O Inverno traz consigo uma pausa que incita à reflexão. É tempo de estatísticas, de balanços e análises variadas. Há quem se fique pelas reflexões pela rama; outros vão ao cerne das questões e as conclusões a que chegam são sempre dolorosas.
Uma vez mais, dou por mim a pensar sobre o toureio em Portugal. Não cuido de saber se o toureio a cavalo à portuguesa perde terreno perante o rejoneo, nem qual o futuro do toureio a pé no nosso país, nem as últimas manobras dos anti-taurinos. Tento ir mais fundo, avançar para questões mais subterrâneas, às quais a grande maioria dos aficionados parece ser estranha.
Penso, por exemplo, nos toiros que se lidam em Portugal, e não posso deixar de me perguntar: que outro país do mundo em que a corrida está implantada, nega aos seus espectadores o direito de ver sair à praça toiros íntegros? Isto é, toiros como vêm do campo, sem estarem embolados ou com as pontas dos cornos serradas. Se o toiro é o centro do espectáculo – por isso se fala em touradas -, como admitir, sem uma profunda vergonha, a fraude que constitui a diminuição das suas defesas?
Como sustentar que o doping no desporto é uma vigarice e tolerar o serrote ou as embolas nos toiros?
Dizem-me que esta e outras particularidades são o resultado da existência de uma corrida de toiros «à portuguesa», com cavaleiros e forcados, diferente da outra corrida, dita «à espanhola». Contentar-me-ia com a explicação, se a lide «à espanhola» praticada nas nossas praças tivesse a verdade que o toureio implica. Mas o certo é que não tem, pela falta da corrida integral, com reses sem hastes manipuladas, com a sorte de varas e a morte do toiro na arena.
Em resumo: temos um «arranjo» do toureio e das suas normas à medida de cavaleiros e forcados, de que resultou a corrida «à portuguesa», e um toureio a pé dito «à espanhola», mas que foi, na prática, inventado pelos políticos e burocratas que proibiram a corrida integral entre nós. Com a complacência, claro está, dos pseudo-aficionados, pseudo-toureiros e de muitos outros ‘pseudos’ que por cá abundam.
Tudo espremido, o que resulta é a angustiante sensação de se estar à beira de um lago de mentiras, de que tantos, de tão embrenhados nele, não se apercebem ou não se querem aperceber. (Imagem: Cássio Mello)
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
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