segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Coisas que inquietam

A imprensa taurina do país vizinho anunciou recentemente o fim de três antigas e famosas ganadarias de Salamanca: Atanásio Fernández, Clairac e Sanchéz Fabrés. A notícia seria sempre de lamentar, mas as considerações que sobre o assunto são feitas em alguns blogues, não podem deixar de inquietar os aficionados. Cito, traduzindo, o que se lê no blog Hasta el rabo todo es toro: "Em cada caso há motivos diferentes: problemas sanitários, económicos ou simplesmente será a lei da vida, esta em que os filhos herdam dos pais parte do genoma, dinheiros e fazendas, mas não a afición desmedida ao touro." No entanto, mais do que os problemas enunciados, a razão última da morte de certas ganadarias será o veto das actuais figuras, que preferem toiros mais fáceis - da linha Juan Pedro Domecq- e que oferecem maiores garantias de êxito. Prossegue o blog: "Como nos tempos do alemão baixinho e com franja, tudo o que não seja da 'raça superior' deve ser exterminado". Cada vez que uma dessas figuras mata um Juan Pedro, "está condenando à morte, por exemplo, a um atanásio num pestilento matadouro de Salamanca". (Foto: Manolete e Atanásio Fernández)

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Da Rússia, com afición


Chama-se Loky, é pintora e vive em Moscovo. Declara-se encantada com a cultura, a história e as tradições de Espanha, entre elas a corrida de touros, como arte e como espectáculo. Para mostrar como os seus olhos de artista perspectivam o fenómeno taurino, criou o blog Loca un Poco, no qual se podem apreciar algumas magníficas aguarelas. Para ver e desfrutar.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Artista até de bicicleta

Foi uma das grandes esperanças dos aficionados
sevilhanos do início dos anos 80. E o caso não era para menos: Pepe Luis Vázquez Silva era filho do imenso Sócrates de San Bernardo, um dos mais perfeitos intérpretes do toureio natural, perfumado pelas florituras do duende, que dá fama à capital andaluza. Depois de uma alternativa de sonho - concedida por seu tio Manolo Vázquez, com o apadrinhamento de Curro Romero, em 1981 -, o jovem Pepe Luis não cumpriu as expectativas. Era (é) um toureiro de detalhes, de mão feita para os lentos voos da muleta, e não para a agressividade da estocada. Depois de faenas de arte pura, muitas orelhas se lhe foram por falhar com a espada. Embora não se tenha retirado oficialmente, os contratos foram decaindo. Pepe Luis Vázquez deixou de aparecer nos cartéis, dedicou-se ao ensino, na escola taurina de Sevilha, e a tourear em festivais. A revista «Taurodelta», da empresa que rege a praça de Las Ventas, entrevistou-o no seu último número, revelando um homem de vincada personalidade. Um toureiro de inspiração, sem a capacidade «fuera de lo normal» dos diestros de hoje, que «pegan pases a todos los toros». Toureiro na praça e en la calle, a quem alguém, vendo-o pedalar pelas ruas de Sevilha, disse: «hasta montado en bicicleta tienes arte». (Foto: ambitotoros.blogspot.com)

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Lévi-Strauss e a tauromaquia


O filósofo francês Claude Lévi-Strauss, recentemente falecido, interessou-se pelo fenómeno taurino e reflectiu sobre ele. Xavier Klein, no blog camposyruedos, recorda algumas opiniões do mestre do estruturalismo sobre a matéria. Lévi-Strauss considerava a tauromaquia «um caso de sobrevivência único e atípico», numa sociedade dominada por valores que são tantas vezes a antítese do confronto homem/toiro. Por isso, o filósofo partilhava da opinião daqueles que sublinhavam o apagamento do carácter ritual do toureio e o triunfo da dimensão comercial. Pessimista, temia que, um dia, tudo acabasse numa mascarada, «como os índios que fazem a dança da chuva para agradar aos turistas». As culturas que resistem, salientava, são as que resistem e não transigem quanto aos seus modos de expressão. Essa será a única forma de preservar os valores autênticos do toureio.