«Chama-me o Sr. Pepe Luís ao proscénio do seu livro, atido ao fútil prestígio do meu nome, e um tanto me lisonjeia. Eu sou um selvagem das serranias alpestres do Norte, já tive ocasião de lho dizer, e o Ribatejo com a planura, a fita argêntea do rio, horizontes que só vão acabar onde começa a fímbria da névoa, manadas de toiros e cavalos, e aqui e além cegonhas e mais cegonhas pontuando a paisagem com a sua linha heráldica, tira-me para fora das minhas dimensões e exalta-me. No meu rincão abrupto o que há é penedal, cabras por cima dos penedos, e consequentemente lobos. Os heróis locais fizeram-se de lazarina atochada de zagalotes ou de sacholo de peta na luta homérica com as alcateias. (...)
Eu sempre admirei a nobre arte de Montes e tudo o que lhe é adstrito. (...) Não me nasceram os dentes a rabejar novilhos pela charneca, nem a correr atrás da boiada levado à rédea solta do galope do campino, a borboleta verde do barrete a esvoaçar e a linha trémula do pampilho a iriar ao sol como a vara de Moisés. Mas o nosso etos recupera-se e, mercê da vontade, temos a possibilidade de o fazer convergir para qualquer rumo da rosa dos ventos. Assim me aconteceu. Quer acreditar que o meu segundo artigo, há que mundos isso foi!, versava sobre toiros e toiradas? (...)
Chicuelo, Pepe Hillo, Bombita, Gallito, todos esses que, depois de haver imobilizado o toiro, rendido magnificamente à arte suprema, colocam o pinchazo com mais precisão e segurança como manda a física das distâncias (...), como não havia de admirá-los o pobre de mim, que vim a este mundo para me espantar de tudo o que é raro, grande, extraordinário, suprassumo...?! (...)
Para mim é ponto de fé que o foot-ball e seus anexos hão-de passar como os andaços e o toireio persistirá em virtude do raizame que tem na idiossincrasia da terra ibérica. (...)
(Imagem: Aquilino Ribeiro, por Maluda)
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