Em 1910, a temporada taurina no Campo Pequeno iniciou-se a 27 de Março, domingo de Páscoa, como era tradicional. Cartel misto, com os cavaleiros José Bento de Araújo e José Casimiro, o matador espanhol António Pazos e os bandarilheiros portugueses Teodoro, Cadete, Ribeiro Tomé e Manuel dos Santos, na lide de touros de Emílio Infante da Câmara. O nome do grupo de forcados interveniente não é referido pela revista «Ilustração Portuguesa», de 4 de Março de 1910, que informa que a corrida se realizou «debaixo de água». Mesmo assim, o público não arredou pé. Quanto ao resultado artístico, o «trabalho de cavaleiros e bandarilheiros agradou bastante, bem como o do espada Pazos, que soube conquistar as simpatias do público. Sem aquelas bátegas de água, que ainda assim não afugentaram os espectadores, teria sido um magnífico espectáculo a corrida com que se inaugurou a presente época no Campo Pequeno.»
José Bento de Araújo e José Casimiro, recorde-se, foram dois dos mais populares cavaleiros do início do século passado. Era a época do touro corrido, anterior ao fulgurante aparecimento de João Núncio, que introduziu na lide a cavalo um rigor e uma feição artística de que até aí carecia. Quanto a António Pazos, era um matador de mediana categoria. Doutorado em 1909, por Manuel Mejías Bienvenida, o seu nome ficou sobretudo conhecido por ter testemunhado a alternativa de Joselito, na feira sevilhana de San Miguel de 1912.
quarta-feira, 31 de março de 2010
terça-feira, 30 de março de 2010
Ganadaria Grave investe no turismo taurino
A ganadaria Murteira Grave começou a apostar no turismo taurino, através da promoção de visitas à herdade da Galeana, onde é possível observar, no seu habitat natural, os já lendários touros da casa.
Situada no concelho de Mourão, a Galeana possui um notável valor paisagístico e tem na sua proximidade diversos pontos de interesse para o visitante. É o caso da barragem de Alqueva, da vila de Monsaraz e de S. Pedro do Corval, o maior centro oleiro do país. Segundo o site do ganadeiro, os visitantes «são transportados em reboques preparados e com total segurança, para visitar a ganadaria. Além de lotes de vacas com os sementais, podem ver-se os toiros de muito perto, constituindo um espectáculo emocionante.» O programa inicia-se com um aperitivo de boas-vindas, às 10h30m. Segue-se um passeio à herdade com observação dos touros, às 11h, e um almoço típico num antigo celeiro, às 14h. As visitas terminam às 17h. Em época de tentaderos, podem os mesmos constar do programa.
Situada no concelho de Mourão, a Galeana possui um notável valor paisagístico e tem na sua proximidade diversos pontos de interesse para o visitante. É o caso da barragem de Alqueva, da vila de Monsaraz e de S. Pedro do Corval, o maior centro oleiro do país. Segundo o site do ganadeiro, os visitantes «são transportados em reboques preparados e com total segurança, para visitar a ganadaria. Além de lotes de vacas com os sementais, podem ver-se os toiros de muito perto, constituindo um espectáculo emocionante.» O programa inicia-se com um aperitivo de boas-vindas, às 10h30m. Segue-se um passeio à herdade com observação dos touros, às 11h, e um almoço típico num antigo celeiro, às 14h. As visitas terminam às 17h. Em época de tentaderos, podem os mesmos constar do programa.
segunda-feira, 29 de março de 2010
Um grito na parede: origem e evolução do cartel taurino (II)
A Revolução Industrial (séculos XVIII-XIX) veio mecanizar e automatizar as artes gráficas. Surgem novas técnicas como a litografia e a cromolitografia, que vieram aperfeiçoar os desenhos e facilitar a impressão a cores. Aplicadas ao cartel taurino a partir de 1880, estas novas técnicas beneficiaram-no notavelmente. O tosco grafismo dos cartéis originários é substituído por imagens de apurada elaboração, cheias de detalhes e elementos decorativos, monocromáticas umas, outras com várias cores. Outra novidade desta época é o aparecimento dos chamados «programas de mão». Aos cartéis murais, de dois e mais metros, juntam-se folhetos de pequenas dimensões, que são distribuídos ao público.
A transição entre os séculos XIX e XX é marcada culturalmente por uma diversidade de correntes: romantismo tardio, simbolismo, modernismo. As artes gráficas reflectem esta variedade de estilos e vivem momentos de fulgor. O cartelismo taurino é enriquecido com novos motivos e linguagens. Exploram-se as distintas fases da festa, com uma ou várias cenas que vão desde os touros no campo até ao momento da lide. Num registo barroco, sobrecarrega-se o conjunto com todo o tipo de símbolos: cabeças de touros, leques, utensílios da lide, grinaldas, brasões, etc.. Há todo um efeito teatral de «cartel dentro do cartel». Veja-se o que aqui se reproduz, datado de 1915. À luz de um candeeiro (é a inauguração das touradas nocturnas no Campo Pequeno...) um grupo de espectadores aponta para os nomes dos lidadores, o cavaleiro José Casimiro e o matador Agustín García Malla, numa composição de magnífico efeito.
sexta-feira, 26 de março de 2010
Praças de touros de Lisboa (III)
A praça de touros do Campo de Santana, uma das de maior historial de Lisboa, foi inaugurada em 3 de Julho de 1831. Na presença do rei D. Miguel e da infanta D. Maria da Assunção, sua irmã, foram lidados, nada menos que 16 touros, pertencentes à ganadaria real. A cavalo luziram-se João Ferreira Grilo e António Máximo de Amorim Veloso, e a pé os espadas Sebastião Garcia e Pedro José Rodrigues. Actuou ainda um grupo de forcados, presumivelmente do Ribatejo.
