Alguém chamou ao cartaz «um grito na parede». Porque quando o cartaz era o principal meio publicitário ou propagandístico, e as paredes das ruas o seu espaço natural, ele devia ter a força de um grito capaz de atrair a atenção de quem passava. No antigo e variadíssimo universo dos cartazes, destacam-se os que anunciavam a realização de corridas de toiros: os cartéis taurinos.
Em Espanha, o primeiro cartel assinalado é de 1737. Publicita uma função taurina em Madrid, apenas com a actuação de cavaleiros. Entre nós, a inexistência de estudos nesta matéria não permite uma datação precisa. Mas sabe-se que em meados do século XVIII os programas das corridas realizadas no Terreiro do Paço eram afixados num mastro colocado no centro da praça. Uma notícia de 18 de Agosto de 1752, publicada na «Gazeta de Lisboa», reza: «A 11 se fixou no Mastro do Terreiro do Paço (índice da festividade dos Touros) um Edital pelo qual se adverte a todos que esta terá princípio na segunda-feira, 28 deste mês.»
Begoña Torres González, estudiosa do cartel taurino, escreve que durante o século XVIII os cartéis são «de formato horizontal, enquadrados por uma orla tipográfica e um título com a fórmula de rigor: ‘O Rei Nosso Senhor (que Deus guarde) foi servido de assinalar…’. Este esquema mantém-se ininterrupto até aos anos 40 do século XIX» (revista «Museo», nº 3, 1998). A partir daí verificam-se mudanças. O cartel adquire um formato vertical e «as tradicionais fórmulas da realeza» desaparecem, «para anotar unicamente, em grandes maiúsculas: ‘Praça de Touros de…’».
Exemplo destas alterações é um cartel da praça do Campo de Santana, de 1860: vertical, com o nome da praça e o número de reses a lidar em grande destaque. Com menor realce, o nome do cavaleiro – Diogo Henriques Bettencourt- e dos bandarilheiros. Como era típico dos cartéis da época, os caracteres são de diferentes tipos. Salientem-se os pesados caracteres que compõem a frase «14 TOUROS», decorados com elementos vegetalistas.
A simplicidade destes primeiros prospectos, realça Begoña Torres González, deriva do facto do cartel taurino se tratar «de um tipo de impresso eminentemente popular», que não requeria um tipo de letra único, nem tinha «preocupações estéticas ou de originalidade.» Mas esta situação alterou-se, como adiante veremos.
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