segunda-feira, 15 de março de 2010

Matador

O poeta desdobra a sua capa
está na página em branco a luz e oiro
para lidar o verso que lhe escapa
como o toiro na arena como o toiro.

Um natural. Depois um derechazo
para quebrar do verso o negro impulso
buscando aquela parte do cachaço
onde se enterra a espada até ao pulso.

E pode então cortar rabos e orelhas
agradecer aos tércios: matador
sob as farpas do sol. Torres vermelhas.


Sai o poetas aos ombros: luz e oiro
enquanto um verso jaz de negra cor
como o toiro na arena como o toiro.

Manuel Alegre («Sonetos do Obscuro Quê»)

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