Diz o conde de Sabugosa, no seu livro «Embrechados», que a decisão de construir a praça partiu do próprio soberano. «Um dia que o infante D. Miguel, então aclamado rei, determinou dar uma tourada em benefício duma obra de caridade, soube que o empresário da velha praça do Salitre», José Serrate, «levantava dificuldades e regateava pelo preço do aluguer». D. Miguel mandou então chamar o seu amigo Sedvem, famoso cavaleiro, «encarregou-o de dirigir a obra de construção imediata de uma nova praça, sem olhar a despesas, e fez publicar um decreto que dava à Real Casa Pia o privilégio da receita daquela e de outras praças nalgumas léguas em redor. Ficou o D. José Serrate a chuchar no dedo e o público contente com o circo novo e com a pirraça feita ao onzeneiro director.»
Apesar da piada desta versão sobre a origem da velha praça, os factos parecem ter sido diferentes. Em primeiro lugar, o privilégio da Casa Pia de que fala o conde de Sabugosa, foi atribuído àquela instituição logo em 1821, por decreto de D. João VI. O que D. Miguel fez, segundo a edição de 8 de Setembro de 1830 da «Gazeta de Lisboa», foi confirmar este direito, a requerimento do administrador - hoje chamar-se-ia provedor - da Casa Pia, António Joaquim dos Santos. Afirma D. Miguel que «Hei por bem confirmar a mercê de que goza a mesma Casa Pia, e que lhe foi conferida por el-rei meu senhor e pai, que Santa Glória haja, de serem somente em seu benefício permitidas as corridas de touros na cidade de Lisboa.»
No mesmo decreto, e também a requerimento do provedor, diz o rei: «E hei outrossim por bem, deferindo ao que o dito administrador me suplicou, conceder licença para que no Campo de Santa Ana se possa construir para o dito fim, uma praça de touros na forma da planta que será com este; sendo a despesa da sua construção suprida pelo cofre da sobredita Real Casa Pia, com tal regularidade, e economia, que por este motivo não falte às outras despesas indispensáveis daquele tão subtil estabelecimento.» Ou seja: D. Miguel licencia a construção da praça, de acordo com planta anexa ao decreto, correndo os custos do empreendimento por conta da Casa Pia.
A praça localizar-se-ia onde actualmente se encontra a Faculdade de Medicina. A sua planta foi da autoria do arquitecto camarário Malaquias Ferreira Leal e, rezam os registos, era feita de madeira e tinha capacidade para seis mil espectadores.
Pelo Campo de Santana passaram afamados cavaleiros amadores, caso do conde de Vimioso e do marquês de Castelo Melhor, e também profissionais, como Francisco Carlos Batalha e Manuel Mourisca Júnior. Na lide dita à espanhola, os espectadores aplaudiram os históricos matadores Cúchares, Frascuelo, Lagartijo, Mazzantini e Gordito. Este último, considerado no seu tempo um ás das bandarilhas, terá aprendido boa parte da técnica com os bandarilheiros portugueses que se exibiam no Campo de Santana. Entre eles, destacavam-se João Alberto Rebelo (João Barbeiro), Joaquim Russo, José de Sousa Cadete, António Roberto da Fonseca e seus filhos, Roberto e Vicente, João da Cruz Calabaça, José Joaquim Peixinho e Manuel Botas.
«O público elegia favoritos. Gostava das suíças loiras dos irmãos Robertos, do penteado burocrático do gordo Peixinho», escreve o conde de Sabugosa. «Tinha também antipatias invencíveis. E ai da vítima que pretendia desforçar-se, manifestar mesmo um movimento de mau humor, resistir!»
O encerramento e demolição da praça do Campo de Santana, em 1889, foi ditado pelas suas escassas condições de segurança, que faziam temer um desastre semelhante ao ocorrido no teatro Baquet, no Porto, que provocou mais de cem mortos. O desaparecimento da praça provocou as mágoas de muitos lisboetas. Prossegue o conde de Sabugosa: «Na poeira que levantavam ao desmoronarem-se os muros pintados a vermelho, as tábuas azuis e brancas, as trincheiras e os palanques, iam os últimos ecos de muitas tardes alegres, do estalar festivo dos foguetes, dos trombones desafinados da fanfarra da Casa Pia, mugidos dos bois, pregões do homem dos pastelinhos e água fresca, assobios estrídulos da multidão, piadas do sol gritadas por vozes avinhadas e roucas troçando do lavrador, do inteligente, lançando trocadilhos petulantes, que faziam rir cinco mil bocas numa gargalhada.»
Diz o conde de Sabugosa, no seu livro «Embrechados», que a decisão de construir a praça partiu do próprio soberano. «Um dia que o infante D. Miguel, então aclamado rei, determinou dar uma tourada em benefício duma obra de caridade, soube que o empresário da velha praça do Salitre», José Serrate, «levantava dificuldades e regateava pelo preço do aluguer». D. Miguel mandou então chamar o seu amigo Sedvem, famoso cavaleiro, «encarregou-o de dirigir a obra de construção imediata de uma nova praça, sem olhar a despesas, e fez publicar um decreto que dava à Real Casa Pia o privilégio da receita daquela e de outras praças nalgumas léguas em redor. Ficou o D. José Serrate a chuchar no dedo e o público contente com o circo novo e com a pirraça feita ao onzeneiro director.»
