A grande maioria dos espectáculos taurinos em Portugal concentra-se, hoje, a sul da linha do Tejo. Porém, tempos houve em que as corridas de touros foram muito populares no Norte do país, como atesta o investigador matosinhense Horácio Marçal, na sua brochura «Touradas, Toureiros e Tauródromos no Porto, Gaia e em Matosinhos» (1971).
No Porto, a tradição remontará a 24 de Junho de 1785, quando ali foi realizada uma tourada incluída, muito possivelmente, nos festejos do casamento do futuro D. João VI com D. Carlota Joaquina. Segundo Horácio Marçal, o acontecimento teve lugar «em praça especialmente construída para o efeito, no lugar da Torrinha, à estrada de Cedofeita.» Oito anos depois, em 2 de Junho de 1793, efectua-se outro espectáculo «em redondel também propositadamente erguido no então Campo de Santo Ovídio (actual Praça da República)», para comemorar o nascimento da infanta Maria Teresa. «A aludida praça de touros, rematada por uma série de balaústres e pirâmides, com portas em arco de meia volta ladeadas por colunas dóricas encimadas pelas armas da cidade, era de formato octogonal e de agradável concepção.»
Outros tauródromos terão existido no Porto setecentista. Contudo, de fonte segura, só em 1869 e 1870 há notícia da construção de novas praças: em Cadouços, Foz do Douro, por iniciativa «do popular e conhecido alquilador Raimundo dos Santos Natividade»; num terreno na Avenida da Boavista, obra do empreiteiro José Moreira de Matos, e ainda «no Largo da Aguardente (actual Praça Marquês de Pombal)». Nestes recintos actuaram cavaleiros de nomeada, como Francisco Carlos Batalha e Manuel Mourisca Júnior, e os melhores bandarilheiros portugueses.
No entanto, os melhores redondéis do Porto foram o Coliseu Portuense (em cima) e a praça da Rua da Alegria. O primeiro foi edificado em 1889, quando «o proprietário da Ourivesaria Viseense, na Rua de Santo António, Lopes Pereira, e o seu amigo e associado Joaquim Vieira de Magalhães, dois grandes aficionados da Festa Brava, resolveram constituir uma sociedade - Empresa Coelho Pereira & Magalhães - para a construção e exploração duma nova praça de touros». Projectada pelo engenheiro Estêvão Torres, foi inaugurada em 28 de Julho de 1889. «Era toda de cantaria, muito elegante, reunindo na sua construção tudo quanto havia de mais moderno», salienta Horácio Marçal.
Pela arena do Coliseu passaram os grandes cavaleiros, amadores e profissionais, da época: o marquês de Castelo Melhor, os viscondes de Alverca e da Várzea, D. Luís do Rego, Fernando de Oliveira, Alfredo Tinoco e Manuel Casimiro. A pé, matadores espanhóis da categoria de Guerrita, Espartero e Cara Ancha. Só os resultados financeiros não eram positivos, e por isso o Coliseu foi demolido em 1898. Seguiu-se-lhe a praça da Rua da Alegria (em baixo). Inaugurada em 4 de Maio de 1902, era «de madeira, ao gosto árabe, com uma lotação para 7000 pessoas». Nela se exibiram cavaleiros como José Casimiro o Morgado de Covas, José Bento de Araújo e outros. Entre os diestros espanhóis que nela compareceram destacam-se António Fuentes, Lagartijo, os irmãos Bombita, Machaquito, Manuel Mejías Bienvenida e Joselito, na quadrilha dos Niños Sevilllanos. Em 1920 a praça da Rua da Alegria já não existia, pois nesse ano forma-se a Sociedade Tauromáquica Portuense, com o fim de construir «uma nova e grande praça de touros na Areosa». O tauródromo, sito num terreno de 6500 metros quadrados, foi palco de corridas, mas também de outros espectáculos, como combates de boxe. Ardeu em 1926, num «incêndio inexplicável», que «em quarenta e cinco minutos apenas, reduziu-a a cinzas.» Foi esta, de acordo com Horácio Marçal, a última praça de touros do Porto.
sábado, 17 de abril de 2010
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5 comentários:
Caro Alberto
A Tauromaquia Alegre faz muitas referências à Praça da Serra do Pilar.
Sabe alguma coisa desta Praça?
Tenho uma imagem de uma praça de toiros que esteve sedeada na actual rotunda da boavista. Se precisar posso enviar-lha por mail. parabéns pelo valor do blogue. Helder Milheiro heldermilheiro@netcabo.pt
Caro Luís
Tenciono falar dela no próximo post sobre o tema. Obrigado pelo seu interesse.
Obrigado, Helder.
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