domingo, 31 de maio de 2009

O direito à indignação

O cartel da feira taurina de Badajoz não engana: a 20 de Junho, o cavaleiro português Manuel Lupi «tomará a alternativa» na praça da capital estremenha, presumivelmente das mãos de Pablo Hermoso de Mendoza, com o testemunho de Diego Ventura. Mas o jovem Lupi não é já cavaleiro de alternativa, desde o dia 8 de Maio de 2005? Ou o que se passou no Campo Pequeno, nessa noite em que o pai, José Samuel Lupi, o doutorou, foi uma alucinação colectiva?
Que embuste é este, agora, em Badajoz? Que forma tem esta «alternativa» espanhola no quadro das normas (se ainda há normas) que regem o toureio no nosso País? Quantas alternativas se podem receber? Uma, duas, três, meia dúzia? E como se presta Manuel Lupi, filho de alguém que foi grande no toureio equestre português, a participar nesta farsa? Acaso o pai, quando competia em Espanha com os Peralta e outros, necessitou de mais credenciais que não fossem o seu bom toureio? O marketing justifica tudo?
E o Sindicato dos Toureiros ou quem quer que seja que manda «nisto», não intervém? E os aficionados não se indignam? E os críticos não reagem? Ninguém se atreve a dizer ao moço que, pior que ele, é o toureiro português que fica mal na fotografia?

sexta-feira, 29 de maio de 2009

O insulto e as respostas

Rafael Corbelle, apoderado do matador Israel Lancho, acusou o ganadeiro João Folque de Mendonça (Palha) de ser moruchero, ou seja, criador de touros broncos. E ainda por cima português, como não se esqueceu de lembrar aos mais distraídos, num arroubo de chauvinismo, o excelso apoderado. O próprio ganadeiro e alguns blogues responderam-lhe à letra. (Foto http://manonfotoblog.blogspot.com/)

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Para quando touros destes em Portugal?

Os touros de Palha, os tais que provocavam, e pelos vistos ainda provocam, horror, terror e furor, triunfaram um ano mais em Las Ventas. Ponto negativo do festejo, a grave colhida do matador Israel Lancho. Mas como afirmou o ganadeiro João Folque, «eu crio toiros para a afición e o touro não pode estar ao serviço do toureiro.» Os Palha são um genuíno produto português, mas não podem ser vistos na sua integridade nas nossas praças. Uma legislação abstrusa e uma afición (?) passiva e medíocre, que não é de certeza aquela para quem João Folque cria touros, não permitem que se aprecie tão belos animais por inteiro. Porque as «armas» dos touros, isto é, os cornos, são cobertas pelas vergonhosas embolas ou mutilados pelo ignominioso serrote. Por isso os nossos lidadores não sofrem cornadas, mas sim quedas, encontrões contra a trincheira, uns ossos partidos, umas nódoas negras... As fatalidades que têm ocorrido devem-se mais ao azar do que ao ataque dos touros. Até quando teremos em Portugal uma Festa de 2ª, que não nos permite, sequer, contemplar touros íntegros? (Foto: http://www.burladero.com/sanisidro2009/006467/sorteo/palha/20/san/isidro)

sexta-feira, 22 de maio de 2009

89 anos depois de Talavera

Assinalou-se no passado dia 16 de Maio o 89º aniversário da morte daquele a quem chamaram o Rei dos Toureiros: José Gómez Ortega, Joselito. Uma vez mais, a efeméride foi pretexto para a evocação de factos relacionados com a vida do imenso Gallito, e particularmente com a sua trágica morte em Talavera de la Reina. O blogue Cordoba Taurina dedica ao assunto um interessante post, no qual se recordam as circunstâncias que levaram Joselito, naquele dia de Maio, a tourear na arena talaverana.
Na temporada de 1919, recorda o blogue, o influente Gregorio Corrochano, crítico taurino do ABC, parece tomar o partido de Juan Belmonte, o que deixa Gallito profundamente irritado. Chega a temporada seguinte, e José faz tudo para cair novamente nas boas graças do crítico. Almoçam juntos em Madrid, e Corrochano informa-o de que uns primos seus estavam a organizar uma corrida por ocasião da feira de Talavera de la Reina, terra natal de D. Gregório. Os touros a lidar eram duma ganadaria que se anunciava com o nome de Viúva de Ortega, mas que pertencia aos parentes de Corrochano.
Para agradar ao crítico, Joselito oferece-se para lidar a corrida, sendo contratado pelo preço de 5000 pesetas. A 16 de Maio de 1920, vestido de grana y oro, ao lado do seu cunhado Sánchez Mejías, faz o paseíllo em Talavera.
O touro que o matou, Bailador, acusava problemas de visão. Tal podia dever-se a um problema congénito ou ao facto de os ácidos provenientes dos aparelhos digestivos dos quatro cavalos que o touro matou no tércio de varas, lhe terem afectado as faculdades visuais. Certo é que, num momento em que Gallito se afasta para armar a muleta, Bailador arranca e colhe mortalmente o famoso diestro. «O destino marcado havia-se cumprido», termina o post do Córdoba Taurina.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Filósofo Francis Wolff premiado