Apesar da piada desta versão sobre a origem da velha praça, os factos parecem ter sido diferentes. Em primeiro lugar, o privilégio da Casa Pia de que fala o conde de Sabugosa, foi atribuído àquela instituição logo em 1821, por decreto de D. João VI. O que D. Miguel fez, segundo a edição de 8 de Setembro de 1830 da «Gazeta de Lisboa», foi confirmar este direito, a requerimento do administrador - hoje chamar-se-ia provedor - da Casa Pia, António Joaquim dos Santos. Afirma D. Miguel que «Hei por bem confirmar a mercê de que goza a mesma Casa Pia, e que lhe foi conferida por el-rei meu senhor e pai, que Santa Glória haja, de serem somente em seu benefício permitidas as corridas de touros na cidade de Lisboa.»
No mesmo decreto, e também a requerimento do provedor, diz o rei: «E hei outrossim por bem, deferindo ao que o dito administrador me suplicou, conceder licença para que no Campo de Santa Ana se possa construir para o dito fim, uma praça de touros na forma da planta que será com este; sendo a despesa da sua construção suprida pelo cofre da sobredita Real Casa Pia, com tal regularidade, e economia, que por este motivo não falte às outras despesas indispensáveis daquele tão subtil estabelecimento.» Ou seja: D. Miguel licencia a construção da praça, de acordo com planta anexa ao decreto, correndo os custos do empreendimento por conta da Casa Pia.
A praça localizar-se-ia onde actualmente se encontra a Faculdade de Medicina. A sua planta foi da autoria do arquitecto camarário Malaquias Ferreira Leal e, rezam os registos, era feita de madeira e tinha capacidade para seis mil espectadores.
Pelo Campo de Santana passaram afamados cavaleiros amadores, caso do conde de Vimioso e do marquês de Castelo Melhor, e também profissionais, como Francisco Carlos Batalha e Manuel Mourisca Júnior. Na lide dita à espanhola, os espectadores aplaudiram os históricos matadores Cúchares, Frascuelo, Lagartijo, Mazzantini e Gordito. Este último, considerado no seu tempo um ás das bandarilhas, terá aprendido boa parte da técnica com os bandarilheiros portugueses que se exibiam no Campo de Santana. Entre eles, destacavam-se João Alberto Rebelo (João Barbeiro), Joaquim Russo, José de Sousa Cadete, António Roberto da Fonseca e seus filhos, Roberto e Vicente, João da Cruz Calabaça, José Joaquim Peixinho e Manuel Botas.
«O público elegia favoritos. Gostava das suíças loiras dos irmãos Robertos, do penteado burocrático do gordo Peixinho», escreve o conde de Sabugosa. «Tinha também antipatias invencíveis. E ai da vítima que pretendia desforçar-se, manifestar mesmo um movimento de mau humor, resistir!»
O encerramento e demolição da praça do Campo de Santana, em 1889, foi ditado pelas suas escassas condições de segurança, que faziam temer um desastre semelhante ao ocorrido no teatro Baquet, no Porto, que provocou mais de cem mortos. O desaparecimento da praça provocou as mágoas de muitos lisboetas. Prossegue o conde de Sabugosa: «Na poeira que levantavam ao desmoronarem-se os muros pintados a vermelho, as tábuas azuis e brancas, as trincheiras e os palanques, iam os últimos ecos de muitas tardes alegres, do estalar festivo dos foguetes, dos trombones desafinados da fanfarra da Casa Pia, mugidos dos bois, pregões do homem dos pastelinhos e água fresca, assobios estrídulos da multidão, piadas do sol gritadas por vozes avinhadas e roucas troçando do lavrador, do inteligente, lançando trocadilhos petulantes, que faziam rir cinco mil bocas numa gargalhada.»
quarta-feira, 24 de março de 2010
Um grito na parede: origem e evolução do cartel taurino (I)
Alguém chamou ao cartaz «um grito na parede». Porque quando o cartaz era o principal meio publicitário ou propagandístico, e as paredes das ruas o seu espaço natural, ele devia ter a força de um grito capaz de atrair a atenção de quem passava. No antigo e variadíssimo universo dos cartazes, destacam-se os que anunciavam a realização de corridas de toiros: os cartéis taurinos.
Em Espanha, o primeiro cartel assinalado é de 1737. Publicita uma função taurina em Madrid, apenas com a actuação de cavaleiros. Entre nós, a inexistência de estudos nesta matéria não permite uma datação precisa. Mas sabe-se que em meados do século XVIII os programas das corridas realizadas no Terreiro do Paço eram afixados num mastro colocado no centro da praça. Uma notícia de 18 de Agosto de 1752, publicada na «Gazeta de Lisboa», reza: «A 11 se fixou no Mastro do Terreiro do Paço (índice da festividade dos Touros) um Edital pelo qual se adverte a todos que esta terá princípio na segunda-feira, 28 deste mês.»
Begoña Torres González, estudiosa do cartel taurino, escreve que durante o século XVIII os cartéis são «de formato horizontal, enquadrados por uma orla tipográfica e um título com a fórmula de rigor: ‘O Rei Nosso Senhor (que Deus guarde) foi servido de assinalar…’. Este esquema mantém-se ininterrupto até aos anos 40 do século XIX» (revista «Museo», nº 3, 1998). A partir daí verificam-se mudanças. O cartel adquire um formato vertical e «as tradicionais fórmulas da realeza» desaparecem, «para anotar unicamente, em grandes maiúsculas: ‘Praça de Touros de…’».
