Uma das primeiras querelas entre defensores e adversários da Festa de toiros em Portugal travou-se nas Cortes, no ano de 1821. O caso foi objecto de investigação da historiadora Odete Gonçalves, que a publicou no nº 64 da revista «História» (Março de 2004).
Tudo começou a 4 de Agosto, quando o deputado Manuel Borges Carneiro apresentou ao Congresso uma moção «para se mandar extinguir o uso de combater os touros». Quem era Borges Carneiro? Nascido em 1774, juiz desembargador de carreira, distinguira-se como membro do Sinédrio, a associação paramaçónica do Porto que esteve na origem da Revolução Liberal de 1821. Entendia Borges Carneiro que juntamente com o Estado absolutista deveriam cair tradições como as touradas, cujo carácter popular chocava com o espírito «iluminado» do tempo. Como salientava na sua moção, «há outras classes de espectáculos mais acomodáveis às luzes da época como a música, os jogos, etc., e não martirizar [sic] estes animais que a Divindade deu somente aos homens para se servirem deles».
A questão dividiu as Cortes, com uns deputados a manifestarem-se contra a proposta e outros a favor. Porém, num ponto todos estavam de acordo: a proibição do espectáculo taurino seria uma medida extremamente impopular. O deputado Bettencourt, por exemplo, lembrava que já o governo anterior manobrara nesse sentido, «mas nunca pôde conseguir que deixasse de haver corridas de touros ». De resto, era um espectáculo que «à primeira vista parece bárbaro [mas] tem não sei quê de heróico». Mais claro, o deputado Santos requeria: «devemos conservar este espectáculo que é propriamente nacional e que por mais bárbaro que pareça, não contribui pouco para inspirar a emulação da glória, e fortalecer o ânimo em vez de afeminá-lo».
Mas a argumentação de maior peso parece ter cabido ao deputado Manuel Fernandes Tomás, outro destacado protagonista da Revolução Liberal, a quem se devem as bases da Constituição de 1822. «Eu o declaro publicamente, sou amigo deste divertimento: não é por ser valoroso, nem deixar de o ser (…) senão porque fui criado com isso», explica Fernandes Tomás, que era natural da Figueira da Foz. «Na teoria sou dos mesmos sentimentos filantrópicos; mas na prática não posso. Confesso a minha fraqueza: vou ver os touros todos os domingos». A moção acabou por ser rejeitada, com 43 votos contra e 30 a favor. Manuel Fernandes Tomás continuou a ir aos touros todos os domingos. (Imagem: M.F.Tomás, por Veloso Salgado)
Tudo começou a 4 de Agosto, quando o deputado Manuel Borges Carneiro apresentou ao Congresso uma moção «para se mandar extinguir o uso de combater os touros». Quem era Borges Carneiro? Nascido em 1774, juiz desembargador de carreira, distinguira-se como membro do Sinédrio, a associação paramaçónica do Porto que esteve na origem da Revolução Liberal de 1821. Entendia Borges Carneiro que juntamente com o Estado absolutista deveriam cair tradições como as touradas, cujo carácter popular chocava com o espírito «iluminado» do tempo. Como salientava na sua moção, «há outras classes de espectáculos mais acomodáveis às luzes da época como a música, os jogos, etc., e não martirizar [sic] estes animais que a Divindade deu somente aos homens para se servirem deles».
A questão dividiu as Cortes, com uns deputados a manifestarem-se contra a proposta e outros a favor. Porém, num ponto todos estavam de acordo: a proibição do espectáculo taurino seria uma medida extremamente impopular. O deputado Bettencourt, por exemplo, lembrava que já o governo anterior manobrara nesse sentido, «mas nunca pôde conseguir que deixasse de haver corridas de touros ». De resto, era um espectáculo que «à primeira vista parece bárbaro [mas] tem não sei quê de heróico». Mais claro, o deputado Santos requeria: «devemos conservar este espectáculo que é propriamente nacional e que por mais bárbaro que pareça, não contribui pouco para inspirar a emulação da glória, e fortalecer o ânimo em vez de afeminá-lo».
Mas a argumentação de maior peso parece ter cabido ao deputado Manuel Fernandes Tomás, outro destacado protagonista da Revolução Liberal, a quem se devem as bases da Constituição de 1822. «Eu o declaro publicamente, sou amigo deste divertimento: não é por ser valoroso, nem deixar de o ser (…) senão porque fui criado com isso», explica Fernandes Tomás, que era natural da Figueira da Foz. «Na teoria sou dos mesmos sentimentos filantrópicos; mas na prática não posso. Confesso a minha fraqueza: vou ver os touros todos os domingos». A moção acabou por ser rejeitada, com 43 votos contra e 30 a favor. Manuel Fernandes Tomás continuou a ir aos touros todos os domingos. (Imagem: M.F.Tomás, por Veloso Salgado)
2 comentários:
Perdón por no poder escribir en portugués, pero menos mal que la moción no prosperó y que todavía siga habiendo toros en Portugal y en todos los paises en los que hay quien quiere arrancarse una parte de su historia, su tradición y su cultura.
Un saludo
Me gusta, es super interesante lo que has escrito.
Postar um comentário