segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

A triste história do sobrinho-neto de Schopenhauer

Os factos são relatados por El Zubi, no blog Mano a Mano: Félix Guzmán, um novilheiro mexicano que foi promessa do toureio no início dos anos 40, era sobrinho-neto do célebre filósofo alemão Arthur Schopenhauer. O fim trágico do toureiro -morto pelo novilho Reventón, em 30 de Maio de 1943 - parece confirmar o pessimismo filosófico do seu ilustre antepassado, que escreveu: «A felicidade não passa de um sonho, e a dor é real».
De seu verdadeiro nome Felice Kutmann Schopenhauer, o novilheiro nasceu em Mixcoac, em 1923, filho de pai italiano e mãe alemã. Para fugir à pobreza que marcou a sua infância, Félix sonha ser toureiro. Depois de uma via sacra pelas capeas, lidando gado de duvidosas procedências, veste-se de luces pela primeira vez em 1939, em Tehuacán. Mas o seu nome só começou a soar com força em 1941, depois duma actuação triunfal na praça da Colónia de la Condesa, em que cortou orelhas e rabo. O público baptizou-o como El Torero Niño, pelos seus traços quase infantis.
Guzmán era valente, mas a sua inexperiência levava-o a ser facilmente colhido. «Toureava de forma impresionante, com muito valor, mas poucos recursos, pelo que o seu toureio era emocionante e angustioso», lê-se no Mano a Mano. «A sua arte era dramática, com centelhas de pureza clássica, era uma autêntica bomba nas mãos de um rapazinho indouto, irresponsável e arriscado.»
A 30 de Maio de 1943, foi anunciado na praça El Toreo da capital mexicana, com José Luis Vázquez e Arturo Fregoso, frente a novilhos de Heriberto Rodríguez. Na lide do seu segundo, de nome Reventón, El Torero Niño é colhido ao terceiro passe. A ferida na virilha é grave, mas Félix continua a tourear, até despachar o adversário. Segundo as crónicas, foi para a enfermaria pelo seu próprio pé. Dois dias depois sobrevém a tragédia: declara-se-lhe uma gangrena, que acaba por matá-lo a 2 de Junho de 1943. Ao que parece, terá sido vítima de negligência médica, pois a autópsia descobriu restos da taleguilla no interior da ferida.
Para dar uma nota ainda mais triste ao acontecimento, o filho que Félix esperava da sua mulher, Carmen Rovira, nasceu morto. E a sua mãe, filha de uma irmão de Schopenhauer, enlouqueceu. «A felicidade não passa de um sonho, e a dor é real».

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