domingo, 31 de janeiro de 2010
«Lawrence» das arenas
Da vasta filmografia do actor inglês Peter O'Toole não consta nenhuma película de temática taurina. No entanto, O'Toole chegou a envergar o traje de luces, como demonstra a foto que se reproduz. A imagem foi obtida em Sevilha, no início dos anos 60, por ocasião da rodagem de «Lawrence da Arábia», famoso épico do realizador britânico David Lean. Ao lado de Peter O'Toole vemos John Fulton, matador e pintor de nacionalidade americana, radicado em Espanha. Fulton, que faleceu em 1998, tem uma associação dedicada a preservar a sua memória, a John Fulton Society, cuja página merece uma visita.
sábado, 30 de janeiro de 2010
Pinto Barreiros no Campo Pequeno em 1913
Pinto Barreiros é uma das ganadarias portuguesas de maior historial. Iniciou-se com a compra por José Lacerda Pinto Barreiros, em 1925, da ganadaria de António Guerra, bandarilheiro e irmão de Guerrita. Contudo, o lavrador português optou por sacrificar as reses de Guerra e formar outra ganadaria, com vacas de Félix Suárez e de Gamero Cívico e sementais deste último. Os produtos da nova ganadaria apresentaram-se oficialmente em 1931, datando desse ano a sua antiguidade. Para a história do toureio ficou, entre outros, o touro Ratón, lidado por Manolete em 6 de Julho de 1944, em Madrid, ao qual o Monstruo de Córdova terá instrumentado a melhor faena da sua vida.
Saliente-se, no entanto, que José Lacerda Pinto Barreiros já lidava toiros em praças portuguesas pelo menos desde 1913. Data de 13 de Junho desse ano a sua estreia no Campo Pequeno, numa corrida nocturna integrada nas Festas da Cidade de Lisboa. O celebérrimo matador mexicano Rodolfo Gaona e os cavaleiros Morgado de Covas e Manuel Peres lidaram dez toiros do «lavrador-criador do Carregado, sr. José Pinto Barreiros».
terça-feira, 26 de janeiro de 2010
«Confesso a minha fraqueza: vou ver os touros todos os domingos»
Uma das primeiras querelas entre defensores e adversários da Festa de toiros em Portugal travou-se nas Cortes, no ano de 1821. O caso foi objecto de investigação da historiadora Odete Gonçalves, que a publicou no nº 64 da revista «História» (Março de 2004).
Tudo começou a 4 de Agosto, quando o deputado Manuel Borges Carneiro apresentou ao Congresso uma moção «para se mandar extinguir o uso de combater os touros». Quem era Borges Carneiro? Nascido em 1774, juiz desembargador de carreira, distinguira-se como membro do Sinédrio, a associação paramaçónica do Porto que esteve na origem da Revolução Liberal de 1821. Entendia Borges Carneiro que juntamente com o Estado absolutista deveriam cair tradições como as touradas, cujo carácter popular chocava com o espírito «iluminado» do tempo. Como salientava na sua moção, «há outras classes de espectáculos mais acomodáveis às luzes da época como a música, os jogos, etc., e não martirizar [sic] estes animais que a Divindade deu somente aos homens para se servirem deles».
A questão dividiu as Cortes, com uns deputados a manifestarem-se contra a proposta e outros a favor. Porém, num ponto todos estavam de acordo: a proibição do espectáculo taurino seria uma medida extremamente impopular. O deputado Bettencourt, por exemplo, lembrava que já o governo anterior manobrara nesse sentido, «mas nunca pôde conseguir que deixasse de haver corridas de touros ». De resto, era um espectáculo que «à primeira vista parece bárbaro [mas] tem não sei quê de heróico». Mais claro, o deputado Santos requeria: «devemos conservar este espectáculo que é propriamente nacional e que por mais bárbaro que pareça, não contribui pouco para inspirar a emulação da glória, e fortalecer o ânimo em vez de afeminá-lo».
