sábado, 10 de abril de 2010

A Pepe Luiz Vásquez, nos 60 anos de alternativa


Esse tímido colegial de resplendor trigueiro
na cabeça tão fina qual caroço de um fruto
é um toureiro novo de Sevilha a velha
que os antigos saberes perpetua e destila.

Ninguém sabe em que aulas cursou trívio e quadrívio.
Dizem que ao matadouro, como um Rembrandt obsesso,
acorria para ler nas vísceras violáceas
e nas rubras o signo do seu feliz planeta.


Menino entre os doutores da ciência do açougue
-que cena para um quadro soberbo de Velásquez!-
junto aos rostos cruéis do satânico ofício
espreita o seu, ainda mal florido de penugem.


Mas vede-o feito «outro Marte»: a nobre espada,
não a faca vulgar, na dextra já ungida,
e a borla suprema da escolástica jovial
como auréola simbólica por trás da fronte de ouro.


Para o touro em estátua, solene se encaminha.
Um passo, dois, três, quatro e uma ordem desdenhosa.
O negro touro observa-o, avalia-o, rumina-o
e na confusa noite de ferido instinto aguarda.


Agora já não são passos. É a alegre corrida
de longe e o repentino, encarniçado arranque
da receosa fera. Já é Marte contra Júpiter.
Que colisão -angústia- de duas órbitas lançadas.


Mas não. A sorte pode salvar-se a puro risco.
A astrologia pinta com firme pulso canho
o arco do destino. As entranhas não mentem.
Pepe Luis sorri ante a obra perfeita.


A essência de um toureio de cristal fino, fino,
a elegância que ignora a própria natureza,
a transparência encontraram já seu curso.
E sob o sol de Espanha há um toureiro novo.

Gerardo Diego (tradução de José Bento)

2 comentários:

Enrique Martín disse...

Recomiendo la entrevista que se le hace al maestro en ABC, donde en dos pinceladas hace un retrato exacto de lo que es el toreo y la fiesta actual, a la que tilda de "Corrientucha"

alberto franco disse...

Obrigado pela informação, caro Enrique. A entrevista está disponível em http://www.abc.es/20100404/toros-toros/toreo-esta-arraigado-corazon-20100404.html