terça-feira, 25 de outubro de 2011
Al maestro Antoñete
Esta tarde la sombra está que arde,
esta tarde comulga el más ateo,
esta tarde Antoñete (dios lo guarde)
desempolva la momia del toreo.
Esta tarde se plancha la muleta,
esta tarde se guarda la distancia,
esta tarde el mechón y la coleta
importan porque tienen importancia.
Esta tarde clarines rompehielos,
esta tarde hacen puente las tormentas,
esta tarde se atrasan los mundiales.
Esta tarde se mojan los pañuelos,
esta tarde, en su patio de las Ventas,
descumple años Chenel por naturales.
Joaquín Sabina
segunda-feira, 24 de outubro de 2011
Antoñete agigantou-se em Lisboa
António Chenel, Antoñete, agora desaparecido, toureou um mão cheia de vezes em Portugal, nomeadamente em Lisboa. Uma das suas melhores actuações no Campo Pequeno aconteceu em 1970, num festival a favor das vítimas dum terramoto ocorrido no Perú. Leia-se parte da crónica do crítico Nizza da Silva, publicada no «Diário Popular».
Festival inolvidável no Campo Pequeno
Ontem, no Campo Pequeno, com a praça a abarrotar de gente, realizou-se o festival a favor das vítimas da catástrofe do Perú, organizado por Conchita Cintrón, que resultou num espectáculo inolvidável em que triunfaram o ganadeiro António Cabral de Ascensão, de Brinches, e os matadores de touros António Bienvenida, Manuel dos Santos, Miguel Baez El Litri, António Chenel Antoñete, Amadeu dos Anjos e José Falcão, seis ‘monstros’ do toureio contemporâneo, e Alfonso Navalón, ilustre crítico tauromáquico do jornal «Informaciones».
É muito difícil descrever a beleza do festival porque todos os toureiros se empregaram a fundo para encantarem o público com faenas de antologia que jamais esquecerão.
Os touros, quatro pelo menos, foram maravilhosos, mas é verdade que encontraram adversários com ofício e arte suficientes para brilharem a toda a altura. António Cabral de Ascensão, de Brinches, conquistou ontem o maior triunfo da sua vida e a consagração como ganadeiro excepcional.
António Bienvenida com a sua maestria deu alto nível ao festival. Recebeu o primeiro novilho com belas verónicas lentas, chicuelinas preciosas e rematou com meia verónica, lentamente. Simulou o quite por chicuelinas e Amadeu dos Anjos, jogando os braços com assombrosa tranquilidade desenhou bonitas gaoneras. José Agostinho e Carlos dos Santos cravaram bons pares de bandarilhas. Bienvenida pegou na muleta, brindou o embaixador do Perú e, depois de suaves passes de tenteio, correu a mão em derechazo de superior qualidade. A música tocou e o diestro toureou ao natural, deslocando preguiçosamente o engano em cada passe, até rematar com o forçado de peito clássico. Os aplausos e os olés acompanharam a brilhante faena de António Bienvenida que, entusiasmado, prosseguiu majestoso a tourear ao natural e acabou com adornos preciosos. Simulou a estocada e foi premiado com ovação calorosa, voltou à arena e recebeu chamada até ao centro do redondel.
Manuel dos Santos foi sempre um toureiro de casta e, ontem, no Campo Pequeno, teve uma actuação colossal, talvez em arte pura, uma das melhores da sua vida. As verónicas que executou podem ser classificadas como extraordinárias, assim como as chicuelinas que desenhou a seguir e a faena de muleta, assombrosa em qualidade, foi um tratado de tauromaquia. Muletazos, impregnados de temple, com princípio, meio e fim, em que o inimigo nunca lhe tocou na muleta provocaram delírio nas bancadas e Manuel dos Santos, tal como há vinte anos, saboreou o prazer do triunfo alcançado O público em pé atirou-lhe flores, prendas e obrigou-o a dar três voltas triunfais ao redondel.
Miguel Baez El Litri não teve sorte com o touro que lhe saiu mas resolveu o problema com valentia e saber. Boas chicuelinas e uma faena de muleta a consentir e a mandar. O público apreciou a sua boa vontade e obrigou-o a dar a volta ao ruedo.
Em quarto lugar saiu um touro extraordinário e, com ele, Antoñete bordou uma actuação fora de série que pôs em delírio a assistência.