Mas a argumentação de maior peso parece ter cabido ao deputado Manuel Fernandes Tomás, outro destacado protagonista da Revolução Liberal, a quem se devem as bases da Constituição de 1822. «Eu o declaro publicamente, sou amigo deste divertimento: não é por ser valoroso, nem deixar de o ser (…) senão porque fui criado com isso», explica Fernandes Tomás, que era natural da Figueira da Foz. «Na teoria sou dos mesmos sentimentos filantrópicos; mas na prática não posso. Confesso a minha fraqueza: vou ver os touros todos os domingos». A moção acabou por ser rejeitada, com 43 votos contra e 30 a favor. Manuel Fernandes Tomás continuou a ir aos touros todos os domingos. (Imagem: M.F.Tomás, por Veloso Salgado)
Tudo começou a 4 de Agosto, quando o deputado Manuel Borges Carneiro apresentou ao Congresso uma moção «para se mandar extinguir o uso de combater os touros». Quem era Borges Carneiro? Nascido em 1774, juiz desembargador de carreira, distinguira-se como membro do Sinédrio, a associação paramaçónica do Porto que esteve na origem da Revolução Liberal de 1821. Entendia Borges Carneiro que juntamente com o Estado absolutista deveriam cair tradições como as touradas, cujo carácter popular chocava com o espírito «iluminado» do tempo. Como salientava na sua moção, «há outras classes de espectáculos mais acomodáveis às luzes da época como a música, os jogos, etc., e não martirizar [sic] estes animais que a Divindade deu somente aos homens para se servirem deles».
A questão dividiu as Cortes, com uns deputados a manifestarem-se contra a proposta e outros a favor. Porém, num ponto todos estavam de acordo: a proibição do espectáculo taurino seria uma medida extremamente impopular. O deputado Bettencourt, por exemplo, lembrava que já o governo anterior manobrara nesse sentido, «mas nunca pôde conseguir que deixasse de haver corridas de touros ». De resto, era um espectáculo que «à primeira vista parece bárbaro [mas] tem não sei quê de heróico». Mais claro, o deputado Santos requeria: «devemos conservar este espectáculo que é propriamente nacional e que por mais bárbaro que pareça, não contribui pouco para inspirar a emulação da glória, e fortalecer o ânimo em vez de afeminá-lo».
Mas a argumentação de maior peso parece ter cabido ao deputado Manuel Fernandes Tomás, outro destacado protagonista da Revolução Liberal, a quem se devem as bases da Constituição de 1822. «Eu o declaro publicamente, sou amigo deste divertimento: não é por ser valoroso, nem deixar de o ser (…) senão porque fui criado com isso», explica Fernandes Tomás, que era natural da Figueira da Foz. «Na teoria sou dos mesmos sentimentos filantrópicos; mas na prática não posso. Confesso a minha fraqueza: vou ver os touros todos os domingos». A moção acabou por ser rejeitada, com 43 votos contra e 30 a favor. Manuel Fernandes Tomás continuou a ir aos touros todos os domingos. (Imagem: M.F.Tomás, por Veloso Salgado)
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
Tauromaquia «spaghetti»
Embora a Itália não tenha tradição taurina, há notícia da realização de um ciclo de novilhadas mistas em Turim, Roma e outras cidades, no ano de 1923. O facto é recordado pelo blogue elrincondeordonez, que dá conta do espectáculo realizado em Turim. A fonte é a edição de 7 de Julho de 1923 do jornal italiano «La Stampa».
«Turim poderá amanhã disfrutar do espectáculo mais pitoresco e sugestivo que pode oferecer a Espanha no que se refere a diversões», proclamava o periódico. «Roma e as outras principais cidades de Itália já tiveram oportunidade de assistir nas últimas semanas às corridas». Chegava agora a vez de Turim - cidade cujo nome original, Torino, deriva de touro, e cujo brasão ostenta um cornúpeto- se emocionar com as lides do rejoneador Manuel García e dos novilheiros Victor Mariotty, Parejito e José Estrella, acompanhados dos seus bandarillheiros. Os touros pertenciam à ganadaria de António Fuentes e a função teve lugar no Stadium de Turim. O novilheiro Parejito «teve a honra de receber as congratulações e homenagens do Mui Honorável Mussolini, Presidente do Governo».
