sábado, 31 de janeiro de 2009

Memória de Ponciano


Uma das sortes mais vistosas da lide equestre é o par de bandarilhas. Esta sorte vulgarizou-se em Portugal a
partir da década de 1930, com a rivalidade entre Simão da Veiga e João Núncio, prosseguiu através de cavaleiros como Manuel Conde, e, após uma fase de quase desaparição, renasceu nos anos 80 do século passado, com Joaquim Bastinhas. No entanto, um dos primeiros ginetes a praticá-la no nosso país terá sido um mexicano, Ponciano Díaz, no já longínquo ano de 1889.
Nascido em 1858, na hacienda de Atenco, Ponciano Díaz era um charro, isto é, um vaqueiro, tão destro no manejo do laço como a tourear a cavalo e a pé. Depois de se consagrar como novilheiro no seu país, sem deixar de praticar as sortes charras e as habilidades a cavalo, desloca-se à Europa em 1889, para cumprir uma série de oito contratos em praças de Espanha e Portugal. Acompanhado de outros dois charros, Agustín Oropeza e Celso González, Ponciano causa sensação pela indumentária e pelos descomunais bigodes. A 17 de Outubro, vestido de luces, recebe a alternativa de matador de touros, das mãos de Frascuelo, na praça de Madrid. Actua depois em Lisboa, onde maravilha os espectadores com os seus espectaculares números, entre os quais se destacava a sorte de bandarilhas a duas mãos. O antigo folheto de cordel contendo umas décimas dedicadas ao «Glorioso Êxito de Ponciano Díaz e dos seus Valentes Charros», que se reproduz, mostra o toureiro dos bigodes em acção. A gravura é do ilustrador mexicano José Guadalupe Posada.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Um caso de alergia?

As publicações taurinas portuguesas parecem ter alergia a livros. Das pouquíssimas obras de tema tauromáquico que em Portugal se publicam, não dão mais do que um ligeiríssimo eco. O mesmo é dizer: título, autor, editora, e ala que se faz tarde e há assuntos mais importantes a tratar. Que diabo! Será que entre os inúmeros cronistas que enxameiam as páginas dos ditos jornais e revistas não há um que passe os olhos pelo que se publica e queira transmitir a opinião, boa ou má, com que ficou? Os autores não se ofendem e até agradecem que lhes corrijam eventuais imperfeições. Ou pensarão que falar de um livro com certo pormenor é fazer-lhe publicidade (não paga) e há os risco das vendas dispararem e o autor ficar rico? Em contrapartida, abrem-se as revistas do outro lado da fronteira e não faltam recensões sobre o muito e bom que por ali se edita. Não há dúvida: na imprensa taurina como em muitas outras coisas, Portugal é mesmo um caso à parte!

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

El Espartero em Lisboa

Manuel García Cuesta, o célebre Espartero, toureou na praça do Campo Pequeno em Setembro de 1892. «É de esperar hoje na praça do Campo Pequeno uma enorme concorrência, pois os amadores das diversões tauromáquicas têm grande empenho em ver o trabalho do afamado espada Espartero», antecipava «O Século». «Este notável artista», prosseguia o jornal, «já trabalhou na praça de Sintra, onde foi entusiasticamente aplaudido.»
Maoliyo conquistava o público mais pelos alardes de valentia do que pela graciosidade do seu toureio. Quando lhe recordavam os riscos a que se expunha, costumava retorquir com uma frase que ficou célebre: «Mais cornadas dá a fome!» Na corrida de Lisboa, El Espartero «não pôde ser devidamente apreciado», lastimava D. Izidro, nas páginas da revista «A Trincheira». O crítico, que deu ao seu apontamento a forma de crónica musical, assinala que «Espartero, com a muleta, fez-nos ouvir um escolhido trecho cremos que sobre a canção do Toreador da Carmen, sobressaindo em dois dós de peito, terminado com uma fífia ao simular um volapié. (…) Reconheceu-se, ainda assim, que possui uma bela voz.» A temeridade de Manuel García ditou-lhe a morte, passados dois anos. Em 27 de Maio de 1894 tomba na praça de Madrid, vítima do touro Perdigón, de Miura.
O caricaturista Rafael Bordalo Pinheiro, na sua revista «O António Maria», reportou a passagem de El Espartero por Lisboa, poucas semanas após a inauguração da praça do Campo Pequeno. Perante o escasso poder das reses de Estêvão de Oliveira, o diestro exclama: «Me dá verguenza».