Exemplo destas alterações é um cartel da praça do Campo de Santana, de 1860: vertical, com o nome da praça e o número de reses a lidar em grande destaque. Com menor realce, o nome do cavaleiro – Diogo Henriques Bettencourt- e dos bandarilheiros. Como era típico dos cartéis da época, os caracteres são de diferentes tipos. Salientem-se os pesados caracteres que compõem a frase «14 TOUROS», decorados com elementos vegetalistas.
A simplicidade destes primeiros prospectos, realça Begoña Torres González, deriva do facto do cartel taurino se tratar «de um tipo de impresso eminentemente popular», que não requeria um tipo de letra único, nem tinha «preocupações estéticas ou de originalidade.» Mas esta situação alterou-se, como adiante veremos.
Em Espanha, o primeiro cartel assinalado é de 1737. Publicita uma função taurina em Madrid, apenas com a actuação de cavaleiros. Entre nós, a inexistência de estudos nesta matéria não permite uma datação precisa. Mas sabe-se que em meados do século XVIII os programas das corridas realizadas no Terreiro do Paço eram afixados num mastro colocado no centro da praça. Uma notícia de 18 de Agosto de 1752, publicada na «Gazeta de Lisboa», reza: «A 11 se fixou no Mastro do Terreiro do Paço (índice da festividade dos Touros) um Edital pelo qual se adverte a todos que esta terá princípio na segunda-feira, 28 deste mês.»
Begoña Torres González, estudiosa do cartel taurino, escreve que durante o século XVIII os cartéis são «de formato horizontal, enquadrados por uma orla tipográfica e um título com a fórmula de rigor: ‘O Rei Nosso Senhor (que Deus guarde) foi servido de assinalar…’. Este esquema mantém-se ininterrupto até aos anos 40 do século XIX» (revista «Museo», nº 3, 1998). A partir daí verificam-se mudanças. O cartel adquire um formato vertical e «as tradicionais fórmulas da realeza» desaparecem, «para anotar unicamente, em grandes maiúsculas: ‘Praça de Touros de…’».
Exemplo destas alterações é um cartel da praça do Campo de Santana, de 1860: vertical, com o nome da praça e o número de reses a lidar em grande destaque. Com menor realce, o nome do cavaleiro – Diogo Henriques Bettencourt- e dos bandarilheiros. Como era típico dos cartéis da época, os caracteres são de diferentes tipos. Salientem-se os pesados caracteres que compõem a frase «14 TOUROS», decorados com elementos vegetalistas.
A simplicidade destes primeiros prospectos, realça Begoña Torres González, deriva do facto do cartel taurino se tratar «de um tipo de impresso eminentemente popular», que não requeria um tipo de letra único, nem tinha «preocupações estéticas ou de originalidade.» Mas esta situação alterou-se, como adiante veremos.
sábado, 20 de março de 2010
Não haveria Perera sem Ojeda
Figuras como José Tomás, El Juli, Miguel Ángel Perera e Sebastián Castella praticam um toureio de quietude e verticalidade, feito de passes ligados num palmo de terreno. A sua técnica é o resultado de muitos anos de depuração do toureio, de aprofundamento do conhecimento do touro e dos seus terrenos. E também de «afinação» da bravura, que permite que o toureiros de hoje se coloquem em terrenos dantes considerados inverosímeis. Não haveria Tomás ou Perera se não tivessem existido Belmonte - dos primeiros a pisar terrenos «proibidos»-, Manolete - com o seu dramático estatismo -, El Cordobés - uma técnica prodigiosa, apesar dos impulsos clownescos- ou Paco Ojeda - a quietude, a ligação e o arrojo vestidos de luces. De Ojeda é esta faena na praça francesa de Dax, em Agosto de 1987, a um pupilo de Zalduendo, bronco e perigoso. Observe-se o valor de Ojeda perante a brusquidão e o constante cabecear do touro, sem uma dúvida, sem uma hesitação... E o alarde final, com o touro e o público rendidos ao poderio do toureiro de Sanlúcar.(Imagens:phiphi64)
sexta-feira, 19 de março de 2010
quinta-feira, 18 de março de 2010
Tauromaquias do mundo: a «course landaise»
A course landaise, ou corrida landesa, é uma forma de tauromaquia popular que se pratica no Sudoeste de França, sobretudo na região da Gasconha. As suas raízes são remotas. Sabe-se que em 1457 existia já o costume de correr vacas e touros pelas ruas da cidade de Saint Sever, por ocasião das festas de S. João. No entanto, só no século XIX assumiu a sua feição actual.
A course landaise realiza-se numa arena de forma rectangular, arredondada num dos extremos. Os seus protagonistas são o écarteur e o sauteur; actualmente, os animais são vacas bravas comuns, que substituiram as vacas de raça landesa. As reses estão emboladas e os seus movimentos são controlados por uma corda. A emoção deste género de corrida deriva dos movimentos realizados por écarteurs e sauteurs. Com hábeis movimentos de corpo, o écarteur «finta» a vaca, fazendo-a passar pela cintura ou junto dos rins; por sua vez, o sauteur é especialista em saltar sobre a rês, com a audácia e a elegância dum acrobata. Actualmente existem 324 «toureiros» landeses e 15 ganadarias que criam vacas para a course.
quarta-feira, 17 de março de 2010
Por falar em mexicanos...
