segunda-feira, 13 de abril de 2009

Memória portuguesa do «señor Curro Guillén»

Francisco Herrera Rodríguez, mais conhecido por Curro Guillén, foi um dos mais destacados
matadores de touros dos alvores do século XIX. Nascido em Utrera, em 1783, Guillén cedo começou a colher êxitos em Madrid e Sevilha, alternando com os diestros mais importantes do seu tempo, entre os quais José Romero e Jerónimo José Cândido. Curiosamente, a carreira de Curro Guillén encontra-se ligada a Portugal, país para onde foi «empurrado» pela invasão de Espanha pelas tropas napoleónicas.
O toureiro terá chegado a Lisboa em 1812, na companhia de outros bons lidadores, como Juan Jiménez El Morenillo, e rapidamente se popularizou, não apenas pelos triunfos nas arenas como pela sua personalidade. «Retratos seus, recordações e peças da sua indumentária vendiam-se em Lisboa a altos preços», conta José María de Cossío («Los Toros», III vol.).
A graça e o garbo do sevilhano, «unidos a uma figura gentil e galharda e a um carácter simpático e alegre», conquistaram-lhe «a simpatia de todas as classes sociais lisboetas, e as aventuras e conquistas amorosas que efectuou foram soadas e comentadas por largo tempo.» Ao fim de dois anos, Curro Guillén pensou voltar a Espanha, mas os portugueses tentaram retê-lo de todos os modos. Segundo Cossío, até as autoridades portuguesas «fizeram dispendiosos esforços e ofereceram-lhe grandes somas para que ficasse mais tempo.» Chegaram a mentir-lhe, dizendo que o rei espanhol Fernando VII pensava em acabar com as corridas de toiros. Apesar destas instâncias, Guillén regressou ao seu país, onde prosseguiu a sua triunfante carreira. Esta veio a terminar a 21 de Maio de 1820, na praça de Ronda, quando um toiro de Cabrera lhe inferiu uma cornada mortal. Para a posteridade ficou um verso, deliciosamente hiperbólico, que traduz a grandeza toureira do sevilhano: «Bien puede decir que ha visto/ lo que en el mundo hay que ver/ el que ha visto matar toros/ al señor Curro Guillén».

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