O filósofo Francis Wolff, professor catedrático na Escola Superior da Universidade de Paris, vai receber o II Prémio Taurino Manuel Ramírez, por um artigo publicado em 28 de Agosto de 2008, no jornal espanhol «ABC». Intitulado «El arte de jugarse la vida», o texto defende vigorosamente a festa de touros e os seus valores. Pode ser lido aqui.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Passo a citar (VII)

«Se a sorte de varas é o teste para avaliar a bravura de uma rês (...) como se pode avaliar a bravura num Concurso de Ganadarias lidado a cavalo?
Não se pode avaliar a bravura na sua plenitude numa lide a cavalo. Apenas se fica com uma ideia do estilo de investida, pouco mais.»

(Joaquim Grave, ganadeiro, entrevistado sobre o Concurso de Ganadarias de Évora, Diário do Sul, 12-05-09)

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Como se forja um triunfo, ou como se aldraba na Net

O rejoneador Diego Ventura foi a estrela do cartaz da corrida celebrada em Moura, no passado sábado, dia 9. Mas Ventura não correspondeu às expectativas e aquele que era anunciado como o furacão transformou-se num furaquinho sem consequências de maior. O site espanhol Mundotoro, no entanto, transformou a pálida exibição de Ventura e do seu cavalo-que-morde-os-touros num brilharete. E remata com esta tirada admirável:«Depois de matar, negou-se a dar a segunda volta ao ruedo, apesar da forte petição.» Matar touros na arena, em Portugal? Aqui só se mata o bicho, de manhã cedo.
(Foto www.burladero.com)

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Toureiro patrocinado por...

Em 1987, o matador Luís Reina surpreendeu tudo e todos ao apresentar-se na praça de Plasencia, com um traje de luces que publicitava uma marca de artigos electrónicos. Felizmente, a moda não pegou. Natural de Almendralejo, localidade próxima da raia, Luís Reina tomou a alternativa em Badajoz, em 1980. Após a retirada, exerceu funções directivas na Escola Taurina da capital extremenha, tendo sido professor de Miguel Ángel Perera, actualmente uma das maiores figuras do toureio. (Foto El Periódico Extremadura)

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Touradas e outros divertimentos

Está na moda dizer que o público "se diverte"
quando uma corrida é boa. Que me lembre, o termo
"divertimento" começou a ser aplicado ao espectáculo taurino em Espanha, por alguns matadores mais gaiteiros, estilo Jesulín de Ubrique ou El Cordobés, filho. Ao presenciarem o salto de la rana e outras finezas, os espectadores não podiam deixar de se rir, e, consequentemente, de se divertir... A moda atravessou a fronteira, e desde aí é vulgar ouvir os nossos artistas concluirem, no fim de um espectáculo animado, que estiveram bem, porque o público se divertiu. Também o site de um empresário elogiado por brilhantes cabeças da(s) nossa(s) praça(s) como modelo do moderno empresariado taurino, nos convida: "Disfrute e divirta-se".
Antigamente, quem se queria divertir ia ao circo ou ao teatro, rir com uma boa comédia. Agora vai-se aos touros. Ao som do pasodoble, batem-se palminhas. Pouco importa que o cavaleiro crave os ferros a cilhas passadas ou que a montada sofra toques: tudo se aplaude, tudo é motivo de "diversão". Não dá mesmo vontade de rir?

terça-feira, 5 de maio de 2009

Em defesa da Festa (V)

