quinta-feira, 15 de abril de 2010

A promessa de Mazzantini

Em Março de 1909, o matador espanhol retirado Luís Mazzantini foi surpreendido na legação de Espanha em Lisboa, por um repórter da «Ilustração Portuguesa». «Estaria feito diplomata?», questinou-se o jornalista. «Não, a sua missão era de carácter particular. Mazzantini viera a Lisboa expressamente entregar a S.M. El-Rei o estoque com que em Guatemala matou o seu último touro e que havia destinado a El-Rei D. Carlos.» Como este fôra assassinado um ano antes, no Terreiro do Paço, a espada, com uma «dedicatória a ouro«, foi recebida por seu filho, D. Manuel II. Mazzantini (1856-1926) tinha razões para estar grato a D. Carlos. Recebera do rei «várias provas de estima e entre elas a comenda da Conceição, com que agora se apresentou no paço, e que ele muito aprecia». Orgulhava-se  também do carinho do povo português, «cujos aplausos apreciou sempre duplamente, visto que não pôde mostrar-lhe o seu melhor trabalho - a morte do touro - no que era exímio.» Num passeio pela baixa de Lisboa, o repórter comprovou a popularidade do toureiro. Em qualquer lado «encontrava um conhecido; em S. Carlos conhecia todos os artistas com quem falava no mais correcto italiano. O que não era de estranhar, pois
Mazzantini, embora nascido em Elgóibar, no País Basco, era
filho de pai italiano e passou parte da infância e adolescência em Itália. Como nota o jornalista, D. Luís, como era respeitosamente tratado, tornou-se matador porque «se convenceu de que naquele tempo, em Espanha, apenas se podia ser duas coisas: cantor ou toureiro. Não tendo voz, escolheu a segunda.»
El Señorito Loco, como também lhe chamavam, sabia ler, ao contrário de muitos dos seus colegas de profissão, tocava piano, vestia elegantemente e frequentava o teatro e a ópera. Não foi um toureiro de época - distinguiu-se mais como um estoqueador valoroso -, mas ficou na história por ter implantado o sorteio dos touros, contra o todo-poderoso Guerrita, que procurava reservar para si os melhores exemplares.
A «Ilustração Portuguesa» recorda que Luís Mazzantini se estreou em Lisboa em 1885, ainda na praça do Campo de Santana. Com grande êxito, «toureou grátis numa corrida de beneficência promovida pela Srª Duquesa de Palmela e patrocinada por S.M. a Rainha Senhora D. Maria Pia.» Outras actuações se sucederam, nomeadamente nas corridas que inauguraram a praça do Campo Pequeno, em 1892. Depois de retirado, Mazzantini dedicou-se à política, tendo sido governador civil de Ávila e Guadalajara e exercido cargos importantes no ayuntamiento de Madrid. (Imagens: «Ilustração Portuguesa», 29 de Março de 1909)

2 comentários:

PCastelo disse...

Olá! Como leitor alerto para o possível erro no início deste post. Onde está "Em Março de 2009" talvez seja "Em Março de 1909"?

Cumprimentos,

Pedro Castelo

alberto franco disse...

Tem toda a razão. Obrigado pela correcção.