Lindas verónicas e um espectacular quite por alto rematado com elegância. Brindou a faena a Conchita e os primeiros muletazos, a dobrar e a levar o touro para os médios obrigaram a música a tocar. Depois tranquilo, elegante, majestoso, Antoñete toureou pela direita e ao natural. A emoção apoderou-se do público e Antoñete agigantou-se e toureou maravilhosamente e, quando simulou a estocada, os aplausos foram ensurdecedores. Voltas ao ruedo, outra com o ganadeiro, ainda outra com os companheiros e, sozinho, agradeceu no centro da arena.(...)
Festival inolvidável no Campo Pequeno
Ontem, no Campo Pequeno, com a praça a abarrotar de gente, realizou-se o festival a favor das vítimas da catástrofe do Perú, organizado por Conchita Cintrón, que resultou num espectáculo inolvidável em que triunfaram o ganadeiro António Cabral de Ascensão, de Brinches, e os matadores de touros António Bienvenida, Manuel dos Santos, Miguel Baez El Litri, António Chenel Antoñete, Amadeu dos Anjos e José Falcão, seis ‘monstros’ do toureio contemporâneo, e Alfonso Navalón, ilustre crítico tauromáquico do jornal «Informaciones».
É muito difícil descrever a beleza do festival porque todos os toureiros se empregaram a fundo para encantarem o público com faenas de antologia que jamais esquecerão.
Os touros, quatro pelo menos, foram maravilhosos, mas é verdade que encontraram adversários com ofício e arte suficientes para brilharem a toda a altura. António Cabral de Ascensão, de Brinches, conquistou ontem o maior triunfo da sua vida e a consagração como ganadeiro excepcional.
António Bienvenida com a sua maestria deu alto nível ao festival. Recebeu o primeiro novilho com belas verónicas lentas, chicuelinas preciosas e rematou com meia verónica, lentamente. Simulou o quite por chicuelinas e Amadeu dos Anjos, jogando os braços com assombrosa tranquilidade desenhou bonitas gaoneras. José Agostinho e Carlos dos Santos cravaram bons pares de bandarilhas. Bienvenida pegou na muleta, brindou o embaixador do Perú e, depois de suaves passes de tenteio, correu a mão em derechazo de superior qualidade. A música tocou e o diestro toureou ao natural, deslocando preguiçosamente o engano em cada passe, até rematar com o forçado de peito clássico. Os aplausos e os olés acompanharam a brilhante faena de António Bienvenida que, entusiasmado, prosseguiu majestoso a tourear ao natural e acabou com adornos preciosos. Simulou a estocada e foi premiado com ovação calorosa, voltou à arena e recebeu chamada até ao centro do redondel.
Manuel dos Santos foi sempre um toureiro de casta e, ontem, no Campo Pequeno, teve uma actuação colossal, talvez em arte pura, uma das melhores da sua vida. As verónicas que executou podem ser classificadas como extraordinárias, assim como as chicuelinas que desenhou a seguir e a faena de muleta, assombrosa em qualidade, foi um tratado de tauromaquia. Muletazos, impregnados de temple, com princípio, meio e fim, em que o inimigo nunca lhe tocou na muleta provocaram delírio nas bancadas e Manuel dos Santos, tal como há vinte anos, saboreou o prazer do triunfo alcançado O público em pé atirou-lhe flores, prendas e obrigou-o a dar três voltas triunfais ao redondel.
Miguel Baez El Litri não teve sorte com o touro que lhe saiu mas resolveu o problema com valentia e saber. Boas chicuelinas e uma faena de muleta a consentir e a mandar. O público apreciou a sua boa vontade e obrigou-o a dar a volta ao ruedo.
Em quarto lugar saiu um touro extraordinário e, com ele, Antoñete bordou uma actuação fora de série que pôs em delírio a assistência.
Lindas verónicas e um espectacular quite por alto rematado com elegância. Brindou a faena a Conchita e os primeiros muletazos, a dobrar e a levar o touro para os médios obrigaram a música a tocar. Depois tranquilo, elegante, majestoso, Antoñete toureou pela direita e ao natural. A emoção apoderou-se do público e Antoñete agigantou-se e toureou maravilhosamente e, quando simulou a estocada, os aplausos foram ensurdecedores. Voltas ao ruedo, outra com o ganadeiro, ainda outra com os companheiros e, sozinho, agradeceu no centro da arena.(...)