Através de laaldeadetauro, tivemos acesso ao site dedicado ao matador mexicano Silvério Pérez, um dos grande ases do toureiro asteca dos anos 40 e 50. Clicando aqui, ficaremos a conhecer melhor a carreira daquele a quem chamaram o Faraón de Texcoco, e a quem Agustín Lara dedicou um belíssimo pasodoble. Silvério Pérez, outro dos mexicanos que passaram por Portugal, faleceu em 2005.
terça-feira, 16 de março de 2010
Mexicanos em Portugal
Enquanto aguardavam o fim da proibição, numerosos toureiros mexicanos radicaram-se em Portugal, em busca de oportunidades e de fama. Uns eram já figuras no México, como o já referido Armillita, Silvério Pérez, Luis Procuna ou Fermín Rivera; outros, pelo contrário, não passavam de ilustres desconhecidos.
Alguns matadores mexicanos tinham já obtido assinalável êxito em praças portuguesas na primeira metade da década de 30. Foi o caso de Luís Castro, El Soldado, que obtém clamorosos triunfos no Campo Pequeno. «Toda a gente sabia que numa corrida em que actuasse El Soldado veria tourear com emoção e fossem quais fossem as condições dos toiros, alguma coisa de bom lhe seria dado observar», escreveu Jaime Duarte de Almeida («Os Mexicanos em Portugal»). Na senda de El Soldado, os seus compatriotas Lorenzo Garza e Ricardo Torres deixaram também excelentes credenciais entre nós.
Uma segunda vaga de diestros astecas chega a Portugal em 1943. Conta o aficionado e ganadeiro Francisco Palha Botelho Neves que «um ‘taurino’ desembaraçado e esperto, de nome Júlio Ginja, concertou com a empresa do Campo Pequeno, então regida pelo cambista José Ricardo Domingues, a contratação em grupo de vários ‘espadas’ mexicanos». Ginja deslocou-se ao México e ali contratou, com a promessa dum mínimo «de uma ou duas corridas no Campo Pequeno», os espadas Felipe González, Antonio Rangel, Leopoldo Ramos, Arturo Álvarez Vizcaíno, Carlos Vera Cañitas e Gregório García. Como condição, impôs que «cada toureiro importasse consigo e em seu nome, para Portugal, um automóvel novo.»
Esta exigência tinha pouco de taurino, mas muito de prático. Viviam-se então os anos da II Guerra Mundial, e a importação de veículos era extremamente limitada. Graças à esperteza de Ginja, o parque automóvel português foi enriquecido com novos exemplares. O «aparecimento de viaturas de procedência americana em Lisboa – e sendo tais veículos automóveis de grande luxo – deu nas vistas e alcançaram tais carros valores verdadeiramente especulativos», acrescenta Botelho Neves. Foi por isso que «se passaram a identificar os automóveis de luxo como ‘espadas’, adjectivo que se vem mantendo até aos dias de hoje.» («Novo Burladero», nº 40)
Do lote de mexicanos contratado por Ginja destacou-se Gregório García, que se estreou no Campo Pequeno em 20 de Junho de 1943, com João Núncio, Simão da Veiga e o diestro espanhol El Estudiante.
O mexicano foi o indiscutível triunfador e a grande surpresa da tarde. «Gregório não impressionou pela arte, nem pela técnica, nem pelo sabor», admite o crítico Solilóquio. «Mas desprendia-se dele um não sei quê, um sortilégio, mistura explosiva de destemor, arrogância e simpatia, que desde os primeiros instantes em que se abriu de capa prenderam as gentes, não mais as largaram.» («A Última Tarde»).
Em pouco tempo Gregório tornou-se um ídolo. «Os táxis, os telefones, o correio, o telégrafo, os grooms dos cafés e dos dancings, tudo se mexeu num ritmo acelerado durante a estadia de Gregório no nosso País. Era Gregório por toda a parte!...» O público feminino adorava o mexicano. «À saída da praça, as mulheres perdiam-se dos maridos na ânsia de ver e tocar aquele que vinha do desconhecido surpreender e desarrumar tudo» («Diamantino Vizeu: memórias de um toureiro»). Só outro matador mexicano conseguiu aproximar-se da popularidade de Gregório: Carlos Arruza, que com o seu estilo desembaraçado e comunicativo também triunfou em Portugal.
segunda-feira, 15 de março de 2010
Matador
O poeta desdobra a sua capa
está na página em branco a luz e oiro
para lidar o verso que lhe escapa
como o toiro na arena como o toiro.
Um natural. Depois um derechazo
para quebrar do verso o negro impulso
buscando aquela parte do cachaço
onde se enterra a espada até ao pulso.
E pode então cortar rabos e orelhas
agradecer aos tércios: matador
sob as farpas do sol. Torres vermelhas.
Sai o poetas aos ombros: luz e oiro
enquanto um verso jaz de negra cor
como o toiro na arena como o toiro.
Manuel Alegre («Sonetos do Obscuro Quê»)
está na página em branco a luz e oiro
para lidar o verso que lhe escapa
como o toiro na arena como o toiro.
Um natural. Depois um derechazo
para quebrar do verso o negro impulso
buscando aquela parte do cachaço
onde se enterra a espada até ao pulso.
E pode então cortar rabos e orelhas
agradecer aos tércios: matador
sob as farpas do sol. Torres vermelhas.