Se os ataques à Festa de touros com base na protecção dos animais são já, por assim dizer, clássicos, a utilização de argumentos relacionados com a «saúde», como fez o presidente da Câmara de Viana do Castelo, é original. Segundo Defensor Moura, a realização de corridas no seu município prejudica a imagem de Viana como «cidade saudável».
Alegações deste tipo inscrevem-se na vaga higienista iniciada com as medidas anti-tabaco, que em alguns países descambaram em perseguição aos fumadores. Estendeu-se depois a determinados alimentos, com a ajuda de normas vindas de Bruxelas. No fundo, trata-se de impor coercivamente comportamentos considerados «saudáveis», desprezando muitas vezes os direitos e liberdades individuais. O sonho desta ofensiva moralista é a criação, artificial, de cidadãos «saudáveis» e livres de vícios, resplandecentes de virtude e aptos a viver muitos anos sem sobrecarregar a segurança social pública. Conseguirão assim, julgam eles, criar o «Homem Novo», missão que também se propuseram, sem grandes resultados, os regimes comunistas e fascistas
É uma cidade povoada por homens deste tipo, asséptica como uma localidade termal suíça, que Defensor Moura certamente idealiza. Cabe, no entanto, perguntar ao digno presidente em que medida a proibição de uma corrida de touros (a única que se realizava anualmente na cidade) contribui para tornar Viana mais «saudável»? Acaso a assistência a espectáculos taurinos provoca danos à saúde? Não nos parece... Passando para o plano animal, pergunta-se se os animais de Viana do Castelo passarão a ter melhores condições de vida se não houver ali corridas. Serão construídos mais canis ou prestada maior atenção aos animais abandonados? Só a autarquia poderá responder a estas questões e explicitar o seu conceito de «cidade saudável». À falta disso, as alegações de Defensor Moura são iguais às de tantos demagogos que povoam os centros do poder.

Passo a citar (VI)

Sou «confessadamente um grande aficionado, que me rendo à beleza da boa lide, a pé ou a cavalo. (...) E não vejo nem encontro ali qualquer manifestação de crueldade nem de desrespeito pelos chamados 'direitos dos animais'»
(António Inverno, artista plástico, 30 Dias, Maio de 2009)

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Em defesa da Festa (III)

Como observa o filósofo francês Francis Wolff, no seu livro «Filosofía de las corridas de toros» (Edicions Bellaterra, 2008), a força do animalismo tem uma dupla origem. «Por um lado, a modernidade ocasionou um aumento dos maus tratos a numerosas espécies ao reduzi-las ao estado de mercadorias; a sensibilidade contemporânea comove-se legitimamente ante as
abjectas condições de vida concedidas aos frangos criados em aviários ou aos porcos privados de luz e espaço.» Por outro lado, por influência das teorias morais e jurídicas anglo-saxónicas, «uma boa parte da problemática moral está agora dominada pelo conceito ético-jurídico de ‘direitos’ (‘tem-se direito a’) e ‘o animal’ passa a ser um novo sujeito desses direitos.» É preciso sublinhar, em primeiro lugar, que não se pode falar em Animal, mas em espécies animais, cada uma com as suas características próprias, que justificam tratamento diferente por parte do homem. No caso concreto do touro, existem profundas diferenças entre ele e os outros animais, não apenas ao nível etológico (comportamental) como também das condições de vida. Na sequência do que afirma Francis Wolff, os frangos de aviário ou os porcos são tratados pela sociedade industrial como uma mercadoria. Alimentados à força, criados num espaço mínimo, abatidos mecanicamente, são reduzidos à condição de «coisas», sem dignidade nem individualidade. Exactamente o contrário do que sucede com o touro. Um touro possui uma «personalidade» enformada por uma qualidade a que se chama bravura, e que o distingue dos restantes animais. Depois, não é criado numa linha de produção, como os animais de aviário, mas sim em campo aberto, com o espaço de que a sua dignidade de animal especial necessita. Ao longo da sua existência, um touro goza do respeito de que a maioria dos animais não usufruem. Para este estatuto especial contribuirão também as reminiscências dos tempos em que o touro era considerado um deus, por algumas civilizações. (Continua)

Nuno Casquinha: temos toureiro

Na sua recente presença na arena de Las Ventas, a 30 de Abril, Nuno Casquinha colheu apenas aplausos, na lide do seu primeiro adversário. No entanto, quem viu as imagens das actuações de Casquinha frente aos pouco manejáveis novilhos de Moreno Silva, não pode deixar de acalentar esperanças no futuro do novilheiro português. Foram poderosas as séries pela direita, desenhadas com toreria e bem rematadas. Pena que os falhanços com a espada tenha desluzido um labor que a imprensa taurina qualificou como interessante. Poderá ser Casquinha o sucessor de Vítor Mendes?