Além das lides a pé e a cavalo, os espectadores assistiram a um número de «D.Tancredo», ou homem-estátua, e à exibição do recortador Carlos Michelet, que executou «o salto mortal sobre o touro». Reza ainda «La Stampa» que foi estoqueado um touro, depois oferecido a um comité de protecção de crianças.
Touro Andaluz
Há um momento na corrida
em que o espectador também lida.
Quem nos palcos, quem nos tendidos,
quem no sol, quem na sombra rica,
esquece quem, de ouro ou de prata,
ali está a fazer sua faina.
Surge o touro de cabeça alta,
seu desafio é a toda a praça.
Corre em volta, querendo ver
quem com ele vai-se entender;
se essa alta cabeça que leva
há alguém que a baixar se atreva.
Depois, se campa, o olhar derrama,
olhar de carvão, brasa, drama,
chama que dá um calafrio
mesmo em quem mais longe do risco.
João Cabral de Melo Neto («Sevilha Andando»)
em que o espectador também lida.
Quem nos palcos, quem nos tendidos,
quem no sol, quem na sombra rica,
esquece quem, de ouro ou de prata,
ali está a fazer sua faina.
Surge o touro de cabeça alta,
seu desafio é a toda a praça.
Corre em volta, querendo ver
quem com ele vai-se entender;
se essa alta cabeça que leva
há alguém que a baixar se atreva.
Depois, se campa, o olhar derrama,
olhar de carvão, brasa, drama,
chama que dá um calafrio
mesmo em quem mais longe do risco.
João Cabral de Melo Neto («Sevilha Andando»)
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
Guntër Schwaiger apresenta o documentário «Arena»
Foi recentemente apresentado o documentário Arena,
que retrata a saga de um punhado de jovens novilheiros que aspiram a ser figuras do toureio. Realizada pelo austríaco Günter Schwaiger, a película é também uma viagem por Espanha, França, Portugal e Colômbia. Günter Schwaiger dá-nos a conhecer melhor a tauromaquia nesses países, as escolas de toureio e a gente dos toiros. Os novilheiros intervenientes são Juan Guerrero, Juan Duque, Daniel Menes El Dani, Iluminado Menes, Mariano Aumente El Campero e Jesus Mejías El Gallo. Intervém também alunos da Escola de Tauromaquia de Madrid, assim como os matadores José Tomás, Morante de la Puebla, Uceda Leal, Sebastián Castella e Luis Bolívar. Com este documentário, Günter Schwaiger pretendeu aproximar-se da complexidade do fenómeno tauromáquico, «cujas raízes são tão antigas como a civilização ocidental». A obra estreou em Espanha anteontem, 19 de Janeiro, e estreará proximamente na Alemanha, França e Suíça. Esperemos vê-la também em Portugal.
que retrata a saga de um punhado de jovens novilheiros que aspiram a ser figuras do toureio. Realizada pelo austríaco Günter Schwaiger, a película é também uma viagem por Espanha, França, Portugal e Colômbia. Günter Schwaiger dá-nos a conhecer melhor a tauromaquia nesses países, as escolas de toureio e a gente dos toiros. Os novilheiros intervenientes são Juan Guerrero, Juan Duque, Daniel Menes El Dani, Iluminado Menes, Mariano Aumente El Campero e Jesus Mejías El Gallo. Intervém também alunos da Escola de Tauromaquia de Madrid, assim como os matadores José Tomás, Morante de la Puebla, Uceda Leal, Sebastián Castella e Luis Bolívar. Com este documentário, Günter Schwaiger pretendeu aproximar-se da complexidade do fenómeno tauromáquico, «cujas raízes são tão antigas como a civilização ocidental». A obra estreou em Espanha anteontem, 19 de Janeiro, e estreará proximamente na Alemanha, França e Suíça. Esperemos vê-la também em Portugal.
sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
Os touros de Capton
Gilles Capton é um pintor francês que reivindica “a herança dos antigos mestres e o seu ideal de beleza”. Os touros e a sua energia vitalista e selvagem constituem uma das temáticas preferidas deste artista de Orleães.
