No vocabulário taurino, a palavra temple é uma das mais usadas. Enquanto conceito, é também muito discutido. Diz-se muitas vezes que o temple consiste em ajustar o movimento do engano – capote ou muleta – à velocidade da investida do touro. Será isso, mas não apenas isso.
Um dicionário de língua espanhola diz-nos que templar significa «temperar», «moderar», «suavizar», «amenizar». Quem templa, ameniza ou modera qualquer coisa. No caso do toureio, a investida do cornúpeto. O toureiro que templa suaviza, molda o ímpeto do touro, tornando a lide possível. Como se diz muitas vezes, ensina-o a investir. E como se consegue isso? Em primeiro lugar, e aqui entra o que acima se referiu, ajustando a deslocação da muleta ao movimento do touro, evitando os indesejáveis enganchones. Mas é óbvio que isso é insuficiente para lhe templar, moderar ou suavizar a investida. Para tal, o toureiro deve ministrar os passes que o adversário requer. Deve dar-lhe mais ou menos passes ‘de castigo’, ter atenção à altura a que coloca o engano, à circularidade do passe, etc.. E tudo isto deve ser feito de acordo com as regras: o diestro deve citar, embarcar o adversário no engano, correr a mão, rematar e deixar o touro pronto para outro passe.
Intimamente ligado com o temple, temos o mando. Sem templar não se manda e sem mandar não se templa. E uma e outra coisa não se conseguem sem parar o touro. Parar, templar e mandar são os três vértices inseparáveis do triângulo do toureio.
Vêm esta considerações a propósito de ultimamente se ouvir dizer, em especial a alguns comentadores televisivos, que os forcados templam. E porquê? Porque, segundo as luminárias do pequeno écran, quando o touro investe e o forcado da cara recua, este adapta a sua velocidade à acometida do animal. E pronto, isso é suficiente para existir temple.
Se o corpo do forcado se equiparar ao capote ou à muleta e o temple se resumir à singela noção apresentada em primeiro lugar, até poderia existir. Mas acontece que as coisas são muito mais complexas do que pensam os amáveis comentadores.
O forcado não templa, isto é, não tempera, não suaviza, não modera a investida do touro, porque, pura e simplesmente, não tem condições para tal. Quando chega à pega, o touro já se encontra no estado de aplomado, já não há mais nada para ‘temperar’. E mesmo que houvesse, não está nas mãos do forcado controlar a acometida do touro. O forcado obedece, moldando a forma como recua ao ímpeto do touro. O que já é fazer muito, e merece o nosso aplauso.
Por tudo isto, não venham os senhores comentadores de hoje com argumentos que nem os mais ilustrados críticos taurinos do passado – um Leopoldo Nunes, um Cabral Valente, um Saraiva Lima, um Nizza da Silva – nem os mais acérrimos defensores da corrida à portuguesa se atreveram a esgrimir. Porque sabiam do que falavam, ao contrário dos de hoje.
quarta-feira, 24 de junho de 2009
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