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
Fialho de Almeida e a Festa Brava
“Embalde alguns preciosos faniquentos, tomando por bondade de índole caquexias passivas de carácter, embalde eles tentaram pregar a selvajaria das touradas, explicando o entusiasmo geral por ferocidade de instintos, e sentimentalizando o boi com litanias românticas de chochinhas. Todas as almas foram surdas à mariqueria desses bolas, e às invectivas deles pedindo a proibição das corridas e a prorrogação ao touro das regalias que a Carta Constitucional garante ao homem, um desusado clamor fremiu das bocas, e as trinta e sete praças de Portugal encheram-se de gente, a aclamar fora de si touros e toureiros.”
Cortante, burlesco, indigesto, terror de “faniquentos” e “chochinhas”, eis Fialho de Almeida n’ “Os Gatos”, a propósito das tentativas de proibição do espectáculo tauromáquico. O escritor de Vila de Frades, que morreu faz agora um século, apreciava as corridas de touros e dedicou-lhe múltiplos escritos, nos quais expressou os seus pontos de vista sobre a sociedade portuguesa de finais do século XIX, com acutilância e inventividade linguística. Ou não fosse ele próprio “um ser vigoroso e taurino”, como o definiu António Cândido Franco numa entrevista recente ao “Diário do Alentejo”.
Seria Fialho dos aficionados que compareciam religiosamente aos domingos na praça do Campo de Santana e depois na do Campo Pequeno? Não se sabe. O certo é que a sua escrita sobre a matéria denota conhecimento de causa e agudeza de análise. O Fialho que escreve na revista “Sol e Sombra” sobre “O Problema Taurino”, não é um diletante, mas sim alguém que identifica certeiramente os males que corrompiam os festejos taurinos em Portugal - que não eram, bem vistas as coisas, muito diferentes dos que afligiam o País. As críticas do escritor alentejano ao ambiente tauromáquico e seus protagonistas acabam por ser uma extensão da crítica cerrada com que mimoseou a toda a sociedade do seu tempo.
Nos seus escritos taurinos, Fialho lamenta amargamente a decadência da bravura dos touros portugueses, equivalente ao declínio das elites nacionais. “As raças que há, tirante a Palha Blanco, afalcoam, e dizem os sabedores que a domesticidade secular lhes corrompeu o tipo, o sangue e o génio impetuoso, por uma civilização semelhante à que fez resvalar a cavalaria de Cristo do guerreiro san-graliano do século XIII, ao boticário eleitoral do século XIX”, escreve em “À Esquina”.
De toureiros não andávamos melhor. “Sangue toureiro, propriamente, não há”, proclama Fialho. “Essa efervescência selvática, que foi nos séculos heróicos de Portugal uma como derivante da vida máscula das viagens e das batalhas, sobras de força, esbanjadas pela mocidade em jogos atléticos e simulacros de combates, tem-se perdido quase por completo, desde que a aristocracia hipotecada e expulsa dos seus coutos, veio para a cidade aposentar os filhos em bêbados da Tendinha, fiscais da alfândega ou pretendidos de meninas ricas com avaria.” Denotando uma notável capacidade de antecipação, Fialho aconselha alguns aristocratas que toureavam como amadores a porem de parte preconceitos de classe e a profissionalizarem-se. António Perestrelo, Simão da Veiga ou Duarte Pinto Coelho, “lá poderiam, posto de banda o preconceito de que picar toiros é modo de vida humilhante, deixar pudores fictícios que os recluem num simples diletantismo, e entrar francamente na vida do trasteio, prestes a fazerem dela instrumento de glória e de fortuna.” O futuro deu-lhe razão: no século XX, o toureio mostrou-se incompatível com amadorismos, excepção feita aos forcados, e seguiu o caminho da profissionalização.
Aos forcados dedica Fialho palavras azedas. De facto, a grande maioria dos pegadores de touros do século XIX eram homens que viviam nas margens da sociedade e que encaravam a actividade apenas como forma de ganhar alguns cobres. Segundo o sociólogo José Machado Pais, os forcados pertenciam a uma "marginalidade socialmente integrada”, formada por “prostitutas, fadistas, marialvas, toureiros, boleeiros, vagabundos e marinheiros.” Alcoólicos muitos deles, arrastavam para as praças a decadência e a miséria que suportavam no seu dia-a-dia. Pelo contrário, para Fialho a pega devia ser uma mostra de masculinidade e destreza. “Em vez de oito borrachões injectados de estupidez, envelhecidos em tombos, fazendo vida de gladiadores sórdidos, e morrendo quase todos do deboche adstrito às semanas de ociosidade, por que não faremos das pegas um certame de vida máscula, com inscrição facultada a todos os rapazes destemidos, aos clubes de desportismo atlético, aos jovens ginastas e traga-balas da cidade?”
