quarta-feira, 30 de junho de 2010

Mário Cabré: catalão, toureiro, actor e poeta

Assinala-se a 1 de Julho o vigésimo aniversário da morte do catalão Mário Cabré, que além de matador de toiros foi actor de teatro e de cinema -participou em cerca de vinte películas-, locutor de televisão e poeta de apreciável obra. Mário Cabré Esteve nasceu em Barcelona, em 6 de Janeiro de 1916, no seio de uma família de artistas teatrais. A falta de antecedentes taurinos não foi óbice ao nascimento de uma afición que o leva a lançar-se nas arenas em 1934. No ano seguinte, a 23 de Setembro, toureira pela primeira vez com picadores, na Monumental de Barcelona, ao lado de Silvério Pérez e Rafael Ortega Gallito. Passada a guerra civil, estreia-se em Madrid, a 10 de Agosto de 1941, com Pepete de Triana, López Lago e José Alcántara.
Os primeiros triunfos sonantes chegam na temporada de 1943, na qual toureou uma vintena de novilhadas. Pronto para a alternativa, doutorou-se na Maestranza de Sevilha, tendo como padrinho  Domingo Ortega, que lhe cedeu o toiro Negociante, da ganadaria de Curro Chica, e testemunha El Estudiante. A carreira de Mário Cabré como matador, que se prolongou até 1957, teve altos e baixos. Apesar das suas qualidades - toureava magnificamente de capa, em verónicas lentas, com as mãos muito baixas-, nunca foi diestro de muitas corridas. Talvez porque os seus interesses artísticos se repartiam por diversas áreas. Entre 1947 e 1958, Cabré entrou em perto de uma vintena de filmes, entre os quais «Pandora and the Flying Dutchman» (em Portugal, «Pandora e o Holandês Voador»), em que contracenou com Ava Gardner e James Mason. Como poeta, publicou diversas obras: «Dietário Poético», «Danza Mortal», «Oda a Gala-Salvador Dalí» e «Canto sín Sosiego». Mário Cabré, catalão e artista multifacetado, faleceu na cidade que o viu nascer, em 1 de Julho de 1990. Se ainda pertencesse ao mundo dos vivos, quem duvida que a sua voz se juntaria aos protestos pela iníqua suspensão da Festa na sua Barcelona?

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Lembranças do motorista de Manolete


O toureiro é um profissional itinerante. A sua actividade exerce-se em diferentes praças, muitas vezes separadas por longas distâncias. Como tal, para os toureiros, ter bons motoristas é tão importante como ter bons bandarilheiros. Nos milhares de quilómetros palmilhados pelas estradas, o homem do volante tem nas mãos a vida do seu maestro e acompanhantes, com os quais partilha os momentos de felicidade e de angústia.
Em 1958, a extinta revista «El Ruedo» publicou uma entrevista com o motorista do célebre Manuel Rodríguez Sánchez Manolete, de seu nome António Miguel Yedero, reproduzida pelo blog Aula Taurina de Granada.
O entrevistado confirma que Manolete era um homem taciturno e formal. «Falava muito pouco. (...) Falava-me com todo o respeito, o que me surpreendeu, porque eu tinha outra ideia dos toureiros.» Porém, Manolete também era capaz de rir a bandeiras despregadas com as graças dos seus amigos Carnicerito de Málaga e Curro de Villacusa.
Yedero começou por conduzir um Hispano-Suiza, comprado ao matador António Márquez. Depois Manolete comprou um carro mais moderno, o famoso Buick azul que a Espanha inteira conhecia. As viagens quase não lhes permitiam respirar. Após a corrida, o matador e a quadrilha tomavam uma refeição rápida e punham-se a caminho sem mais demoras. O trajecto mais longo que efectuaram foi entre Barcelona e Zafra, num total de 1120 quilómetros. Na estrada, os toureiros dormiam. Yedero era «alimentado» por Chimo, moço de espadas de Manolete, com café, conhaque e charutos...
Na temporada de 1947, a de Linares, Manolete «já não queria tourear». Mas «o seu pundonor, a sua vergüenza e a sua responsabilidade fizeram-no ceder à pressão das empresas». Após a colhida, o moço de espadas Chimo pediu a Yedero que fosse ao hotel buscar as estampas religiosas que acompanhavam Manolete. O motorista assim fez, mas já nada podia salvar o diestro da fatal cornada infligida por Islero. (Na imagem, Manolete assina autógrafos no seu Buick. Ao fundo, o apoderado Camará)

