivo do lançamento de uma fotobiografia do cavaleiro de Coruche. São seus autores João Carrinho e o próprio fotobiografado. Segundo a nota de apresentação, a obra «retrata a carreira repleta de sucessos de António Ribeiro Telles, abordando a sua vida profissional, a relação com a família, a Herdade da Torrinha, os ensinamentos de seu Pai, os cavalos, o campo e o conceito clássico do seu toureio.»
Se há cavaleiro cuja carreira merecia um trabalho semelhante, é António Ribeiro Telles. Pelos seus méritos, mas também por ser o mais fiel representante de um conceito de lide ameaçado: o toureio a cavalo à portuguesa. Num momento em que as nossas praças assistem a patéticas manifestações de luso-rejoneio, António Telles toureia raivosamente à portuguesa, prosseguindo e honrando a mensagem paterna. Até no simples gesto de actuar de tricórnio -estampa toureira!-se vê o muito que o distingue dos demais. Com os 25 anos de alternativa de António Telles é o próprio toureio português que está de parabéns.
terça-feira, 17 de março de 2009
Juanita Cruz, primeira mulher matadora de touros
Há precisamente 69 anos, doutorava-se na praça mexicana de Fresnillo Juanita Cruz- a primeira mulher a obter a alternativa de matador de touros. Nascida em Madrid, em 1917, começou a tourear em 1932, mas a guerra civil travou-lhe o passo. Radicou-se então na América Latina, onde colheu significativos triunfos. Na posse da alternativa, regressou a Espanha em 1946, para exercer a profissão no seu país. Contudo, uma lei impedia as mulheres de tourearem em solo espanhol, o que truncou irremediavelmente a carreira de Juanita. Ainda como bezerrista, actuou no Campo Pequeno em 11 de Junho de 1933, num festival de variedades taurinas. «A elegante toureira espanhola não teve medo dos garraios e mostrou habilidade nos passes de capote», garantia «O Século».
Rogério e Mário
À esquerda, Rogério Perez, El Terrible Perez, jornalista e crítico taurino; à direita Mário de Sá-Carneiro, poeta; ao centro, Gilberto Rola. A foto, publicada no nº 117/118 da revista «Colóquio/Letras» (Setembro de 1990), data dos primeiros anos do século passado (Sá-Carneiro nasceu em 1890 e suicidou-se em 1916), e mostra que os interesses e as amizades de El Terrible Perez excediam o mundo taurino. No nº 7 da «Contemporânea», revista de artes e letras notável pelo seu grafismo, encontramos um seu «Discurso» num banquete da revista, em que evoca, de passagem, a sua amizade com Sá-Carneiro. Mas Rogério Perez (1890-1979) distinguiu-se sobretudo como crítico de touros, nas colunas do «Diário de Lisboa». E logo aquele «que mais viveu as entranhas do mundo taurino, e mais conhecido se tornou das figuras grandes do seu tempo» (Solilóquio, «Memórias de um bilhete de sol»). Essas figuras foram muitas, desde os Gallos, Rafael e José, a Juan Belmonte, de Gitanillo de Triana a Pepe Luis Vazquez e deste a Manolete. Foi representante em Portugal do rejoneador Antonio Cañero e organizou, em 1933, corridas com touros de morte, no Campo Pequeno. Destacou-se também pelas reportagens que fez em Espanha, antes e durante a guerra civil, ao serviço do «Diário de Lisboa». Rogério Perez reuniu as suas memórias no livro «Meio século a ver touros» (Ed. Marítimo-Colonial, 1945).
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