A questão dos touros de morte punha-se já no tempo de Fialho. Nesta matéria, a posição do autor de ”O País das Uvas” não deixa margem para dúvidas: é abertamente favorável à corrida integral. “Sorte de morte. Querem-na todos, e ninguém toma a iniciativa de pedi-la, e legiferante algum se atreve a decretá-la.” O “arremedo” da estocada, com uma espada falsa, “não estesia nem ergue o coração do espectador: é um desengano parecido com o de alguém que estando a ver ungir um sogro rico, súbito ressurge o tipo dentre os azeites bentos do padre – e adiada a herança para quando o tempo o permitir!” A culpa radicava na nossa “hesitação de não fazermos nada completo, nesta cobardia de, primeiro que nos abalancemos a qualquer coisa, cogitarmos no que dirá a opinião de nós, o estrangeiro, o homem da tenda, o vizinho”.
Cortante, burlesco, indigesto, terror de “faniquentos” e “chochinhas”, eis Fialho de Almeida n’ “Os Gatos”, a propósito das tentativas de proibição do espectáculo tauromáquico. O escritor de Vila de Frades, que morreu faz agora um século, apreciava as corridas de touros e dedicou-lhe múltiplos escritos, nos quais expressou os seus pontos de vista sobre a sociedade portuguesa de finais do século XIX, com acutilância e inventividade linguística. Ou não fosse ele próprio “um ser vigoroso e taurino”, como o definiu António Cândido Franco numa entrevista recente ao “Diário do Alentejo”.
Seria Fialho dos aficionados que compareciam religiosamente aos domingos na praça do Campo de Santana e depois na do Campo Pequeno? Não se sabe. O certo é que a sua escrita sobre a matéria denota conhecimento de causa e agudeza de análise. O Fialho que escreve na revista “Sol e Sombra” sobre “O Problema Taurino”, não é um diletante, mas sim alguém que identifica certeiramente os males que corrompiam os festejos taurinos em Portugal - que não eram, bem vistas as coisas, muito diferentes dos que afligiam o País. As críticas do escritor alentejano ao ambiente tauromáquico e seus protagonistas acabam por ser uma extensão da crítica cerrada com que mimoseou a toda a sociedade do seu tempo.
Nos seus escritos taurinos, Fialho lamenta amargamente a decadência da bravura dos touros portugueses, equivalente ao declínio das elites nacionais. “As raças que há, tirante a Palha Blanco, afalcoam, e dizem os sabedores que a domesticidade secular lhes corrompeu o tipo, o sangue e o génio impetuoso, por uma civilização semelhante à que fez resvalar a cavalaria de Cristo do guerreiro san-graliano do século XIII, ao boticário eleitoral do século XIX”, escreve em “À Esquina”.
De toureiros não andávamos melhor. “Sangue toureiro, propriamente, não há”, proclama Fialho. “Essa efervescência selvática, que foi nos séculos heróicos de Portugal uma como derivante da vida máscula das viagens e das batalhas, sobras de força, esbanjadas pela mocidade em jogos atléticos e simulacros de combates, tem-se perdido quase por completo, desde que a aristocracia hipotecada e expulsa dos seus coutos, veio para a cidade aposentar os filhos em bêbados da Tendinha, fiscais da alfândega ou pretendidos de meninas ricas com avaria.” Denotando uma notável capacidade de antecipação, Fialho aconselha alguns aristocratas que toureavam como amadores a porem de parte preconceitos de classe e a profissionalizarem-se. António Perestrelo, Simão da Veiga ou Duarte Pinto Coelho, “lá poderiam, posto de banda o preconceito de que picar toiros é modo de vida humilhante, deixar pudores fictícios que os recluem num simples diletantismo, e entrar francamente na vida do trasteio, prestes a fazerem dela instrumento de glória e de fortuna.” O futuro deu-lhe razão: no século XX, o toureio mostrou-se incompatível com amadorismos, excepção feita aos forcados, e seguiu o caminho da profissionalização.