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Club Cocherito de Bilbao celebra centenário


Incluído na Semana de Cultura Tauromáquica, realiza-se em Vila Franca de Xira, no próximo dia 30 de Junho, um colóquio sobre o centenário do clube taurino Cocherito de Bilbao, que este ano se assinala. A sessão, que terá lugar no Clube Taurino Vilafranquense, celebra uma das mais activas e prestigiadas associações  taurinas do país vizinho.
Algumas palavras sobre o seu patrono, o matador de toiros Cocherito de Bilbao. Cástor Jaureguibeitia Ibarra, assim se chamava, nasceu em 20 de Dezembro de 1876, em Bilbau. Ao longo da sua carreira participou em 616 festejos, nos quais matou 1668 hastados, em arenas de Espanha, Portugal, França, México e Perú. Toureiro de fibra e de toiros duros, Cocherito matou 43 corridas de Miura, 21 de Veragua e 20 de Félix Urcola, além de Murube, Guadalest, Pablo Romero e Parladé.
A imagem que se reproduz documenta uma actuação de Cocherito (terceiro a contar da esquerda) no Campo Pequeno, em 24 de Abril de 1910. Além do espada bilbaíno tourearam nessa tarde o seu compatriota Saleri e os cavaleiros José Casimiro e Eduardo Macedo.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Conhecer melhor Jaime Ostos


O matador Jaime Ostos (Écija, 1933) foi figura destacada do toureio na década de 1960. Entrevistado na última edição da revista «Taurodelta», Jaime Ostos recorda aspectos interessantes da sua carreira, do toureio e dos toureiros do seu tempo. Destaque para um famoso brinde, frente às câmaras da televisão, feito ao taquígrafo pessoal do generalíssimo Franco...

domingo, 13 de junho de 2010

Passo a citar (XI)


«O momento da verdade, da execução da sorte suprema, faz a grande diferença. (...) A morte do toiro é o culminar de tudo o que antes com ele se faz. (...) Por muito meritória ou bela que tenha sido a faena, da estocada fulminante depende o verdadeiro e autêntico triunfo. Quem não mata não triunfa, por muito bem que antes tenha toureado. (...) Em Portugal não se matam os toiros. Daí, a subjectividade da nossa Festa.»
                              
João Queiroz («Novo Burladero», nº 259, Junho de 2010)

segunda-feira, 7 de junho de 2010

«Primeiro traje de luces de Juan Belmonte»


                                   Torerillo de Pueblo! Ai, quem diria!...
                                   Adolescente banhado de luar!...
                                   Ó gentes! El Patrón da Toreria
                                   Vestido de luces vai passar
                                   Com sedas, lantejoulas, pedrarias
                                   No bailado da morte e aventura…
                                   Zuloaga, Solana, Vázquez Díaz!
                                   Já lhe preparam telas de pintura.
                                   E Elvas – em madrinha – dá-lhe o beijo
                                   «…e os panecillos tan ricos…» e o desejo
                                   De ser D. Juan Belmonte de Triana.
                                   E foi. Correu mundo. Cá voltou.
                                   Lembrou-se da madrinha? Ai, lembrou!
                                   Repiquem campanários do Guadiana…

                                                                            Azinhal Abelho*


* Poeta nascido em Orada, concelho de Borba, em 1911, e falecido em Lisboa, em 1979. Juan Belmonte, o toureiro aqui evocado, vestiu pela primeira vez o traje de luces em Elvas, em 6 de Maio de 1909. Antes da corrida, o empresário ofereceu um repasto a Belmonte e aos demais novilheiros espanhóis que com ele actuaram. Como estavam esfomeados, atiraram-se com unhas e dentes a uns pãezinhos, os «panecillos» a que o poeta se refere. Muitos anos depois, Belmonte voltou a Elvas, mostrando não ter esquecido a «madrinha».