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Toreros Antiguos


Carlos González Ximénez é um repórter e fotógrafo espanhol especializado em temas etnográficos. Coleccionador de fotografias antigas, é proprietário do valioso arquivo de seu avô, o fotógrafo Diego González Ragel, que viveu na primeira metade do século passado. Com base neste espólio, González Ximénez criou o blog http://torerosantiguos.blogspot.com/, onde podem ser vistas interessantíssimas fotografias taurinas. A visitar por todos os que se interessam pela história da Festa.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

La tauromachie? Mais oui...


O interesse pela tauromaquia em França é uma realidade. Atestam-no, entre outros aspectos, o elevado número de publicações sobre temas taurinos que em terras gaulesas se produzem. O site Toro Passion (http://www.toropassion.com/), por exemplo, revela-nos as últimas novidades: "Carnets Taurins", de Jacques Durand, crítico taurino do diário "Libération"; "Vingt Ans Vêtu D’Or", de Jacques Lavignasse, sobre a carreira de Enrique Ponce; "De Luz" uma selecção de telas hiperrealistas do pintor Christian Gaillard; "Les Corridas de Bayonne S’Affichent", de Jean-Louis Lafarge e Pierre Saüt, obra dedicada aos 150 anos de corridas naquela cidade e aos cartéis que as publicitaram. A estes trabalhos, de edição recente, somam-se muitos outros, de que resulta um catálogo com dezenas de títulos.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Os Bienvenida e Portugal



O Círculo Taurino Amigos de la Dinastia Bienvenida, instituição que perpetua o nome de uma das mais ilustres famílias de matadores de touros, participou, no passado Verão, na XIX Semana da Cultura Taurina de Vila Franca de Xira. Esta presença vem reatar a antiga ligação dos Bienvenida a Portugal, que se iniciou, em finais do século XIX, com o patriarca da família, Manuel Mejías Rapela - o famoso Papa Negro.
O debute taurino de Manuel Bienvenida teve lugar numa arena portuguesa. Em 1893, com apenas nove anos, apresentou-se na Cruz Quebrada, integrado numa quadrilha infantil de Niños Sevillanos. O êxito foi tal que o diestro de palmo e meio participou em mais dezassete bezerradas em praças lusitanas, sempre com assinalável sucesso. Voltou a Portugal três anos depois, para actuar em seis corridas na Ilha Terceira. Mais tarde, já matador, toureou mais de uma vez no Campo Pequeno.
A sua esperançosa carreira declina irremediavelmente a partir de 1910, na sequência de uma gravíssima cornada na praça de Madrid. O Papa Negro dedica-se então a orientar os seus filhos Manolo e Pepe Bienvenida, que serão matadores de fama e actuarão repetidas vezes em Lisboa. A última corrida de Manolo Bienvenida ocorreu precisamente no Campo Pequeno, em 15 de Maio de 1938. Veio a falecer poucos meses depois, em San Sebastián, vítima de grave enfermidade. Para lembrar as várias passagens de Manolo por Lisboa, o Papa Negro e seu filho Antonio ofereceram ao museu do Campo Pequeno o traje de luces que o inditoso toureiro envergou na sua derradeira actuação. Ao longo dos anos 60 e 70, Antonio Bienvenida, o último grande diestro da família, toureou em Lisboa, em diversas ocasiões.