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
De purísima y oro
Joaquín Sabina é um dos mais originais cantores do país vizinho. Nascido em Úbeda, em 1949, gravou o seu primeiro disco em 1978, com o título «Inventario». Desde então lançou quase uma vintena de obras discográficas, nas quais se revelou um cantautor -cantor e letrista- de alto quilate. Romântico, irónico, atento às coisas do quotidiano, Joaquín Sabina é também um grande aficionado, partidário incondicional de José Tomás. Ao maestro de Galapagar e a outros maestros -Antoñete, Curro Romero- dedicou poemas que tanto nos emocionam como nos fazem sorrir. Ouça-se e leia-se «De purísima y oro», sobre Manolete e o seu tempo. Na voz de Sabina contemplamos um retrato a preto e branco da Espanha do pós-guerra, com Manolete e a sua noiva Lupe Sino em primeiro plano. Ao fundo, o som duma guitarra portuguesa.
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
A triste história do sobrinho-neto de Schopenhauer
Os factos são relatados por El Zubi, no blog Mano a Mano: Félix Guzmán, um novilheiro mexicano que foi promessa do toureio no início dos anos 40, era sobrinho-neto do célebre filósofo alemão Arthur Schopenhauer. O fim trágico do toureiro -morto pelo novilho Reventón, em 30 de Maio de 1943 - parece confirmar o pessimismo filosófico do seu ilustre antepassado, que escreveu: «A felicidade não passa de um sonho, e a dor é real».
De seu verdadeiro nome Felice Kutmann Schopenhauer, o novilheiro nasceu em Mixcoac, em 1923, filho de pai italiano e mãe alemã. Para fugir à pobreza que marcou a sua infância, Félix sonha ser toureiro. Depois de uma via sacra pelas capeas, lidando gado de duvidosas procedências, veste-se de luces pela primeira vez em 1939, em Tehuacán. Mas o seu nome só começou a soar com força em 1941, depois duma actuação triunfal na praça da Colónia de la Condesa, em que cortou orelhas e rabo. O público baptizou-o como El Torero Niño, pelos seus traços quase infantis.
Guzmán era valente, mas a sua inexperiência levava-o a ser facilmente colhido. «Toureava de forma impresionante, com muito valor, mas poucos recursos, pelo que o seu toureio era emocionante e angustioso», lê-se no Mano a Mano. «A sua arte era dramática, com centelhas de pureza clássica, era uma autêntica bomba nas mãos de um rapazinho indouto, irresponsável e arriscado.»
A 30 de Maio de 1943, foi anunciado na praça El Toreo da capital mexicana, com José Luis Vázquez e Arturo Fregoso, frente a novilhos de Heriberto Rodríguez. Na lide do seu segundo, de nome Reventón, El Torero Niño é colhido ao terceiro passe. A ferida na virilha é grave, mas Félix continua a tourear, até despachar o adversário. Segundo as crónicas, foi para a enfermaria pelo seu próprio pé. Dois dias depois sobrevém a tragédia: declara-se-lhe uma gangrena, que acaba por matá-lo a 2 de Junho de 1943. Ao que parece, terá sido vítima de negligência médica, pois a autópsia descobriu restos da taleguilla no interior da ferida.
Para dar uma nota ainda mais triste ao acontecimento, o filho que Félix esperava da sua mulher, Carmen Rovira, nasceu morto. E a sua mãe, filha de uma irmão de Schopenhauer, enlouqueceu. «A felicidade não passa de um sonho, e a dor é real».
Arles debate o movimento antitaurino
Realiza-se a 30 de Janeiro, na cidade francesa de Arles, uma conferência intitulada «O movimento antitaurino - raízes e questões do animalismo contemporâneo», por iniciativa da Societé d'Etudes et de Recherches sur les Tauromachies Européennes (SUERTE). Coordenada por Annie Maillis e Francis Wolff, a conferência propõe-se reflectir sobre a nova argumentação contra as corridas de toiros. «A corrida sempre teve os seus detractores», lê-se no texto de apresentação do acto. O que é novo são os argumentos em nome da defesa dos animais. «Essa defesa é por vezes expressão de uma sensibilidade respeitável: mas ela formula-se muitas vezes em argumentos pretensamente 'ecológicos' ou juízos moralizadores baseados no ddeesconhecimento da ética tauromáquica e da natureza do touro de lide». Com efeito, o animalismo contemporâneo consiste «não em ter uma conduta respeitosa para com os animais, mas em confundi-los a todos com inofensivos animais de companhia, transformados em puros objectos fetichizados. Pode dizer-se que quanto mais os animais são amados, menos são conhecidos». Eis algumas perguntas a que a conferência tentará responder: ««Que aspectos históricos, míticos e simbólicos da animalidade se ocultam nos movimentos animalistas, cada vez mais numerosos e diversos? O animalismo é um 'progresso moral' ou comporta riscos éticos que é necessário avaliar? Porque é que a defesa da corrida é também uma defesa da natureza humana?» O programa do evento pode ser consultado aqui.
