quarta-feira, 7 de abril de 2010

Um grito na parede: origem e evolução do cartel taurino (III)

A década de 1930 é considerada a «idade de ouro» do cartelismo taurino. O desenvolvimento das técnicas de impressão conjuga-se com o aparecimento de uma plêiade de artistas do cartaz, que tem em Ruano Llopis (1879-1950) e Roberto Domingo (1883-1956) as suas figuras cimeiras. Dos pincéis dos cartelistas nascem composições plenas de vida, luz e dinamismo, numa paleta de tons que recria eloquentemente todo o calor e emoção que rodeia a Festa. Para este aperfeiçoamento contribuiu sobremaneira a revista taurina «La Lidia», que se publicou entre 1882 e 1927. Considerada a melhor da sua época, a revista teve a colaboração de ilustradores de alto nível, como Daniel Perea e Ángel Lizcano, que com a sua imaginação e criatividade abriram novos caminhos à arte do cartelismo taurino.
Os cartéis da «idade de ouro» caracterizam-se pelo abandono do barroquismo que marcava os de eras anteriores. Desaparecem as cenas múltiplas, os ornamentos pesados e o excesso de elementos decorativos. O cartel-tipo de um artista como Ruano Llopis, por exemplo, apresenta uma cena única, em que o elemento dominante pode ser uma figura feminina, uma sorte do toureio ou um touro, pura e simplesmente. Porém, seja com uma manola, um passe de muleta ou um touro de temível trapio, as obras de Ruano Llopis emanam vivacidade e cor. De salientar que os melhores cartéis desta época são produzidos pela mesma casa, a Litografia Ortega, de Valência, ainda hoje existente.
O cartelismo português conhece também melhorias evidentes. Muitos anúncios do Campo Pequeno dos anos 30/40 apresentam um grafismo de alta qualidade, da autoria de ilustradores como Alfredo Morais, Alonso (pseudónimo de Joaquim Guilherme Santos Silva) e outros. De Alonso, reproduz-se um cartel de 26 de Abril de 1931, duma corrida em que participaram os cavaleiros Simão da Veiga e Simão da Veiga Júnior e o matador espanhol Manolo Bienvenida. Ao lado, de autor que não conseguimos identificar (Ant. M. Santos?), um cartel nitidamente influenciado por Ruano Llopis, datado de 8 de Agosto de 1940, com Simão da Veiga e os três dos irmãos Bienvenida, Pepe, António e Ángel Luís.

Um comentário:

Enrique Martín disse...

Resulta curioso contemplar como a lo largo de los años se ha tratado de recoger la máxima esencia del toreo, hasta llegar al punto en que cuando se ve un lance pleno de arte, se dice que es un cartel de toros. El arte pictórico intenta imitar al toreo y el toreo quiere convertirse en pintura.