Aos forcados dedica Fialho palavras azedas. De facto, a grande maioria dos pegadores de touros do século XIX eram homens que viviam nas margens da sociedade e que encaravam a actividade apenas como forma de ganhar alguns cobres. Segundo o sociólogo José Machado Pais, os forcados pertenciam a uma "marginalidade socialmente integrada”, formada por “prostitutas, fadistas, marialvas, toureiros, boleeiros, vagabundos e marinheiros.” Alcoólicos muitos deles, arrastavam para as praças a decadência e a miséria que suportavam no seu dia-a-dia. Pelo contrário, para Fialho a pega devia ser uma mostra de masculinidade e destreza. “Em vez de oito borrachões injectados de estupidez, envelhecidos em tombos, fazendo vida de gladiadores sórdidos, e morrendo quase todos do deboche adstrito às semanas de ociosidade, por que não faremos das pegas um certame de vida máscula, com inscrição facultada a todos os rapazes destemidos, aos clubes de desportismo atlético, aos jovens ginastas e traga-balas da cidade?”
A questão dos touros de morte punha-se já no tempo de Fialho. Nesta matéria, a posição do autor de ”O País das Uvas” não deixa margem para dúvidas: é abertamente favorável à corrida integral. “Sorte de morte. Querem-na todos, e ninguém toma a iniciativa de pedi-la, e legiferante algum se atreve a decretá-la.” O “arremedo” da estocada, com uma espada falsa, “não estesia nem ergue o coração do espectador: é um desengano parecido com o de alguém que estando a ver ungir um sogro rico, súbito ressurge o tipo dentre os azeites bentos do padre – e adiada a herança para quando o tempo o permitir!” A culpa radicava na nossa “hesitação de não fazermos nada completo, nesta cobardia de, primeiro que nos abalancemos a qualquer coisa, cogitarmos no que dirá a opinião de nós, o estrangeiro, o homem da tenda, o vizinho”.
Mesmo assim, reconhecia Fialho, as corridas de touros “são o único espectáculo alegre do país, o único onde o português tem graça, e onde os seus instintos satíricos, tomando forma de insectos, por toda a parte vão mordendo os cachaços do ridículo, entre risadas e bromas de cair.”
(Texto originalmente publicado na edição de 26-08-2011 do "Diário do Alentejo")
quinta-feira, 7 de abril de 2011
quarta-feira, 30 de março de 2011
quinta-feira, 3 de março de 2011
Pepín Martín Vázquez (1927-2011)
Para uma apreciação do grandioso toureiro há poucos dias desaparecido, nada como ler Domingo Delgado de la Cámara.
quarta-feira, 2 de março de 2011
De Henrique Rego a El Espartero, passando por Gallito e Marceneiro
Completaram-se há dias 120 anos sobre o nascimento do grande fadista Alfredo Marceneiro. Muitos dos seus fados foram escritos pelo poeta popular Henrique Rego, seu compadre, e transformados em sucessos pela inimitável voz de Marceneiro. De Henrique Rego (1885-1963) é o fado «Sangue na Arena», gravado por Rodrigo. É um fado de tema taurino, inspirado na morte do diestro Manuel García, El Espartero, colhido pelo touro Perdigón, de Míura. As quintilhas do poeta são fiéis ao imaginário tauromáquico que preside a este género de composições: uma tarde soalheira de domingo; rosas que caem na arena atiradas por belas mulheres; touros bravos e fortes; um espada garboso, viva silhueta dum gladiador romano, mas que no final é vencido pela morte. O fado contém apenas uma incongruência. É a referência à praça de Talavera como cenário da desgraça de Espartero («Domingo de Primavera/Belo, festivo e risonho/A praça de Talavera vibrava de amor e sonho»). Com efeito, Manuel García morreu na arena de Madrid, em 1894. Quem morreu em Talavera de la Reina foi, sim, José Goméz Ortega, Gallito, corria o ano de 1920. Em data que se desconhece, Henrique Rego terá sabido da morte de um famoso toureiro em Talavera, e, no seu afã de o homenagear, tê-lo-á confundido com El Espartero. Fica a intenção do talentoso poeta e um fado que consagra o toureiro como herói popular. (Na imagem, Henrique Rego)
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