Sai o poetas aos ombros: luz e oiro
enquanto um verso jaz de negra cor
como o toiro na arena como o toiro.
Manuel Alegre («Sonetos do Obscuro Quê»)
sábado, 13 de março de 2010
Praças de touros de Lisboa (II)
A praça de touros do Salitre, situada nos terrenos da rua com o mesmo nome, terá sido construída entre 1777 e 1780. Rodovalho Duro afirma que a praça foi inaugurada em 4 de Junho de 1790. No entanto, o olissipógrafo Gustavo de Matos Sequeira teve notícia «por alguns bilhetes de entrada que escaparam ao lixo, de terem havido corridas no Salitre antes de 1790» («Depois do Terramoto», vol.II).
Foi seu construtor e primeiro empresário o boticário João Gomes Varela, que, segundo Matos Sequeira, «também empunhava o rojão e sobraçava a capa de toureiro a pé». De acordo com o mesmo autor, a praça «era sobre o quadrado. De um lado do anfiteatro tinha camarotes, para os aficionados de cotação social, destinando-se um deles à autoridade que era, então, o corregedor do bairro dos Remolares; do outro lado, lugares de sombra e sol. Em toda a volta, bancadas para o povo miúdo. Posteriormente alterou-se o aspecto do tauródromo e a forma quadrada foi adoçada de modo a apresentar um círculo. Assim era em 1879, antes da demolição.»
Pisaram a arena do Salitre cavaleiros como João António Maria Gambetta, José António de Sousa Belo, João Ferreira Grilo e António Máximo de Amorim Veloso. A pé, terão actuado os bandarilheiros António do Carmo Faria, Pedro Rodrigues e José Rodrigues e ainda Sebastião Garcia, também conhecido por Calabaça. Este último terá nascido em Espanha e aí actuado como matador entre 1816 e 1820. «Apesar de ter boa figura e grande simpatia no ruedo e fora dele, o seu trabalho não era muito aceitável», o que o levou a emigrar para Portugal (José Maria de Cossío, «Los Toros», vol. 3).
Sebastião Garcia tornou-se popularíssimo no nosso país, sendo considerado um dos melhores lidadores da sua época. Amigo e confidente do rei D. Miguel, encontrou a morte junto deste. «Quando D. Miguel, nos derradeiros dias do seu reinado esteve em Santarém, talvez já suspeitando de que em breve ficaria privado do seu divertimento favorito, organizou algumas brincadeiras, num pátio da cidade. Numa delas, Calabaça saiu para o touro que o carregou obrigando-o a tentar escapar-se por um janela que um campino estupidamente fechou, dando em resultado o toureiro ser colhido com tal gravidade que das feridas veio a morrer no hospital de Santarém» (Francisco Câncio, «Arquivo Alfacinha», vol. I).
Foi seu construtor e primeiro empresário o boticário João Gomes Varela, que, segundo Matos Sequeira, «também empunhava o rojão e sobraçava a capa de toureiro a pé». De acordo com o mesmo autor, a praça «era sobre o quadrado. De um lado do anfiteatro tinha camarotes, para os aficionados de cotação social, destinando-se um deles à autoridade que era, então, o corregedor do bairro dos Remolares; do outro lado, lugares de sombra e sol. Em toda a volta, bancadas para o povo miúdo. Posteriormente alterou-se o aspecto do tauródromo e a forma quadrada foi adoçada de modo a apresentar um círculo. Assim era em 1879, antes da demolição.»
Pisaram a arena do Salitre cavaleiros como João António Maria Gambetta, José António de Sousa Belo, João Ferreira Grilo e António Máximo de Amorim Veloso. A pé, terão actuado os bandarilheiros António do Carmo Faria, Pedro Rodrigues e José Rodrigues e ainda Sebastião Garcia, também conhecido por Calabaça. Este último terá nascido em Espanha e aí actuado como matador entre 1816 e 1820. «Apesar de ter boa figura e grande simpatia no ruedo e fora dele, o seu trabalho não era muito aceitável», o que o levou a emigrar para Portugal (José Maria de Cossío, «Los Toros», vol. 3).
Sebastião Garcia tornou-se popularíssimo no nosso país, sendo considerado um dos melhores lidadores da sua época. Amigo e confidente do rei D. Miguel, encontrou a morte junto deste. «Quando D. Miguel, nos derradeiros dias do seu reinado esteve em Santarém, talvez já suspeitando de que em breve ficaria privado do seu divertimento favorito, organizou algumas brincadeiras, num pátio da cidade. Numa delas, Calabaça saiu para o touro que o carregou obrigando-o a tentar escapar-se por um janela que um campino estupidamente fechou, dando em resultado o toureiro ser colhido com tal gravidade que das feridas veio a morrer no hospital de Santarém» (Francisco Câncio, «Arquivo Alfacinha», vol. I).
sexta-feira, 12 de março de 2010
quarta-feira, 10 de março de 2010
Tauromaquias do mundo: o «jallikattu»
O confronto entre homens e touros assume múltiplas versões. Todas as regiões do mundo onde existem reses bravas têm as suas tauromaquias, com raizes que se estendem a tempos remotos e quase sempre com conotações religiosas. No estado de Tamil Nadu, no sul da Índia, realiza-se todos os anos o Pongal, uma festividade religiosa hindu que visa celebrar as colheitas. Um dos pontos altos do festival é o jallikattu, uma modalidade que consiste em imobilizar touros bravos de raças autóctones como a gaur. Os vencedores recebem prémios, que consistem muitas vezes em sacos de dinheiro que estão amarrados aos cornos do animal.