domingo, 10 de janeiro de 2010
As teias ocultas do antitaurinismo
Leonardo Anselmi Rafaelli. Segundo o site Mundotoro,
é este o nome do promotor da Iniciativa Legislativa Popular que põe em causa a continuação das corridas de toiros na Catalunha. Rafaelli é uma personagem no mínimo intrigante. Argentino, residente em Barcelona há oito anos, lidera a plataforma anti-taurina PROU e é adepto do veganismo - a corrente animalista mais radical. Diz-se ainda assessor de mais de cem (!) políticos catalães e criador de vinte associações animalistas, para quem a abolição da festa de toiros é uma prioridade. Mas há mais. Profissionalmente, o homem é gerente de projectos no sector da biotecnologia. Na Internet assegura que o seu objectivo profissional «é conseguir uma harmonia quase perfeita» entre a sua «capacidade analítica» e a sua «critividade»... Num editorial inquietante, o Mundotoro interroga-se sobre as relações das organizações antitaurinas com as grandes multinacionais do ramo animal, cujos negócio movimentam muitos milhões. (Imagem: Aníbal Alcino)
sábado, 9 de janeiro de 2010
Quando as grandes empresas mexicanas disputavam Manuel dos Santos
A 10 de Janeiro de 1948, passam agora 52 anos, o «Século Ilustrado» relatava a disputa entre os empresários das praças Monumental e El Toreo - ambas na Cidade do México- por Manuel dos Santos. Escrevia o crítico Pepe Luís que Manuel dos Santos era «um destacado sintoma na ardorosa luta de empresários que utilizaram os meios
extremos para incluir no elenco das suas corridas o valioso toureiro ribatejano. (...) Houvera discussão acesa em duas reuniões da União de Matadores e Novilheiro Mexicanos; analisaram o assunto as comissões de Honor y Justicia de Hacienda; os advogados das empresas deram também o seu parecer; enfim, por pouco que não foi convocada a assembleia geral da ONU para deliberar sobre o caso do toureiro português que acabou por ser considerado artista contratado da El Toreo. O sr. Vallés, da Monumental, derrotado na disputa, movimentou a seu favor alguns orgãos da imprensa que atacaram desabridamente Manuel dos Santos, e outros colocaram-se a favor deste, resultando de toda esta agitação um fantástico reclame ao nosso compatriota». Porém, as coisas compuseram-se e o diferendo terminou com um almoço em que estiveram presentes Vallés, Manuel dos Santos e o seu mentor Patrício Cecílio. «Interessante tudo isto na verdade», conclui Pepe Luís. «Agora só falta um telegrama anunciando o casamento relâmpago de Manuel com a filha de algum abastado proprietário de Ganajuato, Zacatecas ou Tlaxcala».
Nesse início de 1948, Manuel dos Santos encontrava-se numa situação curiosa. Tinha recebido a alternativa em 14 de Dezembro de 1947, no México, das mãos de Armillita Chico. Contudo, nesse mesmo dia sofreu uma violenta cornada, infligida pelo touro da alternativa, Vanidoso, da ganadaria de Pastejé, que o pôs às portas da morte. Como a gravidade da colhida o impediu de estoquear Vanidoso, Manuel dos Santos renunciou ao doutoramento mexicano, e voltou a actuar como novilheiro. O valoroso artista goleganense viria a tornar-se matador a 15 de Agosto de 1948, na Maestranza de Sevilha, apadrinhado por Chicuelo.
domingo, 3 de janeiro de 2010
Passo a citar (VIII)
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