quinta-feira, 6 de maio de 2010

Despedidas de António Fuentes


O sevilhano António Fuentes y Zurita (1869-1938) foi um importante toureiro do período de transição entre os séculos XIX e XX, que vai da retirada de Rafael Guerra Guerrita ao advento de José Gómez Ortega Joselito.
Fuentes triunfa numa época de toureiros medianos, que Guerrita, apocalíptico e brutal, caracterizou numa frase célebre: «Después de mi, nadie, y después de nadie... Fuentes» («Depois de mim ninguém, e depois de ninguém... Fuentes»).
A elegância era a maior virtude de António Fuentes. Chamaram-lhe o Petrónio do Toureio, pela forma airosa com que lidava as agrestes reses do seu tempo. Mas tinha defeitos, entre os quais avultavam o deficiente manejo do estoque e uma grande irregularidade, fruto da apatia que muitas vezes demonstrava. Contudo, tal não impedia que os públicos o mimassem e a fina figura do toureiro sevilhano se destacasse entre a geração dos nadie.
Lisboa começou a idolatrar António Fuentes ainda este era apenas bandarilheiro na quadrilha do matador José Sánchez del Campo Cara Ancha. Correspondendo ao interesse da afición portuguesa, o sevilhano compareceu diversas vezes no Campo Pequeno, onde recolheu vibrantes ovações. Naquela que foi a sua primeira retirada, em 1908, Fuentes despediu-se do público lisboeta com uma corrida no Campo Pequeno, em meados daquele ano. A revista «Ilustração Portuguesa» deu grande destaque ao acontecimento, concedendo ao matador honras de capa e duas páginas com fotografias daquela que se pensava ser a última tarde de Fuentes em Lisboa.
Acontece que o diestro deu o dito por não dito e em 1910 reaparece. Regressa ao Campo Pequeno e a imprensa volta a dedicar-lhe atenção. O fotógrafo Joshua Benoliel retrata-o para a «Ilustração Portuguesa», sentado no estribo da trincheira, como um imperador no seu trono. Diminuído de faculdades e lembrando vagamente o extraordinário toureiro que havia sido, arrasta-se por praças da América Latina até 1921.
«O seu toureio era fino, clássico e sumamente elegante», lê-se, sobre António Fuentes, no 3º volume da enciclopédia «Los Toros». Com as bandarilhas, «mostrava-se sempre adornado, preciso e seguro (...) Manejava a muleta como poucos souberam manejá-la, com mesura e galhardia». António Fuentes morreu na sua cidade natal, em 9 de Maio de 1938.

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