terça-feira, 9 de março de 2010
Praças de touros de Lisboa (I)
Antes do século XVIII, em Lisboa como noutras cidades da Península Ibérica, dificilmente se pode falar na existência de praças de touros como hoje as conhecemos. Isto é, imóveis com carácter permanente, construídos com o objectivo de neles se realizarem regularmente espectáculos tauromáquicos. Até esse período, os festejos taurinos realizados em Lisboa tinham lugar em praças públicas, como o Rossio e o Terreiro do Paço, ou em tauródromos de pequena dimensão, construídas por reis e nobres para seu recreio pessoal. Foi o caso da praça de Xabregas, mandada edificar por D. Sebastião, por volta de 1575. No século XVII, o da dominação filipina e das guerras da Restauração, o figurino não mudou substancialmente. À falta de recintos mais adequados, as funções tauromáquicas mais importantes, como as touradas em honra da realeza, efectuavam-se em praças públicas.
Mas chega o século XVIII - e com ele uma nova concepção dos espectáculos públicos. Para acomodar um público gradualmente mais exigente, erguem-se praças de touros na Junqueira, em 1738, no Largo da Anunciada, em 1739, no Campo Pequeno, em 1740, e na Estrela, em 1763. Esta última, situada no Casal da Estrela, um arrabalde lisboeta onde existiam hortas, terá sido uma das mais notáveis. A praça tinha forma oitavada e estava adornada com estátuas.
A crer numa portaria de 18 de Maio de 1763, a praça da Estrela foi edificada a petição das freiras clarissas do mosteiro de Sacavém, para a realização de uma série de seis espectáculos tauromáquicos, que lhes permitissem terminar a capela do convento. Destes espectáculos não há notícias. Há, isso sim, de uma corrida ali realizada, também em 1763, organizada por Francisco de Matos Pereira Souto, criado do infante D. Pedro, descrita na «Nova relação e verdadeira notícia exposta ao público, das magníficas e vistosas festas de toiros que se hão-de celebrar no sítio do casal da Estrela...».
Mas chega o século XVIII - e com ele uma nova concepção dos espectáculos públicos. Para acomodar um público gradualmente mais exigente, erguem-se praças de touros na Junqueira, em 1738, no Largo da Anunciada, em 1739, no Campo Pequeno, em 1740, e na Estrela, em 1763. Esta última, situada no Casal da Estrela, um arrabalde lisboeta onde existiam hortas, terá sido uma das mais notáveis. A praça tinha forma oitavada e estava adornada com estátuas.
A crer numa portaria de 18 de Maio de 1763, a praça da Estrela foi edificada a petição das freiras clarissas do mosteiro de Sacavém, para a realização de uma série de seis espectáculos tauromáquicos, que lhes permitissem terminar a capela do convento. Destes espectáculos não há notícias. Há, isso sim, de uma corrida ali realizada, também em 1763, organizada por Francisco de Matos Pereira Souto, criado do infante D. Pedro, descrita na «Nova relação e verdadeira notícia exposta ao público, das magníficas e vistosas festas de toiros que se hão-de celebrar no sítio do casal da Estrela...».
Gallito em Aveiro
José Gomez Ortega (1895-1920), também conhecido como Gallito ou Joselito, foi para muitos o maior toureiro de todos os tempos. Com Juan Belmonte, Gallito protagonizou a Idade de Ouro do toureio, que terminou na arena de Talavera de la Reina, quando o toiro Bailador o colheu mortalmente.
Joselito iniciou a sua carreira como bezerrista, integrado na quadrilha infantil dos Niños Sevillanos, na qual fazia duo com José Garate Limeño. Os Niños Sevillanos actuaram em diversas praças portuguesas na primeira década do século passado, com assinalável êxito. O mais novo dos Gallos, com os seus 13 ou 14 anos, já estão dava mostras do genial toureiro que viria a ser.
A morte de Gallito comoveu todo o planeta taurino. A revista «Ilustração Portuguesa», na sua edição de 31 de Maio de 1920, recordou a passagem dos Niños Sevillanos por Aveiro, onde participaram numa corrida organizada pelo Clube Mário Duarte. Na imagem, possivelmente datada de 1908, vemos os jovens Joselito e Limeño, ao lado dum bandarilheiro.
O Clube Mário Duarte, fundado pelo célebre desportista aveirense do mesmo nome, caracterizava-se por ter uma secção de tauromaquia, a par de secções de futebol, esgrima, remo e ciclismo. O próprio Mário Duarte (1869-1939), avô do poeta e político Manuel Alegre, distinguiu-se como toureiro amador, tendo sido bandarilheiro e cavaleiro.
Joselito iniciou a sua carreira como bezerrista, integrado na quadrilha infantil dos Niños Sevillanos, na qual fazia duo com José Garate Limeño. Os Niños Sevillanos actuaram em diversas praças portuguesas na primeira década do século passado, com assinalável êxito. O mais novo dos Gallos, com os seus 13 ou 14 anos, já estão dava mostras do genial toureiro que viria a ser.
A morte de Gallito comoveu todo o planeta taurino. A revista «Ilustração Portuguesa», na sua edição de 31 de Maio de 1920, recordou a passagem dos Niños Sevillanos por Aveiro, onde participaram numa corrida organizada pelo Clube Mário Duarte. Na imagem, possivelmente datada de 1908, vemos os jovens Joselito e Limeño, ao lado dum bandarilheiro.
O Clube Mário Duarte, fundado pelo célebre desportista aveirense do mesmo nome, caracterizava-se por ter uma secção de tauromaquia, a par de secções de futebol, esgrima, remo e ciclismo. O próprio Mário Duarte (1869-1939), avô do poeta e político Manuel Alegre, distinguiu-se como toureiro amador, tendo sido bandarilheiro e cavaleiro.
segunda-feira, 8 de março de 2010
quinta-feira, 4 de março de 2010
«Per El Yiyo»: elegia para um toureiro
As obras de tema tauromáquico escasseiam no mercado português. A produção nacional é diminuta e nem sempre o que se publica chega às bancas, por dificuldades de distribuição ou outras. Quanto às obras editadas em países como a França e a Espanha, que são inúmeras, não conseguem vencer os diques do desinteresse dos nossos livreiros. É certo que a Internet está aí, mas nem toda a gente se ajeita a encomendar livros por essa via.
De vez em quando, porém, o mercado reserva-nos surpresas. É o caso de «Per El Yiyo», do poeta francês Bernard Manciet, editado em 2002 pela Campo das Letras. O livro é uma elegia ao toureiro José Cubero El Yiyo, tragicamente morto na praça de Colmenar Viejo, em 1985. Formado por um único poema, dividido em quatro partes, a obra tem uma estrutura dramática, com um conjunto de personagens (o Touro, a Criança, o Primogénito, o Morto) e, à maneira da tragédia grega, um coro.
O seu autor, Bernard Manciet (1923-2005), nasceu em Sabres, cidade do departamento de Landes, no sudoente da França. Grande parte da sua obra foi escrita em gascão, a língua original da região da Aquitânia, onde o poeta nasceu.
De «Per El Yiyo»: «O Touro: Afagas-me com a tua voz ácida e dourada/é como afagar o infortúnio/antigo e o tormento dos mortos/que transporto sobre o coração/mas tem cuidado porque sou avesso a carícias/depois de tantos séculos de amargura/o nosso deus das profundezas não gosta do roçar da/ felicidade/cuidado que não destrua eu o dia» (Tradução de José Nogueira Gil)
De vez em quando, porém, o mercado reserva-nos surpresas. É o caso de «Per El Yiyo», do poeta francês Bernard Manciet, editado em 2002 pela Campo das Letras. O livro é uma elegia ao toureiro José Cubero El Yiyo, tragicamente morto na praça de Colmenar Viejo, em 1985. Formado por um único poema, dividido em quatro partes, a obra tem uma estrutura dramática, com um conjunto de personagens (o Touro, a Criança, o Primogénito, o Morto) e, à maneira da tragédia grega, um coro.
O seu autor, Bernard Manciet (1923-2005), nasceu em Sabres, cidade do departamento de Landes, no sudoente da França. Grande parte da sua obra foi escrita em gascão, a língua original da região da Aquitânia, onde o poeta nasceu.
De «Per El Yiyo»: «O Touro: Afagas-me com a tua voz ácida e dourada/é como afagar o infortúnio/antigo e o tormento dos mortos/que transporto sobre o coração/mas tem cuidado porque sou avesso a carícias/depois de tantos séculos de amargura/o nosso deus das profundezas não gosta do roçar da/ felicidade/cuidado que não destrua eu o dia» (Tradução de José Nogueira Gil)
quarta-feira, 3 de março de 2010
Quando o título engana
Nasceu em 3 de Maio de 1836 e intitulava-se «O Toureiro». Se o título e a gravura do cabeçalho correspondessem ao conteúdo, poderia ser considerado o primeiro periódico taurino português. Contudo, as aparências iludem: «O Toureiro» não foi um jornal tauromáquico, mas sim uma folha de combate político, de simpatias miguelistas.
«O Toureiro» surge em pleno regime cartista, dois anos após o fim da Guerra Civil e do triunfo do liberalismo. Reinava então D. Maria II, à luz da Carta Constitucional, e D. Miguel partira para o exílio. Porém, as feridas abertas pela guerra não estavam ainda completamente cicatrizadas, e as divisões entre liberais e absolutistas, ou miguelistas, ainda se faziam notar na sociedade portuguesa. Partidário destes últimos, «O Toureiro» propõe-se «farpear os touros da Travessa dos Ladrões» e um tal «Barão dos cofres roubados», «façanhudo devorador». Os redactores d'«O Toureiro» são anónimos, como convinha a quem desafiava a ordem estabelecida. Sabe-se apenas que era impresso na Tipografia Morandiana, na Rua dos Calafates, 134, Lisboa.
«O Toureiro» surge em pleno regime cartista, dois anos após o fim da Guerra Civil e do triunfo do liberalismo. Reinava então D. Maria II, à luz da Carta Constitucional, e D. Miguel partira para o exílio. Porém, as feridas abertas pela guerra não estavam ainda completamente cicatrizadas, e as divisões entre liberais e absolutistas, ou miguelistas, ainda se faziam notar na sociedade portuguesa. Partidário destes últimos, «O Toureiro» propõe-se «farpear os touros da Travessa dos Ladrões» e um tal «Barão dos cofres roubados», «façanhudo devorador». Os redactores d'«O Toureiro» são anónimos, como convinha a quem desafiava a ordem estabelecida. Sabe-se apenas que era impresso na Tipografia Morandiana, na Rua dos Calafates, 134, Lisboa.
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